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2005-12-09
Organizações da sociedade civil vão pressionar a União Européia para que negocie acordos que contemplem o desenvolvimento sustentável, o comércio justo e a proteção do meio ambiente, na conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio de Hong Kong, de 13 a 18 de dezembro.

Esta reunião será, –no melhor dos casos, um tiro nágua– que não servirá de nada às milhares de milhões de pessoas que vivem na pobreza, afirmaram quatro organizações não governamentais que se somarão à delegação da UE. No pior dos casos, o resultado da conferência poderia destruir o sustento de milhões de pessoas, acrescentaram.

As quatro organizações são a ambientalista Greenpeace; a humanitária Solidar; a aliança Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e a Solidariedade (CIDSE), integrada por 15 grupos católicos da Europa e América do Norte que trabalham pelo desenvolvimento; e Mulheres no Desenvolvimento da Europa (WIDE).

Os ministros de comércio dos 148 países-membros da OMC estão reunidos em Hong Kong para tentar destravar a Rodada de Doha de negociações multilaterais, lançada na capital do Qatar em 2001 e destinada a liberalizar o comércio mundial. Os subsídios que os países do Norte industrializado concedem à sua produção agrícola, afetando a competitividade das nações do Sul, foi o principal motivo do fracasso da conferência anterior, no balneário mexicano de Cancún, e continua sendo o principal obstáculo das conversações.

Os países ricos exigem das nações em desenvolvimento que abram seus mercados aos bens e serviços em troca de qualquer concessão na agricultura. Os grupos da sociedade civil alertaram em um comunicado que a União Européia não está disposta a fazer concessões suficientes para que as nações pobres consigam um acordo justo. Por outro lado, UE, Estados Unidos e outros países ricos parecem dispostos a fazer acordos em Hong Kong sem calcular os efeitos que podem ter nas comunidades do Sul.

–Mais comércio pode criar empregos, mas ninguém sabe quanto se perderá e quem perderá, nem quantas formas de sustento serão arruinadas–, disse a jornalistas o secretário-geral da Solidar, Giampiero Alhadeff.

Por sua vez, Guillaume Legaut, da CIDSE, disse que a UE deve mudar seu enfoque das negociações que se deseja um acordo que promova o desenvolvimento. –Os assuntos em jogo não devem ser interesses comerciais ofensivos e defensivos, ou liberalização versus proteção do mercado–, afirmou. –O desafio das pessoas pobres tem a ver com vulnerabilidade econômica versus sustentabilidade. É sobre segurança alimentar, trabalho, decente para homens e mulheres, e sustento das comunidades–, acrescentou.

A diretora-executiva da WIDE, Meagen Baldwin, anunciou que lembrará à Comissão Européia (órgão executivo da UE) que, embora muitas mulheres tenham se beneficiado da liberalização comercial, muitas outras perderam suas fontes de renda ou foram obrigadas a trabalhar em más condições, sendo vítimas de abusos e violência.

Por outro lado, o Greenpeace se dedicará em Hong Kong a alertar sobre os impactos ambientais dos acordos. –O desenvolvimento sustentável deve ser o objetivo primordial do sistema de comércio global. As atuais negociações têm que deixar de ignorar o meio ambiente e usar o desenvolvimento com fins retóricos. Como ator-chave dentro da OMC, a UE tem a responsabilidade de assumir a liderança para garantir um resultado sustentável para todos–, disse Juergen Knirsch, do Greenpeace.

Apesar de sua determinação, as organizações não-governamentais demonstram certa preocupação pelas limitações que sua influência terá dentro da delegação européia em Hong Kong. –Queremos que a Comissão Européia nos leve mais a sério para que possamos conseguir um diálogo maior–, disse Baldwin. (IPS/Envolverde, 8/12)

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