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2005-12-09
Caminhando a passos largos para o apocalipse, a humanidade só tem um caminho a seguir: Preservar pelo menos 10% de cada um de todos os ecossistemas pelo mundo afora. Esta é a opinião de Lauro Eduardo Bacca, o famoso professor da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), hoje aposentado, mas não recostado nem eremitado, já que não pára, e continua metido em tudo que é coisa, pelo menos aquelas relacionadas ao meio ambiente... , conforme definição de uma comunidade criada no Orkut especialmente em sua homenagem.

Bacca acredita que estejamos chegando a um limite de sustentabilidade em decorrência do consumismo desenfreado. — Estamos tirando o máximo possível para sustentar nossas necessidades e exigindo além do que podemos da nossa biosfera-, diz ele, com a mesma rapidez de raciocínio do pioneiro Lutzenberger, um de seus gurus.

A medida que desenvolvemos equipamento sofisticados, segundo ele, surgem novas obrigações. — Cada vez temos menos tempo para pensar, mais presos aos apelos da sociedade de consumo-, aponta. — Eu me agarro à luta pela salvação e manutenção das áreas naturais que ainda existem. A hora que essa doideira passar, será graças a elas que estaremos salvos-, acredita.

Sócio–fundador, primeiro, quarto e quinto presidente da Associação Catarinense de Preservação da Natureza (www.acaprena.org.br) e membro do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, ele sabe do que fala. — As pessoas não se dão conta, mas depois do auge do crescimento populacional na década de 70, parou de se falar no assunto-, reclama.

Depois disto, em termos planetários, a tese de Bacca é a de que não está ocorrendo sustentabilidade nenhuma. A notícia boa é que as taxas de crescimento populacional diminuíram de lá para cá. — Mas o nosso veículo continua caindo em direção ao precipício. Mais devagar, mas caindo-, compara.

Para salvar o mundo, Bacca acredita que precisaríamos conservar no mínimo 10% de cada ecossistema existente no mundo. — E isso é praticamente impossível. Hoje, a perspectiva é que consigamos garantir 6%. É ridículo, muito pouco -, lamenta. Os países mais desenvolvidos com população estabilizada têm conseguido alguns avanços recuperando rios ou partes de biomas, por exemplo. — O Japão tem 70¨% do seu território coberto por florestas, mas compram madeira da Malásia e da América do sul. É um equilíbrio aparente -, afirma o professor de Biologia.

Bacca diz que só vai acreditar em consumo consciente quando as pessoas começarem a andar mais de bicicleta, a reduzir o uso de automóveis, avião e a abdicar de muitas facilidades que existem e que não são questionadas.

Ao contrário de muita gente por aí, Bacca é coerente com seu discurso. Até bem pouco tempo atrás, andava em uma belina velha caindo aos pedaços. Hoje anda (somente em último caso) com um corsinha mil ano 2002. — Menos poluente do que a velha belina -, ressalta.

Em se tratando de poupar os recursos naturais, o homem é xiita. Quase não compra roupas, só usa escadas para economizar energia dos elevadores (e ainda se exercita), usa apenas uma toalha de papel para enxugar o rosto, mora numa casa ampla mas sem ostentação (quase sem mobílias), não usa nada descartável, não come comida congelada, separa o lixo há anos e ainda mantém uma RPPN de 83 hectares todinha sua destinada à preservação total. E ainda não faz a barba. — Mas daí é por preguiça mesmo-, explica.

Prestes a completar 55 anos no próximo 14 de janeiro, ser chamado de louco não é novidade para ele. Uma vez, tempos atrás, flagrou o reitor da universidade em que lecionava usando oito toalhas de papel para secar as mãos. Viu e ficou quieto. Já em sua sala, redigiu um memorando e encaminhou pro chefe com a soma de quantas folhas de papel a universidade gastaria se todos seguissem aquele mau exemplo. — É um exagero, isso que ele tinha mãos enormes-, lembra.
Por Carlos Matsubara

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