Fazendeiros invadem e desmatam terras indígenas no Sul do Pará
2005-12-13
Cerca de 700 hectares de florestas foram invadidos e desmatados por fazendeiros na Terra Indígena (TI) Kayapó, próximo ao município de São Félix do Xingu, no extremo norte da reserva, entre as aldeias Kikretum e Kokraimoro.
As primeiras denúncias da Fundação Nacional do Índio (Funai) à Polícia Federal e ao IBAMA foram feitas há três meses, mas as invasões, além de não combatidas, se intensificaram. Com a ausência de providência por parte das autoridades os índios ameaçam usar a força para garantir a integridade de seu território.
Desde a semana passada, uma comissão da Funai está no local para fazer um levantamento detalhado do estrago provocado pelos fazendeiros e acalmar os índios que ameaçam expulsar os invasores. Imagens de satélite analisadas pelos técnicos da organização não-governamental Conservação Internacional comprovam a existência de áreas desmatadas na TI Kayapó.
A Funai teme que a demora da ação das autoridades no local leve a um conflito entre os índios e os fazendeiros. Em abril de 2004, um conflito na reserva dos índios Cinta-larga resultou na morte de 29 garimpeiros que haviam invadido suas terras. A matança poderia ter sido evitada se o governo tivesse atendido às denúncias que já vinham sendo feitas há pelo menos dois anos.
— Estamos tentando articular, desde setembro, junto ao Ibama e a Polícia Federal, uma operação para tirarmos os invasores da área dos Kayapó, mas não obtivemos nenhum apoio - reclama Eimar Araújo, responsável pela Funai regional de Marabá.
Segundo Araújo, os indigenistas ainda vêm trabalhando para evitar que os índios usem de violência, mas ele teme que com o aumento das invasões os esforços sejam em vão. Nas últimas semanas, algumas lideranças indígenas conseguiram negociar a saída pacífica de alguns invasores da área, mas eles denunciam que passados alguns dias todos estavam de volta nos seus acampamentos.
— Se o Estado brasileiro demorar ainda mais, os índios vão agir da maneira deles. Isto significa que haverá um cenário de violência e conflito com perdas de vidas humanas - alerta Araújo. (Jornal do Brasil Online, 12/12)