Assentamento ocupa área de mata nativa
2005-12-12
Dois de três acampamentos que o MST tem entre Cajamar e Franco da Rocha foram denominados Dom Pedro Casaldáliga (bispo aposentado de São Félix do Araguaia) e Camilo Torres, o padre guerrilheiro que morreu lutando na Colômbia. O terceiro, Acampamento Irmã Alberta, é uma homenagem a uma das freiras que participam do movimento.
— Essas ocupações vizinhas de cidades têm vantagens práticas, afetivas e políticas, pois possibilitam o escoamento da produção, mantêm a ligação com a cidade e facilitam a participação em manifestações públicas - observa o psicólogo José Agnaldo Gomes. É uma experiência que os assentados de Franco da Rocha têm vivido na prática, embora de maneira ainda incipiente.
— Ainda não começamos a produzir o que pretendemos - disse Gaúcho, o assentado mais próspero da comuna. Ele e sua mulher, Ju, ainda não conseguem fazer para o gasto, porque horta e pomar estão em formação.
Além de uma pequena criação de gansos, patos, galinhas e porcos, o casal planta caqui, banana, jaca, pimenta, mandioca, açafrão, batata-doce - tudo o que seu pedaço de terra for capaz de acolher. Cada família pode explorar uma faixa de 1 hectare, ao lado de um lote duas vezes maior destinado à exploração comunitária.
O título da terra dá direito a herança, mas a escritura é coletiva. Ninguém pode vender nem arrendar nada.
Dois terços da fazenda original, cerca de 400 hectares, são ocupados por mata nativa, que os assentados se comprometem a conservar.
— Todos têm consciência disso. A defesa da ecologia é uma coisa que a gente discute nas assembléias - informa Roseli, a coordenadora que, depois de se formar em serviço social, decidiu se mudar para o assentamento com o marido.
— Como 99% do pessoal daqui, eu vim do meio rural - disse ela, lembrando os seus primeiros 15 anos (tem 35), durante os quais viveu com os pais, pequenos agricultores no interior do Paraná.
Salvador de Oliveira, de 56 anos, paulista de Andradina, também lembra sua origem no campo.
— Saí da roça, trabalhei como marceneiro na capital e agora estou recomeçando a vida no Lote Vermelho (o assentamento é dividido em três cores - vermelho, verde e roxo) para plantar o que for possível.
Maria Elizabeth Moura Elias, de 55 anos, que trocou Montes Claros (MG) por São Paulo na década de 70, está na Comuna da Terra desde o começo.
— De meus cinco filhos, uns vêm me visitar e outros não, porque acham que vivo no meio de bandidos, como eles escutam na TV - diz. Na realidade, a história é outra, responde Maria Elizabeth. — Zé Rainha, que eles dizem estar aprontando, não tem nada a ver com nossa vida.
A bandeira do MST marca as colinas da Comuna da Terra , porque foi esse movimento que coordenou os ex-moradores de rua para a invasão da Fazenda São Roque. (O Estado de S. Paulo, 11/12)