Vizinhos brigam com a VCP na Zona Sul gaúcha
eucalipto no pampa
2005-12-07
— Estamos tendo problemas com alguns vizinhos-, reconheceu publicamente Fausto Rodrigues Alves de Camargo, gerente de meio ambiente da Votorantim Celulose e Papel (VCP), durante a palestra em que apresentou a empresa ao seminário Desafios e Oportunidades das Plantações Florestais no RS, no dia 30 de novembro de 2005, em Porto Alegre. Camargo não chegou a entrar em detalhes, mas por pouco não foi questionado ali mesmo por uma das pessoas afetadas pelos procedimentos da VCP na Metade Sul do RS, onde a empresa comprou 65 mil hectares de terras para plantar eucalipto.
Entre as 200 pessoas presentes no auditório da Faculdade de Ciências Médicas, estava uma vizinha da VCP em Piratini, um dos 14 municípios em que a empresa está em atividade desde 2004. Dona de um sítio de oito hectares no município, a professora Camila Caringi fora ao evento disposta a meter bronca na Votorantim, mas intimidou-se com o ambiente refrigerado do auditório e se contentou em criticá-la nos bastidores. Revoltada, contou ter aberto um processo judicial em que cobra indenização à família do seu caseiro, que teve problemas de saúde depois que a VCP lançou um agrotóxico (roundup, segundo ela) sobre uma plantação de eucaliptos encostada em sua propriedade.
Natural de Pelotas, onde tem parentes e amigos, Camila Caringi diz que no início de 2005 chegou a entrar em conversação com a VCP, na esperança de convencê-la a não encher de eucalipto toda a propriedade vizinha, comprada de familiares seus. — Eu me iludi achando que ia rolar uma permuta com uma área em outro lugar, mas não deu certo-, diz Camila. A negociação foi interrompida quando a VCP iniciou o plantio na área vizinha. Após a primeira aplicação de herbicida, a mulher do caseiro teve dores de cabeça e seu filho precisou ser internado no hospital de Pedro Osório, a cidade mais próxima. Camila tomou suas dores.
— Se essas empresas florestais fizerem em 400 mil hectares o que a Votorantim fez ao lado da minha casa em Piratini, a Metade Sul está em perigo-, afirma Camila Caringi, que trabalha em Porto Alegre e buscou refúgio no Núcleo Amigos da Terra, a ong que lidera a campanha contra a monocultura do eucalipto no pampa. Segundo ela, a empresa não respeita banhados e ignora a legislação que protege as figueiras. E começa a enfrentar problemas com as autoridades ambientais.
Em Pinheiro Machado, o promotor Rudimar Tonini Soares abriu uma ação penal contra a VCP por plantar eucalipto no entorno do córrego China Inocência, que abastece a represa responsável pelo suprimento de água para a população da cidade. Uma liminar concedida pelo juiz local contra o plantio foi cassada em segunda instância em Porto Alegre, onde a Promotoria Especial do Meio Ambiente promete entrar em ação em defesa da Metade Sul.
Em sua palestra, o gerente Fausto Alves de Camargo afirmou: — Todo o nosso programa baseia-se num planejamento ambiental que envolve o manejo e o monitoramento de cinco vetores: fauna, flora, água, solo e ar.
Além de trazer para o Sul sua experiência de 20 anos em São Paulo, a VCP, segundo Camargo, trabalha com o conceito de bacia hidrográfica, realiza o controle dos plantios por município e garante que em cada propriedade o plantio de eucaliptos não irá além de 45% da área – o restante ficará para outras atividades ou como área de preservação. No mês de janeiro a VCP realizará um seminário ambiental interno, para avaliar o que foi feito nos primeiros meses de trabalho na Metade Sul e planejar os próximos anos.
Por Geraldo Hasse