Censo marinho cataloga 40 mil espécies em 5 anos
2005-12-15
Quanto mais longe e mais fundo os pesquisadores vão, mais criaturas fascinantes eles encontram. Em cinco anos de navegação pelos mais diversos oceanos, o projeto internacional Censo da Vida Marinha já construiu um banco de dados com 8,4 milhões de registros biológicos, referentes à ocorrência de mais de 40 mil espécies.
A meta de dez anos é catalogar e estudar a distribuição de todos os organismos marinhos do planeta - ou, pelo menos, todos aqueles que os cientistas conseguirem capturar ou fotografar.
— Estamos confiantes de que teremos um censo até 2010, e que ele terá um impacto significativo sobre o nosso conhecimento dos oceanos - disse o pesquisador chefe do projeto, Ron ODor. — Com essa representação, esperamos que seja possível projetar qual é, de fato, a biodiversidade marinha total do planeta.
O censo divulgou nesta quarta-feira destaques dos primeiros cinco anos do projeto, que envolve 1.700 cientistas de 73 países, entre eles o Brasil.
Os ecossistemas já estudados incluem desde beiras de praia até planícies abissais e os oceanos gelados do Ártico. E os organismos vão dos grandes peixes até os microrganismos do leito oceânico, além de mamíferos, aves e répteis.
Uma prova da imensidão do mar é que as 40 mil espécies catalogadas ainda representam menos de 20% das 230 mil espécies marinhas já descritas na literatura científica - que, por sua vez, podem representar apenas 10% das espécies existentes.
Os dados estão sendo organizados no Sistema de Informações Oceânicas Biogeográficas (Obis), uma mega biblioteca virtual que engloba 60 bancos de dados em todo o mundo.
O Brasil entrou para a rede em julho deste ano, com uma área de cobertura da Guiana até o litoral norte da Argentina. Entre os dados já disponibilizados estão 2.811 registros de espécies de invertebrados marinhos levantados pelo programa Revizee.
— São dados importantes para estudos comparativos de ocorrência de espécies - disse o coordenador do Obis para o Brasil, Fábio Lang da Silveira, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP).
Um dos destaques do censo em 2005 são os resultados do rastreamento migratório de grandes animais, como tubarões e tartarugas. Um atum marcado com chip cruzou o Pacífico três vezes em menos de dois anos, percorrendo 40 mil quilômetros.
Em outro estudo marinho, que está sendo publicado nesta quinta-feira na revista Nature, pesquisadores documentaram uma espécie de lula carregando um grande saco de ovos a mais de 2.500 metros de profundidade na costa da Califórnia - um hábito reprodutivo até agora desconhecido entre lulas. (Estadão Online, 14/12)