Política e políticas de Comunicação Ambiental
2005-12-08
Existem empresas e organizações que ainda adotam como política de
comunicação ambiental o NADA A DECLARAR: — quanto menos a gente se expor
menor o risco de nos tornarmos alvo de ambientalistas radicais ou da
imprensa que só gosta de pautar notícia ruim.
Ao agirem assim,
negligenciam a importância estratégica que uma boa imagem ambiental da
instituição ou de seus produtos tem para a aceitação junto à sociedade. Depois se
queixam quando encontram dificuldades para aprovar o licenciamento
ambiental de suas instalações, ou para emplacar um produto com apelo
ambiental no mercado, ou quando, diante de um acidente ambiental, deparam-se
com um público hostil.
Tem empresas e organizações públicas ou do Terceiro Setor que resumem
suas políticas de
comunicação ambiental à implantação de um
departamento de comunicação ou então contratam temporariamente uma empresa de
assessoria de comunicação cuja principal atividade se limita a produzir
releases e enviar aos veículos na esperança de serem incluídas na pauta,
ou mesmo de ver seus releases publicados como notícias. Como se
coubesse aos veículos financiarem a informação que precisam democratizar.
A situação se torna crítica quando a comunicação ambiental deve ser
parte integrante para assegurar o sucesso de um projeto. Por exemplo,
diante do financiamento de projetos ambientais como os do FNMA - Fundo
Nacional do Meio Ambiente, FUNBIO, PD/A, etc., ou de projetos ambientais
financiados por empresas e organizações como uma estratégia de marketing
sócio-ambiental, como os da Petrobrás Ambiental ou os do Banco de
Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil. Todos projetos de caráter
demonstrativo, onde se pressupõe a importância estratégica da
multiplicação dos resultados ou da informação, apesar disso, não há uma política
de comunicação ambiental clara para demonstrar seus resultados, no
máximo, também aqui, limitam-se a enviar release na esperança de que algum
veículo financie a informação. O ideal, nesses casos, seria uma
política de comunicação onde o público local fique ao encargo do recebedor dos
recursos, pois estão mais próximos da comunidade e o foco da informação
é menos institucional e no projeto individual. Os financiadores
precisarão exigir dos recebedores a demonstração de como irão democratizar as
informações e quem será o profissional de comunicação responsável. Em
contrapartida, devem assegurar no mínimo 10% do total dos recursos do
Projeto para o financiamento dessa informação. Já os públicos regional e
nacional precisam ficar ao encargo das organizações financiadoras pois
o foco da informação não é um ou outro projeto em particular, mas todos
os projetos financiados, assegurando um aspecto mais institucional à
informação.
Estabelecer uma política de comunicação ambiental, aliás, qualquer
política, pressupõe planejamento, reuniões com as pessoas responsáveis por
sua execução, análise de estratégias, definição de públicos
interessados, definição de produtos de comunicação para estes públicos, previsão
orçamentária para o financiamento desses produtos, etc.
Não ter uma política de comunicação ambiental formal, não significa sua
inexistência dentro de uma organização. Ela existe, só que cada um
adota o método que acha mais adequado, não sendo possível nem avaliar sua
eficácia muito menos corrigir desvios de estratégia.
A negligência das empresas e organizações em cuidar adequadamente de
suas políticas de comunicação ambiental e a conseqüente ausência de
recursos para financiar a informação ambiental podem
resultar no fato do
poder de decisão da alta gerência estar nas mãos de engenheiros, biólogos,
advogados, pedagogos, sociólogos e uma infinidade de profissionais
altamente qualificados, mas que não receberam formação em comunicação
social, daí não percebem direito em quantos segmentos e públicos de
interesse se divide a opinião pública, muito menos que produtos são mais ou
menos eficazes dependendo de cada segmento, de que maneira uma mensagem
deve ser apresentada ao público, etc.
Outro equívoco diz respeito ao financiamento da informação ambiental.
Pouquíssimas empresas e organizações incluem a mídia ambiental em seus
planos de mídia. O mercado já deu mostras evidentes de que não financia
e não compra a informação ambiental. Basta visitar qualquer banca para
constatar que, em meio a uma enorme variedade de títulos, não existe
uma única publicação ambiental. Existem alguns títulos focados em
ecoturismo ou paisagismo, mas
nenhum que retrate a complexa realidade
ambiental do país. E não é por que nenhum editor de mídia ambiental ainda não
se animou em colocar seus veículos nas bancas. Já fizeram isso e o
encalhe foi superior a 90%. É por que não vende mesmo.
Pela lei do mercado, se ninguém quer comprar a informação ambiental,
então não devem existir veículos da mídia ambiental. Certo? Como ficam as
empresas e organizações que têm o dever e o direito de se comunicar com
os diferentes públicos de interesse? Como a sociedade brasileira poderá
tomar decisões em direção a um modelo de desenvolvimento sustentável se
não recebe informações ambientais em qualidade e quantidade
suficientes?
A mídia ambiental brasileira cumpre um papel de interesse público em
nosso país e, apesar disso, não existe qualquer programa público para o
financiamento da informação ambiental, apesar do Governo Brasileiro ter
aprovado entre os objetivos
fundamentais da educação ambiental a
garantia da democratização das informações ambientais (Lei nº 9.795 de 27 de
abril de 1999, art. 5º, inciso II).
Os veículos da mídia ambiental brasileira ficam dependentes, então, da
inclusão em planos de mídia das agências de publicidade contratadas por
empresas públicas e privadas, onde têm de disputar espaço numa luta
absolutamente desigual com veículos da chamada Grande Mídia como TV Globo,
Jornal O Globo, etc., e o resultado acaba sendo a exclusão da mídia
ambiental, sempre com as honrosas exceções, aliás, graças a elas, ou não
existiriam mais veículos para a informação ambiental em nosso país.
(Por Vilmar Berna, na Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental)