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2005-12-14
Críticas ao governo e as dificuldades do mercado de florestas em projetos de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) foram algumas das idéias destacadas ontem (13/12) pelo engenheiro florestal e professor da UFPR (Universidade Federal do Paraná) Carlos Sanquetta, no último dia da Dupla Jornada Tratado de Kyoto, MDL & Mudanças Climáticas , que havia iniciado na segunda-feira (12/12).

O especialista fez questão de explicitar, já no início de sua exposição, a diferença existente entre os termos reflorestamento e aflorestamento, baseada em conceitos da ONU (Organização das Nações Unidas) por meio de seu órgão de controle de mudanças climáticas, a United Nations Framework Convention on Climate Change, mais conhecida pela sigla, UNFCCC. Os documentos afirmam que o reflorestamento se refere ao plantio em áreas onde antes havia árvores e, por algum motivo (antrópico – relacionado a ação humana – ou não), foram devastadas. Já o aflorestamento é a introdução do plantio em regiões que nunca foram plantadas ou o foram em tempos remotos. Embora distintos, existe uma semelhança básica entre os processos: os dois devem ser induzidos pelo homem.

– Infelizmente, as conservações nativas não estão no programa do protocolo de Kyoto. Mas eu sinceramente espero que um passo nesse sentido possa ser dado logo-, ressalta o professor. Hoje, somente as florestas plantadas podem ter projetos de MDL e, ainda assim, de uma forma muito discreta. A participação nesse mercado de CREs [Certificados de Redução de Emissões] é baixa ainda, apenas 4% do total.

Dificuldades dos projetos
Declarando-se um defensor das florestas, Sanquetta citou a falta de auxílio governamental como uma das principais razões dessa baixa participação. – Todas as ações estão centradas na política e na estratégia, mas nenhuma no próprio mercado. O governo está olhando de fora para ver o que acontece, é preciso um apoio formal e explícito. Devemos lutar pelo incentivo a essas iniciativas para que se consiga mantê-las em um segundo período de compromisso, a fim de que decolem-, assegura.

Outra dificuldade, segundo ele, se encontra na metodologia, que inclui procedimentos de controle e garantias de qualidade. A primeira aprovada foi uma chinesa, e o resultado da aprovação foi divulgado há apenas alguns dias. – Isso demonstra as barreiras enfrentadas por esse tipo de projeto. Há vários na fila, mas quase todos esbarram nesse item-, explica.

O medo de alguns países, esclarece o engenheiro, também faz com que os projetos não avancem. – Há muitos países que ainda não aceitam esse tipo de programa por acreditar que é de risco, alegando que as florestas podem ser derrubadas a qualquer momento -, diz. Aliado a isso, os custos tornam ainda mais difíceis esses caminhos. Entre as exigências iniciais, por exemplo, está o mapeamento, o inventário (uma espécie de medição de carbono), determinação de teores do elemento e ajuste e aplicação de equações.

– Não se pode iludir ninguém dizendo que esses projetos vão gerar grandes lucros, porque isso é uma mentira. Está errado pensar que, por ter um plantio, alguém ganhará muito dinheiro-, observa Sanquetta. O maior objetivo do mercado, de acordo com ele, é reduzir o lançamento de gases poluentes na atmosfera e contribuir com o desenvolvimento sustentável, como prega o Protocolo. – Os benefícios com a emissão de certificados de carbono são bons para ambos os participantes, tanto os países desenvolvidos como os não-desenvolvidos-, acrescenta

Polêmicas sobre monoculturas de árvores
A respeito da utilidade das florestas plantadas no seqüestro de carbono, o especialista destaca que as árvores promovem um serviço ambiental temporário, da mesma forma como um projeto de MDL. – Não há etiqueta para distinguir as nativas das exóticas. A atmosfera não sabe o que está plantado. O trabalho que as duas fazem é o mesmo. A fixação é temporária mesmo para uma nativa-, defende ao mesmo tempo em que rebate um argumento utilizado pelas ONGs de que as monoculturas de árvores não servem para capturar carbono pela freqüência dos cortes.

O professor afirma, ainda, que pinus e eucaliptos não são vilões . – Reflorestamento não é deserto verde , e sim uma possibilidade de produção de matérias-primas renováveis insubstituíveis e indispensáveis para o bem-estar do homem. Hoje precisamos das espécies exóticas, não podemos viver simplesmente das frutas que caem dos galhos. Há exageros do mercantilismo que quer ganhar dinheiro de qualquer jeito, mas também de ambientalistas ortodoxos demais, que não aceitam alternativas. Com bom senso, a atividade das florestas plantadas pode ser promovida-, conclui.
Por Patrícia Benvenuti

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