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2005-12-09
Área devastada tem redução de 31%*, Desmatamento reduziu 30,5%**, etc.. Com poucas exceções, as manchetes da imprensa de hoje sobre Amazônia parecem um febeapá contemporâneo, prestando um desserviço à sociedade e ao entendimento do problema.

Em primeiro lugar, desmatamento não é emprego: se tiver 8% de desempregados em certo mês e 6% em outro, podemos sim dizer que diminuiu o desemprego, ou seja, alguns desempregados passaram a ser empregados. Já no caso do desmatamento, estamos tratando de um processo cumulativo a respeito de um estoque físico (as florestas naturais), cuja conversão só aumenta. Portanto deveria se escrever que em 2004-2005 a tal área devastada, na realidade, aumentou 2,5%, e não que caiu 31%. Trocaram a taxa pelo fenômeno! Para diminuir a área devastada, o estoque de floresta natural regenerada deveria exceder aquele de floresta desmatada, o que não é o caso. Parece óbvio para quem acompanha o raciocínio, mas para quem leu apenas as manchetes de hoje (a grande maioria dos leitores) sobrou o equívoco.

Em segundo lugar, o equívoco atinge até mesmo aquela minoria de leitores que passa da manchete para o corpo da matéria. Regra básica do jornalismo é que a notícia coincide com algum fato que não era conhecido anteriormente, ou seja, alguma novidade. E quais são as únicas novidades objetivas que trouxe o parcial anúncio dos dados do INPE/PRODES de ontem em relação ao que já fora amplamente anunciado?

- a primeira é que a taxa de desmatamento do período de agosto de 2003 a julho de 2004 foi recalculada e revisada, levando a descobrir mais 1,1 mil km2 de florestas desmatadas que não haviam sido contabilizadas anteriormente.

- a segunda é que a taxa de desmatamento de agosto de 2004 a julho de 2005 é bastante superior ao que fora estimado em agosto de 2005, quando as manchetes anunciavam queda de 50% em desmatamento na Amazônia*** ou ritmo de desmatamento cai 50%****. Na época, o próprio INPE havia divulgado os dados de outro programa (DETER), menos preciso e com finalidade de fiscalização, mais que de contabilização. Foram detectados meros 10 mil km2 de desmatamento. Com a correção padrão DETER/PRODES, elaborada pelo IMAZON, instituto de pesquisa amplamente qualificado, a estimativa chegava a mais realísticos 15,9 mil km2. Agora o PRODES aponta para uma taxa de 18,9 mil km2, ou seja pelo menos 3 mil km2 a mais do pior cenário previsto, e quase o dobro do cenário previsto pela maioria da imprensa. E alguém explicou que os dados anunciados em agosto precisam agora ser corrigidos? Não, deram de novo a notícia da queda, como se fosse uma notícia nova, apenas mudando a porcentagem.

Com base nos dois fatos acima referidos (o resto era conhecido há tempo) a verdadeira notícia que recebemos ontem é que temos 410 mil hectares de floresta a menos do que os mais pessimistas achavam. Além disso, recebemos a confirmação de que somos (apenas em função do desmatamento) o quarto emissor de gases estufa do mundo, tema em discussão mundial esta semana em Montreal. Mas a sociedade brasileira não recebeu tais recados. Tomara que nas próximas semanas, quando o PRODES divulgar o detalhamento por estado de suas estimativas, a mídia (com as sempre devidas exceções) tente remediar. Inclusive porque jogar os problemas embaixo do tapete não serve a ninguém, começando por nossos negociadores em Montreal, que estão tentando chamar a atenção dos demais países sobre a necessidade de cooperação para conter o fenômeno.

* Estado de São Paulo, 6/12/2005 ** O Globo, 6/12/2005 *** Folha de São Paulo online, 26/8/2005 **** Agência Estado, 26/8/2005

(Amazonia.org.br, 08/12)

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