Ambientalista cobra empenho do governo para aprovar projeto da mata atlântica
2005-12-13
O diretor da organização não-governamental SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani,
está em Brasília para participar da 2ª Conferência Nacional do Meio Ambiente.
Ele diz que pretende pressionar os representantes do governo e do legislativo
pela aprovação do projeto de lei da mata atlântica.
– A mata hoje tem só 7% da sua cobertura original. A cada quatro minutos,
perdemos o equivalente a um campo de futebol. Esse projeto é importante porque
transforma a mata em patrimônio nacional, estabelece regras para o uso
sustentável e fixa os limites do bioma com base em pesquisas recentes-, explica.
– O projeto ainda proíbe a exploração da vegetação primária [aquela que nunca
sofreu depredação] e de setores em regeneração avançada, além de estabelecer
regras rígidas para a exploração de áreas em estágio médio de regeneração-.
De acordo com o ambientalista, o texto da lei tramita no Congresso desde 1992.
Foi aprovado pelo plenário da Câmara no ano passado e, em outubro, chegou a
entrar na pauta do plenário do Senado, em regime de urgência. No dia que ia ser
votado, 27 de outubro, o governo retirou o pedido de urgência para permitir a
ratificação, no prazo limite, da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco.
Agora, o projeto de lei voltou para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
para cumprir os prazos de tramitação de um texto sem regime de urgência. A
votação em plenário deve fica para o ano que vem.
– Na primeira conferência, o governo se comprometeu a aprovar a matéria. Sabemos
que a chantagem da bancada ruralista é grande. Mas vamos chamar a atenção do
governo de novo e esperamos que as lideranças partidárias entendam a importância
de aprovar essa lei-, afirma o diretor da SOS Mata Atlântica. Montavani acredita
que o texto ainda precisará voltar para a Câmara em conseqüência das
modificações feitas pelos senadores.
Outro problema identificado no texto por alguns juristas diz respeito à previsão
de indenizações para moradores ou agricultores que vivem em áreas consideradas
parte do bioma. Eles consideram inconstitucional o artigo 46 da lei, que prevê
concessão de indenizações nos casos em que a proteção da mata resultar em
prejuízo à potencialidade econômica de atividades desenvolvidas hoje na região.
As regras para processos deste tipo já estariam fixadas pela Constituição e
geralmente se restringem ao pagamento da terra e das benfeitorias feitas na área,
deixando de fora indenização por ganhos futuros com a utilização da terra. O
relator do projeto de Lei, senador César Borges (PFL-BA), propõe em seu parecer
que a redação do artigo seja modificada, tornando possível apenas a indenização
em caso de impacto concreto e efetivo à manutenção de exploração lícita e
atual da propriedade .
Para o diretor da SOS Mata Atlântica, caso ainda assim o artigo permaneça
inconstitucional, o melhor é que o projeto siga sua tramitação e seja aprovado
no Congresso em nome do texto como um todo. – Caso seja mesmo inconstitucional,
na hora de sancionar a lei, o presidente veta o artigo das indenizações-, sugere
Mantovani. – Só não dá mais para esperar outra década para aprovar uma lei dessa
importância. Faremos uma mobilização para que a sociedade como um todo
reivindique a aprovação-.
Na mata atlântica nascem diversos rios que abastecem as cidades e metrópoles
brasileiras, beneficiando milhões de pessoas. Além de milhares de pequenos
cursos dágua que afloram em seus remanescentes, a região é cortada por rios
grandes como o Paraná, Tietê, São Francisco, rio Doce, Paraíba do Sul,
Paranapanema e o Ribeira de Iguape, fundamentais na agricultura, na pecuária e
em todo o processo de urbanização do país. O abastecimento de água de grandes
cidades brasileiras depende da preservação desse bioma. (Agência Brasil, 10/12)