Aumenta presença de garimpeiros na terra indígena Yanomami, alerta coordenador de ONG
2005-12-20
A presença de garimpeiros na terra indígena Yanomami é um problema antigo, que vem se agravando nos últimos dois meses. A afirmação foi feita pelo coordenador-geral da organização não-governamental (ONG) Serviço e Cooperação com Povo Yanomami (Secoya), Sílvio Cavuscens, em entrevista à Radiobrás.
— Alguns garimpeiros estão se aproximando das aldeias, entrando em confronto com os indígenas, trazendo doenças e prejudicando o meio ambiente. Há profissionais de saúde que deixaram a área, amedrontados, e se recusam a voltar - disse Cavuscens.
Na terra indígena - uma área de 9,6 mil hectares nos estados de Roraima e Amazonas, homologada em 1992, na fronteira com a Venezuela – vivem cerca de 12 mil indígenas das etnias Yanomami e Yekuana.
— Em 1993 aconteceu o massacre da Haximu. Na época, havia cerca de 10 mil garimpeiros na área. Com a repercursão internacional do caso, o governo se mobilizou e expulsou os invasores, mas eles voltaram - contou Cavuscens.
No massacre daquele ano, um grupo de garimpeiros matou 16 indígenas a tiros e golpes de falcão – a maior parte das vítimas eram idosos, crianças e mulheres. Cinco garimpeiros foram condenados por homicídio.
As terras indígenas pertencem à União, mas são de posse e usufruto exclusivo dos povos indígenas. Por isso, caberia à Polícia Federal expulsar os garimpeiros da área.
— A Polícia Federal disse que estava sem efetivo para agir e que poderia entrar na área apenas em fevereiro. Tivemos informações de que ela sobrevoou a região e jogou panfletos aos invasores, nos quais informava que eles estavam cometendo um crime. O resultado disso foi que eles passaram a ser mais cautelosos, desmontando suas barracas de lonas azuis e se escondendo na floresta - afirmou Cavuscens.
O superintendente da Polícia Federal em Roraima, Ivan Herrera, confirmou o sobrevôo e a panfletagem, realizados há cerca de 20 dias. Entretanto, não informou se - nem quando - os policiais federais entrarão na terra indígena.
— Entre sábado e domingo apreendemos no município de Alto Alegre um quilograma de ouro e cerca de 50 quilates de diamantes que estavam com sete garimpeiros. Essa também é uma maneira de combater o problema - disse ele.
Segundo o administrador regional substituto da Fundação Nacional do Índio em Boa Vista, José Raimundo Batista da Silva, entre julho e outubro, a Funai mapeou as pistas de pouso dentro da terra indígena Yanomami, utilizadas pelos garimpeiros.
— Fizemos um plano de trabalho conjunto com o Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis] e a Polícia Federal. Estamos aguardando verba para executá-lo - revelou.
José Raimundo ressaltou, no entanto, que não há previsão de quando a operação de expulsão dos garimpeiros vai ocorrer.
— Mesmo que houvesse, eu não poderia divulgá-la, para não alertar os criminosos - acrescentou. (Agência Brasil,19/12)