Superseca na África pode ter definido evolução, aponta estudo
2005-12-08
Cientistas dizem ter identificado uma gigantesca crise climática ocorrida 70 mil anos atrás na África que pode ter mudado os rumos da história humana.
As evidências vêm de sedimentos retirados do leito dos lagos Malauí e Tanganica, no leste da África, e do lago Bosumtwi, em Gana.
Elas mostram que a África equatorial experimentou um prolongado período de seca naquela época.
Segundo cientistas, é possível que esta seja a razão por que alguns dos primeiros seres humanos deixaram a África para popular o resto do planeta.
E aqueles que ficaram no continente precisaram ser extremamente resistentes para conseguir sobreviver a um período tão difícil.
–A seca deve ter tido um impacto enorme, não apenas nos seres humanos, mas em todas as espécies que viviam na África equatorial naquela época–, disse o geólogo Christopher Scholz, da Universidade de Syracuse, nos Estados Unidos, um dos autores do estudo.
Scholz apresentou os dados na segunda-feira sobre o projeto no encontro de outono da União Geofísica dos Estados Unidos, em São Francisco.
Os sedimentos mostram que, há mais de 75 mil anos, o lago Malauí, que hoje é um mar interior de 550 quilômetros de comprimento e 700 metros de profundidade, foi reduzido a um punhado de lagoas muito menores, com não mais de 10quilômetros de comprimento e 200 metros de profundidade.
O lago Bosumtwi, hoje com mais de 10 quilômetros de largura, sofreu ainda mais com a seca, ficando totalmente sem água.
Só uma seca prolongada e de alcance continental pode ter causado este efeito.
Mas o que torna a tese tão fascinante é que ela se relaciona com as teorias sobre a evolução que identificam o surgimento da humanidade atual à mesma época e à mesma região.
Estudos genéticos sugerem que o ser humano moderno descende um grupo de 10 mil indivíduos que vivia no Leste da África na época em que, segundo Scholz e seus colegas, ocorreu a crise climática.
Imediatamente após o fim da seca, populações humanas começaram a se expandir rapidamente – e muitos de nossos ancestrais deram início a uma migração para a Ásia, o Oriente Médio ou à Europa.
Cientistas estão cada vez mais convencidos de que catástrofes ocorridas em um passado remoto ajudaram a determinar a evolução humana.
E mais intrigante é idéia de que nós devemos nossa existência a um pequeno grupo de sobreviventes que conseguiram escapar de uma crise de proporções épicas ou que simplesmente decidiram que estava na hora de migrar em busca de água. (BBC, 7/12)