FBOMS pede participação da sociedade na Conferência Nacional do Meio Ambiente
2005-12-09
Há poucos dias do início da II Conferência Nacional do Meio Ambiente (CNMA), o
Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento (FBOMS) divulgou uma nota conclamando a sociedade e os
movimentos sociais a participarem da Conferência, que começa amanhã (10/12) em
Brasília.
Na nota, o FBOMS reconhece as dificuldades no processo de condução da II CNMA,
com as suas conferências estaduais e dificuldades de mobilização, além da a
não-implementação de algumas resoluções importantes da primeira Conferência,
como as deliberações contra os transgênicos, a energia nuclear e a transposição
do Rio São Francisco. Mesmo assim, considera este um importante espaço para
construir um ambiente de interlocução e organização dentro do setor
socioambiental e deste com outros setores , e propõe a elevação da
Conferência dentro do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) a instituição
permanente, tornando-a um espaço continuado, e não só um evento pontual de
discussão com dificuldades para seus encaminhamentos práticos .
São esperados 1600 delegados na II Conferência Nacional do Meio Ambiente, com a
proposta de discutir e aprovar propostas em torno do tema Política Ambiental
Integrada e Uso Sustentável dos Recursos Naturais. De acordo com o tema proposto,
a Conferência vai tratar de debater questões como a revitalização do Rio São
Francisco, desmatamento da Amazônia, queimadas, mudanças climáticas, poluição dos
rios e da atmosfera, criação de unidades de conservação, desenvolvimento
sustentável de comunidades tradicionais, quilombolas e povos indígenas, entre
outros de competência do Ministério.
Os assuntos serão abordados dentro dos grupos Biodiversidade e Florestas;
Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos; Água e Recursos Hídricos;
Elementos de uma Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável; e
Fortalecimento do SISNAMA e Controle Social.
Dentre os participantes estarão os delegados eleitos nas conferência estaduais
(sendo 50% de movimentos sociais e ONGs, 30% de empresários e 20% de governos),
delegados natos, ou seja, membros das Comissões Técnicas Tripartites Estaduais,
dos Conselhos Nacionais de Co-Gestão coordenados pelo MMA, do Conama, do
Conselho Nacional da II CNMA e do Conselho de Dirigentes do MMA, e os delegados
setoriais. Ao todo serão 1600 delegados com direito de escolha sobre a Política
Nacional de Meio Ambiente.
Leia a nota na íntegra:
A II Conferência Nacional do Meio Ambiente (CNMA), que será realizada entre os
dias 10 e 13 de dezembro, em Brasília, é um espaço de convergência de entidades
e movimentos em torno da questão socioambiental. Através dela é possível
construir um ambiente de interlocução e organização dentro do setor
socioambiental e deste com outros setores. A Conferência também abre
possibilidades para uma ampla discussão sobre as políticas ambientais do país e,
por isso, é necessário imprimir esforços para democratizar ainda mais este
espaço. Mesmo com falhas durante a sua mobilização, que tem demonstrado ser
insuficiente, a II CNMA deve ser compreendida como parte de um processo de
consolidação do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). Sua efetividade
como espaço de deliberação das políticas ambientais deve ser construída e, ao
mesmo tempo, conquistada.
Reconhecendo as dificuldades no processo da II CNMA, com as suas conferências
estaduais e dificuldades de mobilização, é importante destacar as críticas que
apontam para um aprimoramento do processo como, por exemplo, as referentes à
pouca visibilidade das ações do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Alguns
setores questionam também a não-implementação das resoluções da primeira
Conferência e a falta de transparência na aplicação de políticas públicas. Assim,
as deliberações que foram implementadas, segundo o MMA, ou que estão em processo
de implementação, precisam ser claramente comunicadas para serem conhecidas pela
sociedade brasileira. Cabe lembrar que algumas deliberações estratégicas
aprovadas na I CNMA não receberam do Governo a atenção desejada, caminhando
inclusive na direção contrária, como as deliberações contra os transgênicos,
energia nuclear e a transposição do Rio São Francisco.
Reconhecemos que algumas mudanças na realização da II CNMA devem ser destacadas,
sendo que a mais importante delas é a proposta de elevação da Conferência dentro
do SISNAMA. Futuramente, a CNMA deve se constituir em uma instituição permanente,
assim como a Comissão Organizadora Nacional e as Comissões Estaduais. Com isso,
a CNMA deverá tornar-se cada vez mais um processo continuado, e não só um evento
pontual de discussão com dificuldades para seus encaminhamentos práticos. Assim,
as Comissões devem monitorar a implementação das resoluções e fortalecer as
CNMAs nos estados e no país. O processo da CNMA deve se aproximar cada vez mais
do que se deu e se dá no âmbito da saúde, com a Conferência da Saúde e o Sistema
Único de Saúde (SUS). Desta forma, devemos fortalecê-la como um espaço mais
amplo e institucional de construção de políticas para o meio ambiente no Brasil.
Por estes motivos, o FBOMS defende a participação das entidades ambientalistas,
dos movimentos sociais, trabalhadores, indígenas, quilombolas e extrativistas no
processo da II CNMA, que é o melhor espaço para pressão política em relação às
temáticas ambientais. O processo da Conferência é uma estratégia de Estado, ele
transcende este Governo e deverá tornar-se um dos mais importantes instrumentos
de gestão compartilhada de política ambiental. A CNMA deve formar o ponto máximo
do SISNAMA e devemos considerá-la como um espaço de diálogo e de disputas e como
um instrumento de luta. É necessário que nos apropriemos da Conferência como
espaço político, sem nunca perder o olhar crítico e propositivo sobre o
aperfeiçoamento dos instrumentos dessa luta política. (Estação Vida, 07/12)