Especialistas estrangeiros mostram uso da incineração nos EUA e na China
2005-12-07
Apresentar experiências estrangeiras foi o objetivo dos painéis de ontem (06/12) no I Simpósio de Brasileiro de Incineração, que termina hoje (07), em Porto Alegre. Professores dos Estados Unidos e da China analisaram algumas possibilidades para tornar o processo menos prejudicial ao meio ambiente.
Nos EUA, cada habitante produz, em média, dois quilos de resíduos sólidos por dia. De lixo hospitalar, se contabiliza de quatro a 14 mil toneladas diárias. Desse montante, cerca de 80% a 90% é disposto de forma imprópria na superfície terrestre. De acordo com o professor da Universidade de Maryland, Ashwani Gupta, a incineração serve como alternativa ao problema do lixo, já que os aterros sanitários tornam-se cada vez mais difíceis de serem implantados em razão da falta de áreas adequadas.
Além de eliminar o problema dos rejeitos, destaca o professor, a destruição térmica também promove a geração de eletricidade, diminuindo, assim, a necessidade de combustíveis como o petróleo. Entre outras vantagens, ressalta a reutilização das cinzas e o seqüestro de carbono na atmosfera.
Ao lado da incineração, porém, deve estar a educação e a conscientização ecológica. – Precisamos estar atentos para a questão ambiental. No caso do Brasil, especialmente, onde a situação da saúde é muito crítica, é necessário respeitar certas exigências-, salienta.
Ocidentalização mudou hábitos chineses
Na China, explica a professora da Universidade de Zhejiang Gongshang, Yuhong Cen, a produção de resíduos fica em torno de 410 mil toneladas por dia. – A cada ano a quantidade de rejeitos cresce entre 8% e 10%. Isso reflete a industrialização e a urbanização do país e uma melhora da qualidade de vida-, esclarece.
A situação na China era bem diferente antes de 1980, observa a acadêmica. Os métodos para tratamento do lixo eram simples, com uma parte dele sendo levada para terrenos distantes – o que equivaleria aos lixões brasileiros – e outra destinada à compostagem e transformada em fertilizantes.
Depois de 1987, no entanto, a abertura das portas , segundo Cen, levou os chineses a adotarem um estilo de vida ocidental , baseado no consumismo norte-americano, o que aumentou a produção de rejeitos. No final da década de 80, os incineradores foram incorporados ao combate à poluição, mas a energia não era reutilizada, nem os gases lançados no ar recebiam tratamento. As críticas da população ao método fizeram com que se empregassem tecnologias mais modernas nos equipamentos a fim de evitar a contaminação da atmosfera e produzir termoeletricidade.
A maior parte da incineração ocorre em províncias próximas do mar – as mais desenvolvidas. Os recursos para a construção das plantas, esclarece Cen, provêm de taxas sobre a produção de resíduos, e o Estado fornece a área e a matéria-prima para a implantação do projeto, além de ser o responsável pelo monitoramento.
Da mesma forma como Gupta, a chinesa lembra das más condições dos aterros sanitários, que carecem de espaços e tecnologias adequadas. Yuhong Cen citou como exemplo uma inspeção realizada em 2001 no país. De 288 aterros, 16 atendiam as recomendações chinesas e apenas três seguiam normas internacionais. O problema, segundo a professora, também se estende às usinas de compostagem, que alteram a composição dos rejeitos, favorecendo a contaminação.
Economia circular: alternativa de desenvolvimento
Os incineradores são responsáveis por cerca de 5% da destruição de resíduos sólidos na China. O baixo índice aponta para a aposta do país asiático na reciclagem de materiais e na chamada economia circular, um modelo baseado na conservação dos recursos naturais. – Trata-se de uma forma de industrialização que existe na China desde 2002, e já é reconhecida como um passo importante para o desenvolvimento sustentável, envolvendo produção e consumo-, frisa.
– A questão dos resíduos sólidos é chave para qualquer programa de desenvolvimento sustentável e consta na Agenda 21 da China-, destacou Cen. O governo local, enfatiza, tem uma enorme preocupação quanto ao tema, e a legislação do país comprova o fato. Em 1989, foi aprovada a Lei de Proteção Ambiental e, em 1992, a Lei de Regulamentação da Gestão da Paisagem Urbana e Saúde Ambiental. – Isso mostra que, com o passar dos anos, houve uma evolução no pensamento, conforme os princípios da economia circular-, completa.
Por Patrícia Benvenuti