(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2005-12-13
A Usina Hidrelétrica (UHE) de Manso está operando desde 2003 com licença ambiental vencida. A afirmação foi feita por representantes do órgão licenciador a secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) de Mato Grosso. Localizada na região do Alto Pantanal e construída no rio Manso na bacia hidrográfica do rio Cuiabá, um dos principais afluentes do rio Paraguai, a usina também é apontada por ambientalistas e 15 mil famílias de ribeirinhos como a responsável pelo desaparecimento dos peixes da região, embora pesquisadores que estudam os impactos da UHE continuem reticentes quando questionados sobre o assunto.

Além de estar contrariando a Resolução 237 do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema), que regula o licenciamento ambiental, a empresa administradora da usina, Furnas Centrais Elétrica, também está descumprindo cláusulas existentes no próprio contrato de concessão de energia, no qual está previsto a caducidade da concessão no caso de irregularidades referentes à legislação ambiental.

Não é a primeira vez que a Usina de Manso vem a tona com polêmicas referentes à questão ambiental, e desde o início de sua construção – planejada na década de 70 e só finalizada em 1999 – ambientalistas e representantes do governo se desentendem sobre os impactos que a obra poderia gerar no pantanal mato-grossense, uma vez que a barragem está localizada justamente em uma região conhecida por ser ponto de desova de espécies como pintados, piraputangas e dourados. Construída com um custo de R$ 340 milhões, o lago da hidrelétrica formou-se a partir da inundação de uma área de 427 quilômetros quadrados – cerca de 5 mil campos de futebol – entre os municípios de Nova Brasilândia e Chapada dos Guimarães. Mas apesar do grande reservatório, que segundo dados de Furnas a UHE tem capacidade de geração de até 212 megawats (MW), a usina produz de forma fixa apenas 97 MW de energia, ou o equivalente a três pequenas centrais elétricas com represamento de áreas até cem vezes menores.

– A Usina já foi autuada umas seis vezes pela secretaria devido ao vencimento da licença ambiental e descumprimento de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Sendo que o último pedido de continuidade ao processo de licenciamento ambiental feito pela empresa administradora da UHE, Furnas Centrais Elétricas, foi em 2003-, explicou a superintendente de Infra-Estrutura Mineração Indústria e Serviços da Sema, Suzan Lanes de Andradade.

Ao ser questionada sobre o porquê da secretaria não ter embargado o funcionamento da Usina, a superintendente afirma que caberia à justiça essa tarefa e não à Sema. – Já autuamos a Usina e fizemos um Termo de Ajustamento de Conduta [TAC] em 06 de julho de 2000, em conjunto com o promotor de Chapada dos Guimarães Jaime Romaquelli. Caberia a ele agora dar continuidade à ação-, explica Lanes. Para Romaquelli a dificuldade de se concluir o processo contra Furnas, referente a UHE de Manso, se deu devido a questões políticas e empecilhos gerados pelo antigo presidente da extinta Fundação Estadual de Meio Ambiente (Fema), atual Sema, Moacir Pires acusado de facilitar desmatamento em Mato Grosso durante a Operação Curupira e afastado do cargo.

– Demoramos quase dois anos para termos acesso aos documentos referentes a Usina Hidrelétrica de Manso, pois apesar do excelente trabalho da equipe técnica, o antigo secretario da Fema [Moacir Pires], colocava inúmeras dificuldades para nosso trabalho. Mas há quatro meses já encaminhei o pedido da ação a Procuradoria Geral do Estado [PGE] para darmos continuidade no processo referente a Furnas. Como o lago da Usina abrange dois municípios, a ação tem que ser feita em nível Estadual e não somente pela comarca de Chapada dos Guimarães que é minha esfera de atuação-, explicou o promotor, lembrando que Furnas já responde por uma multa de cerca de R$ 20 milhões por não ter cumprido o TAC.

O descumprimento do TAC, além de ter gerado autuações pela Sema e pedido de multas pelo MPE também é a razão da falta de licenciamento ambiental para operação da UHE Manso. De acordo com explicação de técnicos da secretaria que acompanharam o processo, Furnas não cumpriu os seguintes termos do acordo: construção de uma Estação Experimental de Psicultura e reformulação do estudo de Zoneamento Ambiental da região de influência da UHE – isto porque o primeiro estudo apresentado foi rejeitado e a realização de programas de recuperação de áreas degradadas que previa o reflorestamento de 100 metros em toda Área de Preservação Permanente (APP) no em torno do lago do reservatório.

Histórica Polêmica
A história da construção da Usina de Manso é herança das faraônicas obras de infra-estrutura planejadas pelo governo militar. A idéia surgiu após uma grande enchente no rio Cuiabá em 1974, na qual milhares de famílias ribeirinhas ficaram desabrigadas. Desde então, começou-se a estudar a implantação de uma barragem na região que unisse um sistema de controle de cheias do rio à geração de energia, na forma de um aproveitamento múltiplo. Termo usado é hoje por Furnas para designar a UHE de Manso: APM Manso, ou Aproveitamento Múltiplo de Manso.

