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2005-12-19
A edição de Zero Hora do último dia 14/12 traz uma foto que certamente comoveu seus leitores. Expostos sobre uma mesa, 48 cardeais mortos. Os pássaros congelaram no freezer de um casal de traficantes de animais silvestres, presos, com outros oito membros, pela Operação Trinca-Ferro, coordenada no RS e mais quatro Estados por Ibama, Polícia Ambiental da Brigada Militar e Polícia Federal. Foi a primeira vez, no país, que desbaratamos uma quadrilha internacional de tráfico daqueles animais.

Os cardeais, vítimas de encomenda frustrada, não são caso isolado. Mesmo para nós, que vimos um pouco de tudo em matéria de crueldade, a cena chocou.

Adultos traficando aves, sagüis, tartarugas sugere um prosaísmo que esconde uma barbárie: para cada animal que chega ao comprador final, nove morrem no caminho, vítimas de maus-tratos. Já flagramos flamingos contorcidos dentro de meias femininas, papagaios e tucanos sufocados em porta-malas, animais dopados para evitar ruídos, pássaros com olhos furados para cantar melhor .

Os cidadãos precisam se lembrar desse holocausto quando o Ibama apreende animais sem registro, privando seus donos da convivência . No papel de gestor, o Ibama apenas cumpre a lei (para todos), sob pena de sofrer ele próprio conseqüências jurídicas. Logo, o Ibama não é, nunca foi, um vilão . Mesmo assim, aquelas apreensões costumam correr o país como uma lágrima, sem que se questione, ainda, o por trás de uma tragédia ainda maior, promovida por mãos sedentas por dinheiro, sobretudo nos EUA e na Europa, onde uma arara-azul chega a valer 30 mil dólares ou euros. A Lei de Crimes Ambientais, de 1998, e a Lei de Proteção à Fauna, de 1967, proíbem comércio e posse de animais silvestres roubados da natureza. Ainda assim, pessoas insistem, muitas não por maldade, mas por desconhecer a lei, que inclusive lhes permite adquirir aqueles animais, desde que procedentes de criadouros licenciados.

A verdade é que o comprador final alimenta o tráfico, inclusive de armas e drogas, e suas trágicas conseqüências, sobretudo para espécies em extinção, como o curió. Cada região enfrenta seus próprios devastadores. Enquanto na Amazônia o principal objeto do desejo é a madeira, no Sul-Sudeste, é a fauna. Temos uma natureza rica - vasta biodiversidade e patrimônio genético que podem fazer a diferença em benefício do nosso desenvolvimento. Sendo assim, temos obrigação de enfrentar traficantes de toda espécie.

Considerar a questão ambiental como algo menor é condenar o Brasil ao atraso. O país possui dois tesouros: sua natureza e seus naturais - seu povo. Eles são a porta do desenvolvimento. (Cecília Hypolito/ gerente do Ibama no RS, ZH, 18/12)

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