Lula e bispo discutem obras de transposição
2005-12-16
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem à noite o bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, por mais de duas horas e meia, ouviu seus argumentos contrários à obra de transposição do Rio São Francisco, anunciou que se mantém totalmente aberto ao diálogo, mas manteve a decisão de tocar o projeto. Dom Cappio fez greve de fome de 11 dias em setembro e outubro contra a transposição do São Francisco. Acabou dobrando o governo e conseguindo, do presidente Lula, a audiência de ontem.
Ao deixar a audiência com Lula, dom Cappio disse que tinha entendido que a obra ficará suspensa.
— Pelo que entendi do que disse o presidente Lula, enquanto durar o diálogo para uma nova forma de se levar água para o semi-árido, o governo não iniciará a obra - disse. O governo aguardou apenas a saída do bispo do Palácio do Planalto para responder. Coube ao ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, dizer o que, na sua visão, ocorreu na audiência.
— O governo está convicto da justeza do projeto. O presidente Lula quer o diálogo, não marcou data para o início da obra, mas 2006 é absolutamente razoável - disse Wagner.
Ele lembrou, porém, que num processo de diálogo, sempre pode haver mudanças. Contou que o presidente Lula lembrou ao bispo que o governo dialoga sobre tudo o que for técnico, mas não aceita argumentos políticos apenas para o ataque a seus projetos.
— Se o bispo dom Cappio provar que o projeto tem problemas técnicos, vamos discutir isso. Nós temos condições de provar que tecnicamente o projeto é muito bom - afirmou Wagner. O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, um defensor do projeto de transposição, também estava presente.
Dom Luiz Cappio estava acompanhado na audiência pelo presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), dom Tomáz Balduíno, que tem feito sucessivas críticas ao governo, principalmente por causa da reforma agrária que, a seu ver, não está sendo feita.
— Vi no presidente Lula um muro. Acho muito difícil que ele mude - afirmou o presidente da CPT.
Dom Cappio levou três documentos a Lula, todos com propostas alternativas para o São Francisco.
— É de fundamental importância que a democratização do acesso à água seja o tema central do modelo de desenvolvimento a ser discutido. A água é um direito humano fundamental, secularmente negado à população do Nordeste brasileiro, porque as obras hídricas sempre reproduziram o modelo concentrador e excludente - disse o bispo. (O Povo, 16/12)