Transgênicos: depoimento de ministérios comprova que indústria descumpre a lei
2005-12-12
Foi realizada na quinta-feira (08/12) a audiência pública na Câmara dos
Deputados para apurar uma denúncia do Greenpeace contra a Bunge e a Cargill. As
empresas utilizam soja transgênica na fabricação dos óleos Soya e Liza e os
comercializam sem a devida rotulagem. – Com o depoimento dos representantes dos
ministérios, ficou claro que a indústria não está cumprindo a lei-, declarou
Gabriela Couto, bióloga da Campanha de Engenharia Genética do Greenpeace. – Por
outro lado, o governo também não está cumprindo seu papel de fiscalização-,
complementou.
O Ministério da Agricultura foi convidado, mas não compareceu, o que foi
considerado um insulto à casa pelo Presidente da CDC, Deputado Fleury
Filho (PTB-SP). – O Ministério da Agricultura, que tem responsabilidade primeira
e de maior importância, sendo o encarregado pela fiscalização no campo e no
transporte, deveria se fazer presente neste momento. Ao se eximir do seu papel,
possibilita que a soja seja colhida e comercializada sem que a informação de
transgenia seja passada à cadeia de produção-, disse Gabriela.
A audiência – agendada conjuntamente pela Comissão de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável, e Comissão de Defesa do Consumidor (CDC) – contou
com a participação de um representante do IDEC, Ministério Público Federal,
Ministérios do Meio Ambiente, Saúde e Justiça e ainda com um representante da
ABIA (Ass. Brasileira da Indústria da Alimentação) e ABIOVE (Ass. Brasileira da
Indústria de Óleos Vegetais). Também foram convidados a compor a mesa da
Audiência Pública os Ministérios da Saúde/ANVISA e Justiça, pois estes têm papel
fundamental no controle e fiscalização do cultivo e comercialização de
transgênicos no País.
A audiência foi marcada com base em um dossiê entregue em outubro pelo
Greenpeace a integrantes de diversos órgãos e Ministérios, em Brasília,
denunciando o descumprimento da lei de rotulagem pelas duas empresas e a
ausência dos Ministérios no seu papel de fiscal do cultivo e comercialização de
transgênicos no país. O dossiê trouxe provas documentadas que embasam e dão
credibilidade à denúncia feita pelo Greenpeace na ocasião.
Da Audiência Pública, ficou definido que a Comissão de Defesa do Consumidor vai
pedir esclarecimentos periódicos aos Ministérios encarregados do controle e
fiscalização de transgênicos no país. Dessa forma, as comissões podem acompanhar
as ações integradas de fiscalização para assegurar a devida rotulagem. Apesar de
o Brasil ter uma lei em vigor desde 2004 que determina a rotulagem de produtos e
derivados fabricados a partir de soja transgênica (Decreto de Rotulagem 4.680/03),
a Bunge e a Cargill ignoram a determinação e vendem os óleos sem informar aos
consumidores sua real composição. A obrigatoriedade de informar no rótulo do
produto se os alimentos foram produzidos a partir de matéria-prima transgênica
independe da presença do DNA transgênico no produto final.
– Para enganar os consumidores quanto à natureza do produto, a Bunge e a Cargill
se aproveitam do fato de ser muito difícil de detectar a transgenia no óleo de
soja, uma vez que a cadeia de DNA é destruída no processo de fabricação-, disse
Gabriela Couto. – A legislação brasileira é clara: o consumidor tem direito à
informação plena, sendo papel da empresa garantir-lhes este direito. O
Greenpeace levou a denúncia ao Congresso Nacional acreditando que esta casa
legislativa possa fazer garantir, em última instância, o cumprimento da
legislação brasileira e o papel dos Ministérios, assegurando dessa forma o
direito do consumidor e a proteção da biodiversidade brasileira-, completou.
(Greenpeace, 08/12)