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2005-12-06
O desembarque da Stora Enso em terras gaúchas alvoroçou ambientalistas, governo e as próprias empresas do setor. Até o final do ano já estará com escritórios montados em Rosário do Sul e Porto Alegre, conforme antecipou seu diretor de Desenvolvimento no Rio Grande do Sul, João Fernando Borges, ex-executivo da Veracel e hoje comandando o projeto da multinacional no Rio Grande do Sul. Em entrevista exclusiva ao Ambiente Já, Borges fala da área já adquirida pela empresa, das vantagens comparativas do Rio Grande do Sul, da crescente participação do Cone Sul no mercado mundial de fibras e das críticas dos ambientalistas: “muitas são feitas olhando-se pelo espelho retrovisor”.

Ambiente JÁ - Em quais regiões ou municípios do Estado serão concentrados os plantios florestais da Stora Enso?

Borges- Cacequi, Rosário do Sul, Alegrete, Manoel Viana, São Francisco de Assis, Santiago, Unistalda e Maçambará. Deverão ser incluídos outros municípios no futuro.

Ambiente JÁ - A empresa anunciou US$ 50 milhões para comprar terras no RS. Qual a área necessária para o projeto, qual a área já adquirida e em quais municípios?

Borges- Área de plantio prevista é de 100.000 ha, sendo 80% próprios, sendo que o total de terras próprias deverá ser de aproximadamente 120.000 ha. Encontram-se em processo de compra (contratos já assinados) 36.000 ha. Os municípios onde estão sendo feitas as compras são os que citei na primeira pergunta, sendo que os municípios com maior área de compra são Rosário do Sul, São Francisco de Assis e Manoel Viana.

Ambiente JÁ- A Stora Enso pensa em criar algum programa para incentivar o produtor a plantar eucalipto? Qual a participação prevista para os parceiros?

Borges- Sim, a Stora Enso objetiva ter 20 a 30 % da madeira comprada de produtores locais através de um programa de fomento florestal.

Ambiente JÁ - Se o eucalipto cresce menos no Sul do que no Sudeste, por que a Stora Enso não continua a investir no Sul da Bahia ou no leste de Minas Gerais? Quais as vantagens comparativas encontradas no RS e no Uruguai?

Borges - Continuaremos a investir no Sul da Bahia na expansão da fábrica da Veracel, em que temos 50% (os outros 50% são da Aracruz). Minas Gerais tem características diferentes do Rio Grande do Sul, e já conta com empresas atuando no estado. O RS e o Uruguai têm disponibilidade de terras, potencial elevado para a produtividade florestal, razoável logística e propiciam uma boa solução ambiental para a distribuição das plantações (áreas planas e plantio em áreas de pecuária, que são abundantes nessas regiões).

Setor Industrial
Ambiente JÁ - Já existe definição com relação ao local de instalação da fábrica da empresa no Rio Grande do Sul ou no Uruguai?

Borges- No momento a Stora Enso está voltada para a fase do estabelecimento das plantações que viabilizarão futuramente uma fábrica de celulose. A localização da fábrica depende de vários fatores geográficos e econômicos, que serão cuidadosamente estudados mais à frente.

Ambiente JÁ- Processo de fabricação: na Finlândia a empresa não adota o cloro no processo de branqueamento do papel. Aqui será utilizada a mesma tecnologia? Como funciona?

Borges- As pesquisas conduzidas nos últimos 10 anos mostraram que ambos os processos ECF (Elemental Chlorine-Free) e TCF (Totally Chlorine-Free) têm um excelente desempenho ambiental, desde que os efluentes líquidos sejam tratados com métodos modernos. Além disso, o ECF produz celulose de qualidade superior e com rendimentos mais altos, o que significa que se usa menos madeira. A maioria das fábricas na Suécia, Noruega, Finlândia e América do Norte usam ECF, que é atualmente a melhor tecnologia disponível (Best Available Technology - BAT) conforme definição da Comunidade Européia.

Ambiente JÁ- A empresa pretende estabelecer algum tipo de parceria com outra empresa do setor em seu projeto no RS? Durante a inauguração da Veracel, na Bahia, o presidente Carlos Aguiar afirmou que, se convidada, a Aracruz poderia ampliar essa parceria com a Stora Enso no Rio Grande do Sul.

