Trabalho de conscientização e maior repressão melhoram situação no MT
2005-12-12
A redução de 34% no números de queimadas é uma boa notícia para Mato Grosso, depois de um ano marcado pela revelação de um megaesquema de corrupção e comércio ilegal de madeira, envolvendo autoridades do Ibama e da Fundação de Meio Ambiente do Estado (Fema). A Operação Curupira, lançada em junho, é apontada por ambientalistas como uma das principais razões para a queda na taxa de desmatamento na Amazônia. E, muito provavelmente, para a diminuição das queimadas no Estado.
— Sem dúvida houve uma reação imediata do setor produtivo à Operação Curupira, mas não acredito que seja o principal fator - afirma o secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso, Marcos Machado. Ele cita a própria criação da pasta, em substituição à Fema, como influência decisiva para a redução das queimadas. Um grupo de monitoramento e conscientização, formado por bombeiros, foi criado na Casa Civil, e as queimadas foram proibidas no Estado entre julho e setembro.
Também foi feita uma parceria com o Ministério do Meio Ambiente para o monitoramento do fogo via satélite.
— Fizemos questão de divulgar tudo isso para cada produtor de Mato Grosso - afirma Machado.
INFLUÊNCIA DA SOJA
Sempre que se fala de queimadas e desmatamento em Mato Grosso, uma atividade aparece como a grande vilã: a sojicultura. Um estudo conduzido pelo pesquisador Alexandre Coutinho, da Embrapa Monitoramento por Satélite, mostra que a estrela do agronegócio brasileiro é, de fato, merecedora da fama. Apesar de não estar na linha de frente da devastação.
Coutinho analisou detalhadamente a ocorrência de queimadas nos últimos anos e a relação do fogo com as diferentes atividades econômicas e características geográficas do Estado. Os resultados mostram que as queimadas e o desmatamento estão diretamente ligados a um ciclo de ocupação que começa com o pequeno agricultor, passa pelo pecuarista e acaba com o sojicultor.
O primeiro faz o serviço de formiguinha, abrindo pequenas áreas para a agricultura e pecuária de subsistência. Depois vem o pecuarista profissional, que compra vários terrenos para fazer uma pastagem maior. Alguns anos depois, a pastagem fica desgastada e a terra é vendida para o plantio de soja.
— Essa dinâmica é muito clara. A soja não está na frente, mas impulsiona todo o processo - diz Coutinho. O pequeno produtor e os pecuaristas só continuam abrindo novas áreas porque têm a certeza de que poderão vender a terra mais à frente para a sojicultura. (O Estado de S. Paulo, 11/12)