Brasil diz no Canadá que já contribui para o clima
2005-12-07
Um dos principais focos de atenção na Conferência das Nações Unidas sobre
Mudança Climática, que ocorre até sexta (09/12) no Canadá, o Brasil adotou uma
política clara em relação às pressões que vem sofrendo para que reduza os
índices de poluição lançados na atmosfera: vai rejeitar qualquer obrigação
imposta pelos países desenvolvidos.
Décimo poluidor mundial, em grande parte graças às queimadas na Amazônia, o
Brasil tem chamado a atenção por sua proposta radical: quer compensações
financeiras em troca da redução de emissões de gases poluentes. A idéia é
receber apoio técnico e financeiro que incentive políticas públicas de
preservação. Confira trechos da entrevista concedida à Agência RBS pelo chefe da
delegação brasileira em Montreal:
Agência RBS: Como o Brasil responde às pressões para estabelecer metas de
redução de emissões de poluentes?
Luiz Alberto Figueiredo: O Brasil tem uma matriz energética limpa. Por conta
disso, já contribui para o clima. Não há o que pensar em termos de metas e
prazos obrigatórios de redução de emissões por países em desenvolvimento porque
não foram eles os culpados pela alteração [climática] que vemos hoje. Mas sim as
emissões de gases de efeito estufa provenientes de países industrializados nos
últimos 150 anos.
Agência RBS: Os países desenvolvidos são obrigados por metas a reduzir suas
emissões de gases poluentes. Os países em desenvolvimento, como o Brasil, não
têm obrigação, mas também devem contribuir. Qual é a proposta brasileira?
Figueiredo: Os países em desenvolvimento não têm qualquer obrigação de redução
quantitativa de emissões. A convenção do clima é clara nisso. A primeira
obrigação dos países em desenvolvimento é cuidar de seu desenvolvimento social,
atender a suas populações. Há uma intenção de mobilização de todos os países
para que, juntos, façamos esforços pelo clima. A capacidade dos países em
desenvolvimento de adotarem medidas para a redução de emissões depende
diretamente de ajuda financeira e de tecnológica dos países desenvolvidos. Esses
incentivos podem ser medidas comerciais, tecnológicas e de financiamento.
Agência RBS: O Brasil apóia a proposta apresentada por Papua Nova Guiné, de
receber compensações financeiras em troca da preservação de florestas?
Figueiredo: Achamos extraordinariamente positiva. O Brasil tem trabalhado muito
de perto com os proponentes dessa idéia. E achamos mais: esse estímulo deve não
apenas se restringir ao desmatamento, mas também a outros setores que possam
beneficiar diretamente os países em desenvolvimento, como energia, transportes,
florestas. A idéia de Papua Nova Guiné é um excelente ponto de partida para a
criação de condições para que países em desenvolvimento se beneficiem de
incentivos no âmbito da convenção. Sem obrigações, sem metas quantitativas.
(Pioneiro, 06/12)