Borges- No momento, a definição é de a empresa conduzir esses projetos sozinha. Acordos no setor são sempre possíveis.

Ambiente JÁ- Qual será a capacidade de produção de celulose e papel das unidades no RS e no Uruguai?

Borges- A capacidade de uma planta de fibra curta atualmente esté em torno de 1 milhão de toneladas por ano de celulose. Então, devemos operar em torno de 700 a 800 mil toneladas

Ambiente JÁ- Quais os mercados que serão atendidos com a produção do Sul?

Borges- Os mercados europeu e asiático.

Ambiente JÁ- As notícias sobre projetos industriais de celulose e papel na América do Sul deixam a impressão de que esse setor está se transferindo em massa do Hemisfério Norte para o Hemisfério Sul: até que ponto isso é verdade?

Borges- Os países do hemisfério sul, notadamente, Brasil, Chile, Argentina e Uruguai passarão a ter uma participação cada vez maior como produtores de fibra devido à competitividade na produção de madeira. Esse movimento vem acontecendo já há uns 20 anos. Acho que em mais 10-20 anos, os novos produtores vão ter uma produção próxima a dos produtores tradicionais.

Ambiente JÁ- O excesso de investimentos em plantios florestais e em plantas industriais não poderá aviltar o preço da madeira no mercado brasileiro e da celulose no mercado internacional?

Borges- Não há excesso de investimentos em plantios florestais e plantas industriais. As plantações terão uma importância cada vez maior no fornecimento de madeira para a indústria de base florestal. É um recurso natural renovável. Muitos dos problemas ambientais conjunturais, como o desmatamento, decorrem de que no passado, países como o Brasil não adotaram o plantio florestal em escala adequada e aliando a formação dessas bases florestais a uma política de desenvolvimento da indústria florestal. Mais recentemente, tem havido um esforço do governo federal e de alguns estados para desenvolver o setor produtivo florestal, agora com uma visão mais de longo prazo.

Ambiente JÁ- A disputa pelo mercado mundial de celulose e papel não tende a aumentar a concentração de capital no setor, reduzindo o número de grupos em atividade?

Borges- O setor mundial de celulose e papel segue a dinâmica do mercado, os movimentos de fusão têm acontecido em vários setores. Em muitas situações, se não houver uma adaptação ao ambiente econômico, os grupos podem perder espaço e ter seu futuro comprometido.

Ambiente JÁ- O interesse nos dois países (Brasil e Uruguai) é baseado em projeções de mercado. Especula-se que até 2015 a América Latina e a Ásia responderão por 30% da produção de celulose do mundo. O custo estimulado no Brasil é de 70 dólares por tonelada contra 142 dólares na Finlândia. Com o aumento da produção de matéria-prima, os planos da empresa nesses dois países podem ser alterados a longo prazo?

Borges- Vamos nos concentrar em criar dois pólos competitivos nessas duas regiões. A Stora Enso também tem planos para a Rússia e a China. Nossa expectativa é de que a América do Sul torne-se um produtor de fibra de primeira linha, isso se concretizando, haverá sempre interesse em fazer investimentos nessa região.

Ambientalismo
Ambiente JÁ- As ongs ambientalistas criticam os projetos florestais no RS e em outros lugares. O que a empresa pensa a esse respeito?

Borges- As ONGs têm um papel importante na sociedade moderna e encaramos a diversidade de opiniões de maneira natural e com disposição de sempre dialogar. Muitas críticas aos impactos ambientais das plantações, no entanto, são feitas olhando-se pelo espelho retrovisor, citando alguns erros cometidos no passado. É preciso olhar à frente, perceber que as empresas agem com responsabilidade e que a produção de madeira cria imensas oportunidades de desenvolvimento. Há também muita desinformação e em alguns casos, escolhem-se os dados para corroborar uma conclusão que já estava tomada antes.

Ambiente JÁ - A Stora Enso acredita que possa haver recursos financeiros de sindicatos finlandeses subsidiando as campanhas das ongs ambientalistas?

Borges- Não tenho como responder essa questão em nome da Stora Enso sem que antes houvesse uma comprovação dessa situação. Mas pessoalmente não tenho dúvidas de que há ONG’s nos países em desenvolvimento que recebem recursos de países europeus, o que não é necessariamente um aspecto negativo.
Por Carlos Matsubara

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