Transparência contra a água tóxica, uma lição na China
2005-12-09
O município de Harbin, capital da província chinesa de
Heilongjiang, aprendeu a duras penas que a segurança da água não é uma
questão que se arranja por si só. Um vazamento de produtos químicos
determinou a suspensão do fechamento de água nesta cidade de 2,8 milhões de
habitantes entre os dias 24 e 30 de novembro.
As autoridades também tiveram
de enfrentar o desafio da transparência administrativa. O desastre já causou
a renúncia de um funcionário de nível ministerial em Pequim, o diretor da
Administração de Proteção Ambiental do Estado, Xie Zhenhua, no último dia 2.
A crise teve origem na explosão de uma fábrica de produtos químicos da
Companhia Petroquímica Jilin – subsidiária da Corporação Nacional de
Petróleo da China – no dia 13 de novembro, na cidade industrial de Jilin,
260 quilômetros a sudeste de Harbin. Cerca de cem toneladas de substâncias
tóxicas, entre elas benzeno, vazaram para o rio Songhua, principal fonte de
água corrente de Harbin que depois segue seu curso de 1.850 quilômetros em
direção à Rússia. O local onde ocorreu a explosão fica um poucas centenas de
metros do rio. O vazamento deixou uma mancha de 80 metros de comprimento no rio.
Ativistas e especialistas pedem que o governo aprenda urgentemente as
lições da catástrofe e no futuro maneja as crises ambientais de maneira mais
transparente.
Embora as duas cidades compartilhem as águas do mesmo rio, o governo
provincial de Heilongjiang não foi informado pela municipalidade de Jilin
sobre o acidente até cinco dias depois de ocorrido, lembrou Hu Shuli,
diretora do boletim econômico Caijing no dia 28 de novembro.
–Outros escritórios do governo responsáveis, como os ministérios de Água e
Infra-estrutura, não se envolveram até o dia 22 do mês passado–,
acrescentou.
O governo da Rússia, país com o qual Heilongjiang compartilha
uma fronteira de 3.002 quilômetros, tampouco soube de nada até essa data,
segundo um informe de Hu para Caijing intitulado –Os assuntos ambientais não
são assuntos de importância total–. Foi um acidente em que deixou seriamente
contaminado um rio importante não só para duas províncias chinesas como
também para o distante oriente da Rússia. Mesmo assim, inicialmente foi
considerado um problema local, lembrou a jornalista.
–Para diluir as substâncias venenosas no rio é necessário descarregar água
de reservatórios no curso alto, o que requer coordenação com as autoridades
do vale de Songhua-Liaohe, através do Ministério da Água–, disse Hu. –Quando
o sistema urbano de fornecimento está sob ameaça, é necessário que o
Ministério de Infra-estrutura garanta a segurança e o manejo de águas–,
afirmou.
–Mas nove dias depois da explosão, os dois departamentos do governo
central encarregados destes assuntos não estavam informados sobre a
contaminação e se mantiveram à margem, o que também foi uma lástima–,
acrescentou a jornalista. Embora a própria cidade fosse vítima da
contaminação rio acima, o governo municipal de Harbin não informou sua
população sobre o que sabia.
No dia 21 de novembro notificou que suspenderia
o fornecimento de água por quatro dias por causa de –obras na rede–.
–Uma desculpa que ia de tal modo contra o senso comum que criou desconfiança
e pânico entre a população–, ressaltou Hu. –A calma só voltou quando o
governo municipal disse a verdade, nesse mesmo dia–. O governo deve
aprender, à luz dos acontecimentos, que deve –ter coragem para enfrentar a
crise com um manejo transparente e aberto–, pois o pior que pode fazer é
–tratar um grande acidente como se fosse algo pequeno. Uma questão de
importância global, como a síndrome respiratória aguda grave ou a gripe do
frango não podem ser disfarçadas de coisa menor–, acrescentou a jornalista.
Como demonstrou a explosão e a contaminação resultante, a fábrica em Jilin
não contava com um esquema eficiente para emergências, afirmou um cidadão
que se identificou como Shuijianzai no site http://www.xyz/org. –Os
bombeiros usaram água para apagar o fogo, mas as autoridades locais não
sabiam o que fazer com ela depois, já que as toxinas vazaram para o rio sem
nenhum tratamento–, afirmou.
Outra lição é que uma cidade deve ter mais de uma fonte de água, afirmou Liu
Zhiqi, secretário-geral da Associação de Fornecimento de Água do Ministério
da Infra-estrutura. Se Harbin contasse com uma fonte alternativa, a
população não teria sentido sede durante tanto tempo, acrescentou.
Durante o
pânico inicial, os moradores da cidade compraram 16 mil toneladas de água
mineral e purificada, equivalente ao consumo de cem dias, segundo o governo
de Harbin. A cidade perfurou 55 poços para extrair 40 mil toneladas diárias
de água. Mas a maioria das grandes cidades chinesas não tem fontes
alternativas, disse Liu. –Em uma crise como esta, o fornecimento se torna
frágil e pode deixar a cidade em uma situação crítica–, acrescentou.
(IPS/Envolverde; matéria escrita para Asia Water Wire, 8/12)