Baía da Babitonga: Futuro ameaçado
2005-12-14
Quando criança, Pedro da Rosa acompanhava seu avô, que enchia a canoa de peixes na comunidade pesqueira do Morro do Amaral, em Joinville, e atravessava a Baía da Babitonga até São Francisco do Sul.
Lá, trocava o pescado por mercadorias que a família necessitava, como sal, açúcar e farinha. Este troca-troca acontecia pelo menos uma vez por semana.
Passaram-se mais de 40 anos. Muita coisa mudou na Baía da Babitonga - a principal área estuarina (de encontro entre águas doce e salgada) de Santa Catarina, localizada no Norte do Estado. Pedro, entretanto, segue firme na pesca, ofício que aprendeu com o avô.
A baía, naquele tempo, começava a ser afetada pela poluição, principalmente por dejetos das indústrias da região. Hoje, seus mais de 160 quilômetros quadrados de água estão poluídos, o mesmo acontecendo na extensa área de manguezais ao seu entorno.
Pedro da Rosa é presidente da Colônia de Pescadores Z-32, de Joinville, um dos municípios abrangidos pela Baía da Babitonga, assim como São Francisco do Sul, Araquari, Garuva e Balneário Barra do Sul. Ele diz que está cada vez mais difícil sobreviver apenas da pesca.
— Precisamos procurar outras alternativas de renda - diz. Ele próprio seguiu esta recomendação: possui uma petiscaria à beira da baía, no Morro do Amaral, em Joinville.
Rios poluídos comprometem a qualidade de toda a baía
Os rios que drenam para a Baía da Babitonga (bacias do Cubatão e Cachoeira) estão bem conservados até cruzar pelas grandes concentrações urbanas, após as quais a qualidade das água cai consideravelmente, diz o Atlas Ambiental de Santa Catarina, de 1997. Os principais fatores de pressão, mostra o estudo, são a contaminação por vinhoto e metais pesados (indústrias metal-mecânica, alimentícia e têxtil), extração de areia no Rio Cubatão, destruição da cobertura vegetal e aterros irregulares na bacia do Rio Cachoeira.
Os manguezais estão ameaçados pela poluição urbana e industrial. Outro grave problema é a expansão urbana. Não existem dados sobre as lagoas da região, com exceção da Lagoa do Saguaçu, que está contaminada pela poluição urbano-industrial.
A Universidade da Região de Joinville (Univille) desenvolve estudos desde 1999 na região e, dada à quantidade de projetos e parcerias com outras instituições nacionais e estrangeiras, foi criado o Programa Institucional Babitonga.
O objetivo é desenvolver diagnósticos da atual situação da baía e compreender os mecanismos de funcionamento deste ecossistema, para a sua futura utilização racional.
Mangue, hábitat dos caranguejos
Até o final de dezembro, os pescadores da Baía da Babitonga estão proibidos de pegar camarão, porque é época do defeso - período de procriação e desova. Nas últimas semanas, o que tem aparecido muito é o peixe parati.
Rafael Jacinto e seu filho Luiz Paulo deixam a comunidade pesqueira de Iperoba, em São Francisco do Sul, por volta do meio-dia. Levam a bateira (espécie de barco) nos ombros, até sair do mangue e chegar nas águas da baía, de onde saem para pescar. Cada passo, dentro do mangue, afugenta uma multidão de caranguejos alaranjados, que se destacam no marrom do lodo.
— A gente não pega caranguejo porque ninguém compra. Quem quer comer vem até aqui e cata - explica o garoto Luiz Paulo, 14 anos, que aproveita as férias escolares para ajudar o pai.
Longe dali, no outro lado da baía, no município de Araquari, o pescador João de Oliveira, 52 anos e pai de cinco filhos, sai de casa às 4h para pescar.
— Se tem peixe ou camarão, melhor. Se não tem, pego marisco, siri, caranguejo, o que aparecer. Quem é pobre e tem família grande não pode escolher muito - explica. (Diário Catarinense, 14/12)