Chegam as superhélices do primeiro cataventão da usina eólica de Osório
2005-12-19
Já estão no canteiro da obra as três hélices do primeiro catavento da usina eólica de Osório, no litoral norte do Rio Grande do Sul. Elas chegaram no sábado (17/12) debaixo de um esquema especial de transporte. Cada pá exigiu uma centopéia de 40 metros de comprimento e ainda assim ficou sobrando uma ponta de uns cinco metros na traseira desse supertruck.
Também já está posicionado o gigantesco guindaste – pode-se ver de longe, muito longe: até da BR-290 (Free Way) --que será usado na montagem da torre de 98 metros em cima da qual se acoplará o gerador de 2 MW.
Ainda faltam alguns dias, mas aproxima-se um dos momentos cruciais da história da construção da maior usina eólica da América Latina: para a delicada operação de montagem do gerador no alto da torre, a Archel Engenharia vai precisar de vento zero -- ou quase isso.
Se o nordestão soprar três dias como de costume, os técnicos vão ter de ficar de braços cruzados esperando a calmaria. E aí pode pintar mais um atraso no cronograma. Inicialmente, o primeiro catavento funcionaria em dezembro deste ano; com o atraso provocado pelas chuvas e, principalmente, pela demora na liberação do financiamento pelo BNDES (só assinado no dia 5 de outubro), a operação inicial está prevista para o final de janeiro de 2006, com festa para o presidente Lula, o governador Germano Rigotto e o prefeito Romildo Bolzan Jr.
Trabalhando até sábados e domingos, as equipes construtoras conseguiram recuperar boa parte do atraso provocado pelas chuvas do início da primavera. Passados dois meses desde o início das obras, todo mundo já se familiarizou com o projeto, que engrenou e virou rotina nos varjões do sul de Osório, onde se espalham as placas de sinalização da Elecnor, dona da usina. Até os guardas, antes tensos nas guaritas, já não estranham a chegada de curiosos que se aproximam com perguntas na ponta de língua. A maior curiosidade é sobre a profundidade dos alicerces das 75 torres.
A pergunta faz sentido porque o estaqueamento de obras de engenharia, mesmo as mais simples, costuma dar dores de cabeça no litoral norte do Rio Grande do Sul. Em residências construídas perto das lagoas que abundam na região, usam-se estacas de até sete metros; em áreas arenosas – por incrível que pareça, a areia oferece mais firmeza, graças à abrasão --, pode-se recorrer ao sistema de sapatas ou sapatas corridas, que dispensam maior profundidade. Mas no caso das torres eólicas, que pesam 800 toneladas e precisam resistir ao impacto dos ventos e às tensões geradas pela rotação das hélices, as estacas podem passar de 30 metros de fundura.
Pelo tamanho, ineditismo e complexidade da obra, a população de Osório acompanha com atenção o desenrolar do empreendimento, mas não compreende que o preço da energia elétrica vá permanecer o mesmo, sem beneficiar pelo menos os moradores de Osório, “a capital dos bons ventos”.
Sempre que são cobrados sobre esse paradoxo, os técnicos da Elecnor explicam que não têm nada a ver com o preço, pois a energia gerada pelos cataventos será entregue à CEEE, que a colocará em sua rede. Em resumo, dizem os produtores, a energia dos ventos de Osório será útil à população gaúcha por dois motivos principais: 1) tornará mais seguro o abastecimento geral, sobretudo se entrar na rede da CEEE nos horários de maior demanda (final da tarde/início da noite); 2) aumentará a eficiência do abastecimento nos períodos de pós-estiagem, quando as hidrelétricas precisarem economizar água em suas represas.
Por Geraldo Hasse, direto de Osório para O Diário dos Ventos, série exclusiva para o Ambiente Já e Jornal Já.