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2005-12-12
A taxa de desmatamento da Amazônia caiu 30,5% de 2004 para 2005, anunciou o governo federal há uma semana. Passou de 27 mil km2 para 19 mil km2 de floresta derrubada, em números redondos. Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, comemorou, mas houve quem dissesse que a festa era prematura. A redução é uma das maiores obtidas, entre as raras quedas desde que o desmatamento começou a ser sistematicamente acompanhado com imagens de satélite pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), nos anos 1980. Ainda assim, a taxa de 2005 é a quinta maior já registrada e apenas reconduz o país ao nível de desflorestamento dos anos 1997-2001, na faixa de 17-18 mil km2.

As cifras de 1995 (29 mil km2 desmatados) e 2004 (27 mil km2) é que foram pontos fora da curva, alguém poderia argumentar. Não é bem assim. O ano de 1995 foi de fato anômalo, sob efeito do Plano Real (1994). Já 2004 foi precedido de taxas crescentes de desmatamento na região, 23 mil km2 em 2002 e 25 mil km2 em 2003.

De qualquer maneira, a marca de 19 mil km2 continua alta. Corresponde à área de quase um Estado de Sergipe inteiro. Pense nisso: um Sergipe de floresta primária derrubada por ano.

Nesse ritmo, não serão necessários cinco séculos para dizimar a Amazônia, como já se fez com a mata atlântica, que tem só 7% da cobertura original. Outra maneira de apresentar a cifra incivilizada é dizer que se destrói anualmente de Amazônia mais ou menos 1/5 do que resta de mata atlântica ao Brasil. Um país, cabe lembrar, que carrega o nome de uma madeira dizimada.

O governo federal sustenta que a queda na taxa de desmatamento decorre de suas intervenções repressivas, como a Operação Curupira, no começo do ano. É uma meia verdade. A repressão à quadrilha de madeireiros e funcionários do Ibama foi deslanchada em reação à morte da freira Dorothy Stang. É duvidoso que encontrasse o mesmo apoio, dentro e fora do governo, sem o sangue estrangeiro derramado. Além disso, as boas intenções e ações de Marina Silva receberam ajuda da conjuntura que encurralou o agronegócio neste ano. Com preços de commodities caindo e custos de insumos subindo, pecuaristas e plantadores de soja pararam de investir na abertura de áreas novas. É difícil saber, hoje, quanto da queda na taxa de desmatamento se deve a uma coisa (repressão) e a outra (descapitalização).

O ano que vem será de eleições, e o governo federal já ensaia abrir o cofre. Deve sair algum dinheiro para a agropecuária, que equilibra a balança comercial e a balança eleitoral. Todos contam que a economia cresça mais no próximo ano. Na Amazônia, isso quer dizer uma só coisa: mais desmatamento. Marina Silva que se cuide, pois vai precisar de muita saliva e transversalidade para segurar os companheiros ministros e repetir o desempenho conseguido em 2005.

Com tantos grãos de sal, porém, ainda sobra motivo e tempo para festa. O desmatamento caiu. Viva. (Por Marcelo Leite, colunista da Folha de S. Paulo, 11/12)

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