Procuradores da República de nove municípios começam investigar plantio de florestas exóticas no Estado
2005-12-19
Procuradores da República de nove municípios do Rio Grande do Sul criaram na
semana passada um grupo de trabalho para investigar a situação relativa ao
plantio de florestas exóticas no Estado, bem como a possibilidade de eventual
impacto ambiental em Unidades de Conservação Federal, que são bens da União. A
investigação será feita simultânemente pelas procuradorias da República de Porto
Alegre, Rio Grande, Santa Maria, Santana do Livramento, Santa Cruz do Sul,
Caxias do Sul, Erechim, Uruguaiana e Bagé.
De acordo com os procuradores da República Carolina da Silveira Medeiros e
Carlos Eduardo Copetti Leite, no primeiro momento serão levantadas informações,
a partir de estudos realizados por especialistas na área e de autoridades, sobre
possível impacto ambiental que possa ser causado ao Estado com o anúncio de um
megainvestimento na indústria da celulose para o plantio de grandes áreas de
florestas exóticas na metade sul do Estado.
Vários levantamentos técnicos anexados ao procedimento administrativo mostram os
riscos que poderão advir ao ecossistema com a moncultura dessas árvores. – O
professor Eduardo Lapport, da Universidade Federal de Camahue, em Barriloche
(Argentina), por exemplo, em estudo publicado na revista Ciência Hoje, constatou
que as espécies exóticas podem causar prejuízos sobre ecossistemas naturais e
antrópicos, pois para cada exótica introduzida diminui o espaço para as nativas,
aumentando os riscos de extinção de populações e eventualmente de espécies.
Já, o professor de botânica pela UFRGS Paulo Brack, ressalta que a questão das
espécies exóticas, em especial o pinus, está ganhando dimensão crescente e
extremamente preocupante, com conseqüências cada vez mais prejudiciais a nível
ambiental e econômico no Rio Grande do Sul. O Inventário Ecológico sobre o
Cultivo de Eucalipto, feito pela Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais, em
1991, mostra que essas árvores interferem no reabastecimento da umidade do solo
e realimentação dos mananciais. – Além disso, quando plantadas em terras
agrícolas férteis e exploradas em curtas rotações, destróem as condições de
produtividade biológica, a fertilidade do solo e a capacidade futura de produção
de alimentos onde foi instalada-, diz.
Diante das evidências levantadas, os procuradores da República estão
requisitando informações, entre outros, à chefe do Parque Nacional da Lagoa do
Peixe e ao secretário Estadual do Meio Ambiente. Também é solicitado que a
Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luís Roessler (FEPAM) encaminhe
cópias dos Estudos de Impacto Ambiental realizados relativamente a esses
empreendimentos, de todas as licenças ambientais expedidas para a realização dos
plantios, além do mapeamento das áreas de plantios de exóticas no Estado que
sejam do conhecimento do órgão, com a indicação dos responsáveis. Eles
solicitaram, ainda, que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) informe sobre o financiamento das atividades de plantio e cultivo de
florestas exóticas. (MPF/RS, 15/12)