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2005-12-08
Hoje (7) faz 27 anos que o pau-brasil foi declarado oficialmente como árvore símbolo nacional, sendo instituído 03 de maio o Dia do Pau-Brasil. A data não encerra, porém, grandes motivos para júbilo. Ao contrário, a espécie - Caesalpinia echinata, pertencente à família Caesalpiniaceae - é um exemplo perene de devastação ambiental perpetrada pela soma de interesses econômicos à absoluta falta de consciência ambiental.

No ano de 1920, o pau-brasil foi considerado extinto. Era o coroamento funesto de um ciclo de exploração sem manejo, cujo nascimento foi paralelo ao do próprio país. Os índios brasileiros já utilizavam esta árvore para a confecção de arcos, flechas, e para pintura de enfeites, com um corante vermelho intenso – a brasileína -, extraído do cerne. A técnica foi ensinada aos portugueses pelos próprios índios, encarregados de cortar, aparar e arrastar as árvores até o litoral, onde carregavam os navios a serem enviados à Europa.

O ciclo econômico teve início em 1503 e, até 30 anos após a chegada dos portugueses, era o único recurso explorado pelos colonizadores. Nesse período, calcula-se que foram retiradas 300 toneladas de madeira por ano, sempre aumentando nos anos posteriores. Com a exploração, a terra do pau-brasil tornou-se de muita importância, e em pouco tempo Pindorama (denominação tupi que significa Terra das Palmeiras), oscilou entre os nomes oficiais Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Terra do Brasil e logo em seguida apenas por Brasil.

Da espécie, o país ganhou o nome e um péssimo exemplo de aproveitamento predatório.

— Este processo de exploração conjunta e contínua consistiu nesse período, possivelmente, na retirada mais intensa e devastadora que se ouviu falar na história do Brasil - diz o texto sobre o pau-brasil publicado no Ambiente Natural de AmbienteBrasil.

Com uma madeira dura, compacta, muito pesada e resistente, o pau-brasil prestava-se com excelência à construção civil, à indústria naval e a trabalhos de torno. Mas seu principal atrativo para Portugal era mesmo a brasileína, usada para tingir tecidos e fabricar tinta para escrever.

Segundo o portal do Instituto Pau-Brasil de História Natural, oito anos após a espécie ter sido declarada extinta, em 1928 o estudante de agronomia João Vasconcelos Sobrinho e o professor de Botânica Bento Pickel verificaram a presença de uma árvore no então chamado Engenho São Bento, hoje sede da Estação Ecológica da Tapacurá da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

Ainda conforme o Instituto, em 1972, o professor Roldão Siqueira Fontes, apoiado pela direção da UFRPE, lançou uma campanha nacional em defesa do pau-brasil, de modo a recuperar sua memória histórica e desencadeando a produção de mudas em todo o país.

O pau-brasil consta na lista oficial da flora brasileira ameaçada de extinção, do Ministério do Meio Ambiente, desde 1992.

Atualmente, muitas pessoas procuram o Instituto Pau Brasil para obtenção de mudas e sementes. Como a instituição não as possui, indica, por exemplo, a ONG Clube da Semente, onde os interessados podem atingir esse objetivo.

O Clube da Semente fica no município de Olhos DÁgua, a oitenta quilômetros de Brasília. A muda de pau-brasil custa R$ 3, no varejo. Para grandes encomendas, são feitas negociações específicas.

A idéia de reflorestar o país com a espécie ameaçada tem adeptos de peso. A coluna do jornalista Gilberto Dimenstein (Folha de S. Paulo), do dia 13 de abril passado, registrou o trabalho desenvolvido pelo geólogo Norberto Baracuí, 61, que montou um viveiro de milhares de mudas no litoral paulista.

— No início deste ano, ele soube que se tramava, em São Paulo, a realização de um mutirão que envolveria a prefeitura e associações comunitárias para o plantio de árvores. Fez então a oferta de doação de 40 mil mudas, mas com uma condição: os alunos teriam de plantá-las em cada uma das mil escolas municipais - relatou Dimenstein, informando que a proposta foi aceita de imediato pelo secretário municipal do Meio Ambiente, Eduardo Jorge.

Floresta em pé
Hoje, o pau-brasil ainda tem muito valor, exportado – em geral à Europa – para a confecção de arcos de violino. Mas é dentro do conceito de floresta em pé que a espécie ganha maiores chances de sobreviver à ameaça de extinção. Em iniciativas como, por exemplo, a da Reserva Particular do Patrimônio Natural Serra do Teimoso, no município de Jussari (BA).

A RPPN, oficializada em 97 numa fazenda de cacau, preserva 200 hectares de Mata Atlântica e guarda cerca de 80 árvores nativas de pau-brasil – alguns dos últimos exemplares do sul da Bahia. Aliando educação ambiental e ecoturismo, a reserva disponibiliza alojamentos – 40 leitos - para pesquisadores e turistas, que podem apreciar suas belezas naturais em três trilhas, uma delas batizada de pau-brasil.

São justamente essas árvores remanescentes de pau-brasil que mais despertam o interesse dos visitantes, conforme atesta Joel Melo Berbet de Carvalho, estudante de Engenharia Ambiental e filho do dono da fazenda.

Espera-se que, num futuro próximo, este símbolo brasileiro possa ser mais lembrado – e apreciado - em parques, praças, escolas e vias públicas do que nos livros de história. (Ambiente Brasil, 07/12)

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