Sem defesa para o milho transgênico
2005-12-05
Revelado uma semana e meia depois da regulamentação da lei de biossegurança, o
cultivo de milho transgênico contrabandeado é condenado até pelos mais célebres
defensores da biotecnologia no Estado.
Em reportagem publicada por Zero Hora no sábado (03/12), agricultores admitiram
que estão usando sementes geneticamente modificadas.
Primeiro a reconhecer que os gaúchos plantavam soja transgênica, quando as
variedades eram proibidas, e um dos líderes do movimento que levou à legalização
do cultivo, o presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Carlos
Sperotto, enxerga com reservas o contrabando de milho.
- Não temos intenção de fazer como foi na soja. Temos uma legislação e
pretendemos cumpri-la-, diz.
Para legalizar a soja transgênica, o argumento era de que, além de ser segura, a
variedade estava totalmente disseminada no campo (hoje, já representa 95% do
cultivo no Rio Grande do Sul). Agora, a estratégia é esperar que a Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), para a qual o governo ainda deve
nomear 27 membros, seja constituída e então aprove os pedidos de liberação
comercial de cultivares geneticamente modificadas. Por enquanto, são cinco
solicitações, relata a pesquisadora Alda Lerayer, do Conselho de Informações
sobre Biotecnologia: três variedades para controle de insetos e duas resistentes
a herbicidas.
Um dos maiores defensores dos transgênicos no Estado, o engenheiro agrônomo e
pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Luiz Carlos
Federizzi não se cansa de exaltar os benefícios da biotecnologia, mas é áspero
ao avaliar o atual plantio de milho transgênico nas regiões Norte e das Missões:
- A pior coisa é a clandestinidade. Isso atinge todo o sistema.-
O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag), Ezídio
Pinheiro, outro que batalhou pela soja transgênica e admitiu seu plantio mesmo
quando era irregular, também passou a condenar o contrabando de sementes. Mas
atribui o fato irregular feito por agricultores à demora do país em definir
regras. Depois de anos de discussão até a sanção de uma lei de biossegurança,
em março deste ano, o governo federal levou mais oito meses para regulamentar a
matéria. (ZH, 04/12)