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2005-12-12
Desde que o primeiro encontro sobre a mudança das condições atmosféricas travou-se, em 1988, as negociações sobre o que fazer a respeito dos crescentes níveis de gases de efeito estufa andaram a um ritmo similar ao da mudança climática em si mesma. O ex-presidente Bill Clinton traçou uma rota em torno do impasse a qual incluiu a crítica gentil daqueles que buscavam alvos concretos, e assim aconteceu também com a administração Bush.

A conferência das Nações Unidas que durou duas semanas e terminou no sábado (9/12), em Montreal, não foi uma exceção. Enquanto os delegados voltavam para seus próprios países, com acordos modestos, de última hora, para manter as conversações sobre como ir além dos tratados ambientais existentes, muitos cientistas e outros que mantêm a rota da mudança climática afirmavam que muito mais ação urgente é necessária.

Resumindo esta visão, James Hansen, diretor do Instituto para Estudos Espaciais Goddard da Agência Espacial Norte-americana (NASA), disse, em uma conferência em San Francisco, na Califórnia, nesta semana, que a continuação da atitude business as usual — ou seja, deixar as coisas como estão — resultaria em algo tão problemático quanto constituir um planeta diferente.

Segundo Hansen, um conjunto de ações poderia ser adotado agora para manter o aumento da temperatura fora da zona de perigo, incluindo grandes cortes nas emissões de metano, um gás estufa emitido por todos, desde dutos até aterros, e poderia haver mudanças no sentido de se usarem veículos com projetos (design) mais eficiente. Mas ele e outros especialistas que vêem o aquecimento como ameaça começaram a se preocupar com o fato de que os esforços existentes, tanto dentro quanto fora dos acordos internacionais, possam não funcionar a tempo.

Em Montreal, o progresso foi medido em incrementos muito tênues. Foi, de fato, dois encontros em um, visando a limitar o aquecimento global sob um par de acordos internacionais separados; a Convenção Quadro da Mudança Climática de 1992 e seu documento resultante, o Protocolo de Kyoto.

Este primeiro pacto, que está em vigor em 189 países, trata de objetivos voluntários para o corte de emissões, excedidas há longo tempo. O acordo de Kyoto, adendo à convenção quadro, que entrou em vigor neste ano, de forma vinculada, apresenta alvos mensuráveis e com cronograma definido para corte de emissões, mas apenas para uma dúzia de países industrializados dentre 160 nações ao todo, em termos de ratificação.

Em Montreal, as partes do Protocolo de Kyoto, sob a pressão da maioria dos países europeus e de grupos ambientalistas, concordaram em iniciar as conversações sobre o que será feito quando o acordo expirar, em 2012. Mas não estabeleceram um prazo rígido, apenas uma meta de concluir as conversações tão logo quanto possível, de forma que novas restrições - se houvesse - entrariam em vigor apenas após as antigas expirarem.

Os Estados Unidos, que não ratificaram Kyoto, gastaram boa parte da conferência opondo-se à linguagem desejada para o início de novas conversações sobre as formas de melhorar a efetividade da convenção quadro original. Nas poucas horas da manhã de Sábado (9/12) destinadas ao final do encontro, os Estados Unidos finalmente concordaram em permitir novas discussões, mas apenas após todos consentirem com a cláusula segundo a qual as conversações serão abertas e não vinculadas e que não serão abertas quaisquer negociações levando a novos compromissos.

Países em desenvolvimento, que sempre foram perdoados de quaisquer obrigações em relação a ambos os tratados, mostraram vontade em ajudar a lutar contra o corte das emissões, embora sem metas. Em novas conferências subseqüentes, guerreiros cansados das conversações, incluindo Margaret Beckett, ministra do Meio Ambiente da Grã-Bretanha e líder da delegação da União Européia, proclamaram sucesso, afirmando ser esta uma grande mudança que ocorreu por trás do cenário, uma mudança da obstrução à cooperação, particularmente entre países mais pobres.

— Para aqueles que de fato tomaram parte nessas negociações, esta é uma melhoria substancial -, disse ela.

Beckett afirmou que o Protocolo de Kyoto criou mercados para créditos de carbono, obtidos pelo corte de emissões, que agora poderiam se expandir para países em desenvolvimento sob vários acordos concluídos em Montreal. Isto poderia ser um motor para a promoção de energias mais eficientes e inovações, acrescentou. — Há um crescente reconhecimento dos custos de não se fazer nada e das oportunidades que vêm com a tomada de decisão -, afirmou Beckett.

Mas um grande obstáculo permanece: a continuidade da distância entre as grandes nações em desenvolvimento, como China e Índia, e as nações gigantes industriais já estabelecidas. Os países em desenvolvimento têm repetidamente se recusado a comprometerem-se com a limitações de suas emissões de gases estufa até que os países industriais já comprometidos façam progressos significativos. Em contraste, os Estados Unidos, a maior fonte de gases de efeito estufa, insistem em que haja um movimento dessas economias emergentes antes de considerar seus próprios cortes.

Enquanto o Senado dos Estados Unidos aprovou uma resolução, no início deste ano, determinando limites obrigatórios, a Casa Branca não se mexeu. E o senador John McCain, republicano do Arizona que lutou para haver modestos cortes nas emissões de gases estufa, disse, em recente entrevista: — A democracia não é muito boa para resolver problemas que aumentam.

Grupos de cientistas e engenheiros estão reclamando investimentos mais agressivos em pesquisa de novas tecnologias que poderiam gerar energia sem emissões.

Mas, investimentos de larga escala são improváveis de se concretizar com uma mudança expressiva nas prioridades nacionais, que ainda estão focadas em maior segurança interna, até mesmo do que em maior segurança energética. Enquanto isto, as emissões aumentaram, da mesma forma que a média da temperatura global. Chegaram ao ponto mais alto em 1998, quando o Oceano Pacífico teve uma de suas anomalias, o El Niño.

Agora, mesmo sem El Niño à vista, 2005 está próximo de ser, sem dúvida, o mais quente ano já registrado na história, afirma o Dr. Hansen. Uma das outras conclusões listadas pelos negociadores ao final da conferência é que deverá haver uma nova contribuição, sob forma de financiamento, aos países em desenvolvimento para que eles se adaptem ao aquecimento. (NY Times, 10/12)

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