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2005-12-14
Na segunda-feira (12/12), durante a realização da II Conferência Nacional do Meio Ambiente, jornalistas, editores e diretores de agências ambientais discutiram o papel da comunicação ambiental na construção das políticas públicas de meio ambiente e na formação da opinião pública. Esta temática do debate sobre Mídia, Política Ambiental e Opinião Pública foi proposta pelo Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais (FBOMS). O debate foi mediado pelo jornalista Juarez Tosi, da Ecoagência Solidária de Comunicação Ambiental.

O editor do Jornal do Meio Ambiente, Vilmar Berna destacou que o jornalismo ambiental é muito importante para a cidadania ambiental global, mas está numa encruzilhada. – O ser humano sempre usou o planeta como um grande armazém que tudo provê e como um grande depósito sem fim de nossos restos; isso trouxe progresso, sem dúvida, mas precisamos ter em mente que um novo modelo de desenvolvimento é necessário. Precisamos aprender a viver com o planeta Terra e não contra o planeta-, lembrou.

– O papel da mídia nesse momento é fundamental, pois ela vai possibilitar que, através da informação de qualidade, em quantidade suficiente, vá permitir que a sociedade faça escolhas corretas entre um modelo insustentável e sabidamente predatório e um modelo sustentável. Sem informação, a sociedade não tem como decidir, pois a informação vem sendo negada à sociedade através de diversas formas: ela não tem acesso ao plano de mídia, a informação é sedimentada apenas no bicho e na planta, excluindo o ser humano-, enfatizou Berna.

Berna entende que a mídia não tem conseguido passar isso para a sociedade, que, segundo ele, precisa receber informação com qualidade e quantidade para poder ter instrumentos para colocar em prática esse novo modelo de consumo, que vai atender às nossas necessidades, sem prejuízo para o atendimento das necessidades das gerações futuras , como definiu muito bem a dinamarquesa Gro Brundtland o conceito de consumo sustentável. O papel do jornalista, segundo Berna, é muito importante. – Há inúmeras publicações sobre temas diversos, como jardinagem, Feng Shui etc, mas não há uma que reflita sobre a complexidade ambiental do Brasil-, explicou. – O homem ainda hoje se exclui do meio ambiente. Ele acha que a questão ambiental é importante, mas como não é estratégico, para ele também não é relevante-, frisou.

O editor do JMA ressaltou ainda que foi entregue uma moção ao Secretário Executivo do Ministério do Meio Ambiente, durante a II CNMA, solicitando a implementação do Grupo de Trabalho de Informação Ambiental, que já está criado desde 2004, mas nunca foi instalado. Para Berna, cada município deveria ter um órgão que atendesse ao desafio que todos nós jornalistas ambientalistas temos, que é o de falar para a sociedade e não apenas para nós mesmos.

Berna considera um absurdo que a mídia ambiental esteja competindo com a Veja, Rede Globo etc, pois, segundo ele, não interessa a uma grande empresa poluidora anunciar em uma mídia que a critica . Por fim, Berna defende que 5% das verbas com publicidade do governo devem ir para mídias ambientais.

Francisco Costa, do Programa de Educação Ambiental do Ministério de Meio Ambiente, explicou que a Portaria ministerial 68, de 31 de julho de 2004, que trata da democratização da comunicação, instituiu o Grupo de Trabalho sobre Comunicação e Informação Ambiental, formado por representantes do MMA, do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis), de redes e núcleos de jornalismo ambiental e científico, de organizações não-governamentais e instituições de ensino. Este GT tem como objetivo elaborar uma proposta e diretrizes de política, instrumentos e ações para fomentar a produção, a difusão e a democratização da informação ambiental no país.

Costa lembrou do Programa Nacional de Educomunicação Sócio-Ambiental e falou sobre a importância de aproximar o GT de Comunicação e Informação Ambiental do grupo de educação ambiental. O texto informativo também pode ser educativo, e o texto educativo pode ser agradável. Ele reconheceu que é preciso um pouco de pressão para fazer este GT funcionar, mas lembrou que há interlocutores e apoiadores dentro do Ministério para isso.

A jornalista e doutora em Sociologia Maristela Bernardo disse que o tensionamento permanente na sociedade em tudo que diz respeito à comunicação e ao meio ambiente torna necessário que se discuta estrategicamente a comunicação, reconhecendo que isso nunca foi colocado como prioridade . – A comunicação faz parte de um jogo de poder; é um instrumento de todos, daí a importância da grande mídia-, enfatizou Maristela. Ela explicou que o trabalho da informação ambiental muitas vezes é um trabalho que deve ser feito com uma determinada comunidade pelas organizações, para tentar passar para o poder público quais são as necessidades da comunidade.

– Muitas pessoas não sabem o mínimo, como por exemplo, qual é o papel do prefeito, do vereador etc. Não sabem quais são os seus direitos e deveres básicos porque não têm sequer o direito à informação, porque não têm educação básica ou apenas uma educação perversa que sequer lhes permite saber ler-, ressaltou. Para Maristela, é importante incluir em todos os projetos um componente de comunicação estratégica e explorar todas as possibilidades que a comunicação tem de receber a informação e de transforma isso em benefício para sua comunidade.

Durante o debate com os palestrantes, o padre Ermanno Allegri, diretor da Agência de Informação Frei Tito para a América Latina (Adital), sediada em Fortaleza, Ceará, solicitou que fosse vista a possibilidade de descentralização da Secretaria de Comunicação do Governo (Secom), pois esta distribui a verba da comunicação para a grande mídia. – Todos os veículos que criticam o governo vivem com água na garganta, sem saber se vai poder continuar seu trabalho no próximo mês-, lembrou Ermanno, ressaltando que a Adital é reproduzida por centenas e centenas de outros veículos no Brasil e no mundo.

O jornalista Edgard Patrício, da ONG Catavento, de Fortaleza, reclamou a participação do semi-árido no Grupo de Trabalho sobre Comunicação e Informação Ambiental e lembrou que acaba de ser criado o Núcleo de Ecojornalistas do Semi-Árido.

Maristela Bernardo declarou, respondendo ao questionamento do diretor da Adital, que é necessário acabar com a excrescência , que é destinar uma verba muito maior para a propaganda de governo do que para a educação e a saúde. – Esta medida é imoral, autoritária e fascista; que essa verba seja usada para a educação, que gere saúde, educação e qualidade de vida para todos e, com uma proposta da sociedade, isso pode acontecer-, enfatizou. (Adital, 13/12)

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