A principal dúvida desde o início da construção da usina era sobre os impactos dessa alteração nos sistemas de cheia do rio Cuiabá, conhecido nas décadas de 60 e 70 como um dos locais mais piscosos do Pantanal. As incertezas sobre sua eficácia e impactos adiaram a construção da usina durante décadas, mas as obras acaram saindo do papel por influência do governador Dante de Oliveira que no final dos anos 90 defendeu a obra como prioritária para o desenvolvimento do Estado, apesar do baixo potencial de geração de energia de Manso.

Impactos, dúvidas e incertezas A característica de contenção dos ciclos de cheia do rio Cuiabá – uma das principais bandeiras dos defensores de Manso – também é um dos pontos mais criticados por ambientalistas e ribeirinhos. – Cheia nunca foi problema para pescador, pelo contrário, tirando os anos de 1975 e de 1995 quando o rio subiu acima da média, sabíamos sempre que depois da cheia quando as águas baixavam, vinha a lufada, reapareciam os peixes e a abundância. Depois de Usina de Manso o rio nunca mais subiu como antes. Sobe, mas bem pouco e a lufada a gente quase não vê mais acontecer na parte alta do Cuiabá. Têm peixe ainda nessa parte do rio, mas muito pouco e geralmente são peixes que ninguém compra, como as curimbas muito ariscas de pegar. Tem que ser bom de anzol-, conta presidente da associação dos pescadores da comunidade ribeirinha de Bom Sucesso, Joel Rodrigues de Amorim.

Um bom exemplo da realidade apontada pelo pescador é a tradicional festa de São Pedro, realizada todos os anos pela comunidade ribeirinha de Bom Sucesso para homenagear o padroeiro dos pescadores. – Antes da Usina fazíamos a festa com os peixes que pegávamos no rio, a comida era distribuída de graça a todos que vinham agradecer à São Pedro pela abundância do pescado. Mas fazem seis anos que precisamos comprar peixe de tanque [criatórios] para fazer a festa, pois, do contrário, a tradição acaba-, lamenta o pescador.

Um relatório conclusivo de quatro anos de monitoramento, encomendado pela própria Furnas e realizado pelo Núcleo de Pesquisas em Limnologia Ictiologia e Aqüicultura (Núpélia) da Universidade Estadual de Maringá, confirmou que durante os dois primeiros anos de formação do lago de Manso os cardumes não fizeram a lufada na região entre a barra do Aricá, rio Cuiabá, até as proximidades do reservatório, no rio Manso. A ausência do fenômeno que atestava a abundância de peixes e reprodução no rio pode ser um indicador de que tal como afirmam os pescadores, algo errado está acontecendo nos rios Manso e Cuiabá.

– Não podemos nos esquecer que durante os anos de 2000 e 2001 tivemos um longo período de seca no país, o que somado ao fechamento das comportas da Usina fizeram com que os cardumes não subissem o rio Cuiabá, desovando também fora das regiões de costumes-, explica o especialista em ecologia de peixes Ângelo Antonio Agostinho, coordenador da pesquisa do Núpelia em Manso. Para o pesquisador, ainda é necessário mais algum tempo de estudos para se medir a dimensão do problema. – O que aconteceu em relação as desovas de 2000 e 2001 será sentido a partir de agora, quando os peixes que deveriam ter se reproduzido naqueles anos atingirem a idade adulta. Caso seja comprovada uma diminuição das espécies, haverá também a comprovação de impacto ambiental-, afirma Agostinho.

O pesquisador explica que a grande dificuldade de se chegar a um parecer mais concreto sobre as pesquisas que o Nupélia vem desenvolvendo é a ausência de um estudo preliminar. – Não temos informações científicas de como era a realidade dos rios Cuiabá e Manso antes da UHE. O que sabemos são dados de depois de 2000, quando as comportas já estavam fechadas-. Isso porque não há nos Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima), dados mais profundos sobre o comportamento da ictiofauna da região. A lacuna no Eia/Rima – que mesmo assim foi aprovado pela extinta Fema – é um dos principais obstáculos para se medir hoje o grau do impacto gerado pela construção da Usina Hidrelétrica de Manso, que segue comercializando sua energia gerada sem Licença Ambiental para Operação.

O outro lado Segundo explicações da assessoria de imprensa de Furnas, as afirmações da Sema e do MPE estariam equivocadas. Ao ser questionada sobre a ausência de licença ambiental para operação da Usina de Manso, a assessoria de imprensa afirmou que o processo de regularização ambiental encontra-se em análise na Sema para a renovação da licença de operação . Sobre o descumprimento do TAC: – Com relação a esses dois programas [ictiofauna e zoneamento ambiental], informamos que Furnas tem cumprido o que foi pactuado com a Fema, bem como promovido discussões técnicas, com aquiescência e presença de técnicos da Fema, na busca de soluções para atender às solicitações dos pareceres daquela fundação, cujo atendimento não depende só de Furnas-. Em relação à ausência do programa de recuperação de áreas degradadas, a assessoria de imprensa contestou a afirmação da secretaria, alegando que o programa estaria em curso, tendo seus relatórios encaminhados à Sema. (Estação Vida, 09/12)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -