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2005-12-06
A surpreendente chegada ao território rio-grandense do grupo sueco-finlândes Stora Enso — no rastro da Votorantim Celulose e Papel, presente desde 2004, e da Aracruz Celulose, que em 2002 comprou a Riocell do grupo Klabin — alvoroçou de vez os observadores do ambiente e da economia gaúcha. Afinal, perguntam-se todos, o que querem esses gigantes produtores de celulose e papel?

Até onde se sabe, eles compra(ra)m terras para fazer grandes plantios de eucalipto, visando sustentar novas fábricas de celulose. No início o único candidato era a Aracruz. Ela assumiu o lugar da poderosa Klabin, que abriu mão de seu quinhão em Guaíba para se concentrar no Paraná e em São Paulo. Em seguida veio a Votorantim, que comprou 65 mil hectares na zona sul do estado e montou uma base florestal em Capão do Leão. Ela é sócia da Aracruz, mas diz atuar sozinha no Sul.

Se apenas esses dois investimentos se concretizassem, o setor florestal gaúcho ganharia uma nova configuração. Poderia até mudar a matriz econômica da Metade Sul, dominada por duas atividades mais ou menos integradas — a orizicultura e a pecuária extensiva — e mais algumas especializadas, como a fruticultura, a ovinocultura e a própria silvicultura, já bastante enraizada na Serra dos Tapes (ou das Encantadas, como consta em alguns mapas), que cobre o eixo Canguçu-Caçapava do Sul.

A entrada extemporânea da Stora Enso no espaço rio-grandense alterou o panorama do setor, pois a empresa sueca, sozinha, é maior do que a Aracruz e a Votorantim juntas. Ela escolheu o oeste gaúcho como área de atuação preferencial. Está instalando uma base em Rosário do Sul, onde iniciará os plantios no segundo semestre de 2006.

Na realidade, para os próprios parceiros-concorrentes está difícil compreender o lance da Stora Enso. Até agora concentrada na Europa, ela entrou no Brasil há poucos anos, tomando o lugar do grupo Odebrecht no meio da implantação da indústria de celulose Veracel. Recém-inaugurada em Eunápolis (BA), a Veracel é uma joint-venture com a Aracruz, que por sua vez tem como acionista (com 28% do capital votante) a Votorantim.

Se as três são sócias na Bahia, por que vieram sós para o Rio Grande?
Alguns analistas acreditam que esse comportamento possa ser enquadrado como briga de cachorro grande, cujo desfecho é tão imprevisível quanto demorado. No entanto, não está em jogo apenas o instinto de sobrevivência de cada um; a briga não é local, mas internacional.

Os grandes produtores de celulose estão deslocando seus plantios e suas plantas industriais para o Hemisfério Sul movidas por razões ambientais, econômicas e logísticas: aqui simplesmente se produz mais barato, pois as terras custam menos, a mão-de-obra é abundante, os fatores naturais são muito mais favoráveis do que no Norte e os riscos ambientais são menos levados em conta... Não é por outro motivo que a norte-americana International Paper acaba de anunciar um investimento de US$ 1,3 bilhão numa fábrica de celulose em Mato Grosso do Sul, onde há anos sobra eucalipto.

Outro dado relevante é que no Leste brasileiro algumas dessas empresas chegaram a um limite operacional devido a uma excessiva concentração florestal e industrial. A Aracruz, por exemplo, desgastou-se politicamente no Espírito Santo, procurou refúgio no sul da Bahia e tem consciência de que vem perdendo terreno na batalha da opinião pública; nitidamente, procura uma saída alternativa no Sul.

Nessas circunstâncias, não parece fazer sentido a suposição de que as empresas florestadoras correram para o RS ou para a metade carente do pampa com o objetivo de burlar a fiscalização, corromper os zeladores do meio ambiente ou desafiar o bom senso. O mesmo raciocínio vale para o Uruguai, cujo território faz parte dos planos das três empresas.

Ao menos na aparência o conceito de sustentabilidade foi incorporado à rotina dessas empresas. Embora não o confesse publicamente, a Aracruz tem consciência de que precisa redimir-se dos reveses de sua experiência capixaba, onde acumulou um vasto know how — para o mal e para o bem.

Embora essas empresas sejam especialistas em montar grandes empreendimentos verticalizados, investir cegamente na monocultura contraria a lógica emergente na silvicultura tropical. Mesmo contando com lobbies ativos e dispondo de acesso quase irrestrito aos círculos do mando político, elas sabem que precisam compartilhar suas decisões com as diversas instâncias de poder das comunidades organizadas. Entre seus interlocutores, as empresas de celulose não contam apenas os governantes, mas os órgãos técnicos responsáveis pelo meio ambiente, os pesquisadores acadêmicos, os veículos de informação e as organizações ecológicas, que atuam em redes sem fronteiras.

Com tantos instrumentos locais, regionais, nacionais e internacionais de controle de cataclismas ambientais, é difícil acreditar que os rio-grandenses e os pampeanos em geral possam estar sendo vítimas de um grande engodo empresarial. Até prova em contrário, as florestadoras-celuloseiras estão dispostas a implantar projetos sustentáveis, de acordo com regras claras e duradouras, mas seria melhor para todos que jogassem mais aberto.
Por Geraldo Hasse

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