Esgoto vira adubo com técnica da Embrapa
2005-12-13
O acúmulo de esgoto no meio ambiente está prestes a ser reduzido. Um novo método, desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), transforma os resíduos sólidos que sobram após o tratamento deste material em adubo, para ser usado na agricultura.
— Isso melhora as condições de fertilidade do solo e reduz a quantidade de material disposto nos lixões e aterros sanitários; que vão receber, então, só o que não tem como ser aproveitado - explicou ao JB Juremi de Oliveira Carvalho, pesquisador do Departamento Saneamento de Saúde Ambiental da Escola Nacional de Saúde Pública.
A técnica, já patenteada, foi elaborada por uma pesquisa realizada no litoral Norte de São Paulo, em um condomínio particular em Bertioga, em conjunto com a empresa Sobloco. Pode ser adotada também por estações de tratamento municipais.
Primeiro, o lodo de esgoto é transferido para uma grande área, onde é esterelizado. Esse material, de consistência pastosa, é o que resta depois que o esgoto doméstico é tratado, e uma grande quantidade de água é retirada e despoluída.
— A etapa de desinfecção, denominada compostagem, é simples. Mistura-se o lodo com poda de árvores e grama. Assim, acelera-se a atividade microbiana do material orgânico, já que as bactérias vão se alimentar dessas folhas. A temperatura na compostagem chega a 60º C, provocando a morte dos organismos patogênicos (nocivos à saúde por causarem doenças) - detalha o coordenador do projeto, Wilson Tadeu Lopes da Silva.
Depois, começa a fase da maturação, com o objetivo de melhorar a qualidade do húmus criado na compostagem.
— Para isso, utilizamos um tipo de microorganismo - conta o pesquisador, sem revelar qual é, pois este é o ingrediente-chave da técnica. - O lodo é rico em material orgânico e nutrientes. Cada estágio demora um mês até ser concluído.
Segundo Carvalho, a grande quantidade de lodo depositada em aterros sanitários e lixões pode causar a contaminação de lençol freático, provocando a veiculação de doenças.
O volume de material a ser processado através do método varia de acordo com a capacidade da instalação. Pode chegar a 20 milhões de litros, por mês.
A transformação de lodo de esgoto em adubo para a terra é uma técnica conhecida há alguns anos, mas segundo Silva, a desenvolvida na Embrapa tem várias vantagens:
— A desinfecção é feita de forma simples e barata. Outros processos que já existem são caros e têm adição de produtos químicos. Alguns utilizam alta pressão e temperatura para a esterilização, o que encarece.
O empreendedor do projeto, Márcio Pereira Borali, informa que, para uma empresa grande, o custo mensal médio da técnica seria de R$ 3 mil, durante 12 meses. Já foram assinados contratos com cinco empresas em São Paulo. Mas, Carvalho faz uma ressalva:
— Em certos centros urbanos, há o problema dos metais pesados. As pequenas empresas de fundo de quintal que fazem banho de cromo e níquel em peças metálicas, por exemplo, acabam jogando esses efluentes na rede de esgoto, de forma irregular. Esse é um problema em cidades grandes como Rio de Janeiro e São Paulo.
Entretanto, de acordo com Ladislau Martim Neto, pesquisador da Embrapa, isso não representa problema, pois no final das etapas o material é analisado, para verificar se o nível de metal - que pode envenenar pessoas - está aceitável. Ainda assim, o especialista sugere que a técnica seja aplicada fora das metrópoles. Cidades como Brasília, por exemplo, não têm tanto despejo clandestino de metais pesados na rede de esgoto. (Jornal do Brasil, 12/12)