Sociedade consumista precisa de revolução ética e cultural
2005-12-09
As festas de final de ano sempre geram inquietação extra nos ecologistas. Nada a ver com festinhas de confraternização entre ongs ou com a famigerada troca de presentes de amigo-secreto-oculto. A questão é bem mais complexa. É a época em que as pessoas saem alucinadas às compras e consomem todas as inutilidades possíveis além do necessário. Sempre, claro, motivadas por estímulos marqueteiros.
— Sofremos um estímulo muito forte e isso tem origem na Revolução Industrial. A pergunta é se queremos uma sociedade justa realmente-, questiona a ambientalista Lara Lutzenberger, da Fundação Gaia.
De fato, esse ideal de felicidade foi inspirado na sociedade consumista surgida nos Estados Unidos nos anos 20 e se propagou e se propaga pelo mundo afora até hoje. A questão é que este estilo de vida almejado nunca será replicável a todas as camadas sociais. E se um dia isso vier a acontecer, precisaríamos de pelo menos três planetas para dar conta do recado.
Mais do que rever esse padrão, Lara Lutz, acredita que é necessário uma verdadeira revolução ética e cultural. — Precisamos ter consciência do impacto disso tudo na nossa vida doméstica e também em âmbito empresarial-, pondera.
— Tarefa difícil, mas não impossível-, acredita uma Lara super otimista. Através das atividades desenvolvidas no Rincão Gaia, uma peculiar propriedade de 30 hectares, anteriormente ocupada por uma pedreira e recuperada pelo ambientalista José Lutzenberger em Pantano Grande, a Fundação Gaia faz sua parte promovendo atividades vivenciais para os visitantes. — As pessoas podem sentir e aprender conhecendo a natureza através do local-, explica.
Conforme Lara Lutz, essa mudança de paradigma pode ser favorecida na medida em que os mais pobres começarem a questionar os motivos de não alcançarem o padrão de consumo dos ricos. No início, explica ela, isso pode causar um sentimento de revolta, para depois sim, passar a um questionamento. — O Fórum Social Mundial é um bom exemplo de discutir o modelo de desenvolvimento vigente-, lembra.
Isso não quer dizer, no entanto, um retorno à Idade das Pedras, como alguns críticos do ambientalismo alardeiam. — Precisamos diferenciar padrão de vida com qualidade da mesma-, prega. O primeiro é o reflexo das ambições motivadas pelos estímulos da sociedade de consumo. O segundo, argumenta Lara, parte das reais necessidades do ser humano, como um ambiente sadio e íntegro que vai desde a qualidade da água e do ar que se respira até as relações individuais e familiares respeitosas. — Não gera exclusão social, afirma.
Lara cita duas formas de abordar a questão. Uma seria a do ponto de vista da catástrofe. A outra, mais adequada, seria a construtiva, que indica caminhos. — Trabalhar com fé e otimismo-, destaca. Para finalizar, Lara Lutz, esbanjando a habitual categoria, recorda um ditado budista, recentemente citado pelo físico austríaco Hans Peter Dürr: Uma árvore que cai faz mais barulho do que uma floresta que cresce.
Por Carlos Matsubara