Guerra contra o lixo à beira-mar
2005-12-05
A instalação de 1.216 lixeiras, espalhadas entre Chuí e Torres, é uma das armas
das prefeituras do litoral para combater uma das maiores pragas do verão: o lixo
à beira-mar.
Baganas de cigarro, plásticos, pedaços de frutas, sabugos de milho, embalagens e
latas integram a lista dos itens que emporcalham a areia. A luta contra as mais
de cem toneladas de resíduos recolhidos diariamente nos 600 quilômetros de
praias gaúchas não pretende só deixar a areia mais agradável ao veranista. É uma
necessidade ambiental e uma forma de prevenir acidentes.
Estudo realizado na praia do Cassino, no Litoral Sul, pelo oceanólogo Isaac
Rodrigues dos Santos, da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg),
mostra que os restos de cigarro representam 50% dos resíduos, embora o plástico
atormente mais os ambientalistas.
- Plásticos viram naves, transportando espécies alienígenas de uma praia à outra
e causando alterações nos ecossistemas-, diz.
No Brasil, 18 espécies de crustáceos vindos nestas circunstâncias dos oceanos
Índico, Pacífico e Atlântico Norte e Oriental foram identificados. Na Nova
Zelândia, pesquisadores localizaram 92 espécies de algas e invertebrados
exóticos incrustados em plásticos.
Embora os banhistas não sejam os únicos geradores de lixo - há um grande
percentual despejado na água pelos navios -, é para eles que o foco da
conscientização está apontado. Para o biólogo Sérgio Estima, do Núcleo de
Educação e Monitoramento Ambiental (Nema), não adianta apenas distribuir sacolas
e panfletos nos balneários:
- Se não houver conscientização, este material também vira lixo.-
Estudando o Cassino por 60 dias no último veraneio, Santos comprovou que quanto
menor o poder aquisitivo e a escolaridade dos freqüentadores, maior o percentual
de resíduos na areia. Em locais ocupados por pessoas de menor escolaridade, cada
indivíduo deixa, em média, 2,9 resíduos. No setor freqüentado por usuários mais
instruídos, o índice cai para 1,3 resíduo.
Uma vez na areia, o lixo também vira arma. Diz a pesquisa que 30% dos veranistas
já se feriu ou conhece alguém que tenha se machucado por objetos que despontam
da areia.
- Interessante é que 54% dos entrevistados apontam a sujeira como o principal
empecilho ao lazer na praia-, acrescenta o oceanólogo.
Dispostas a manter o litoral limpo, além da prometida instalação de lixeiras, as
prefeituras montam forças-tarefa para recolher os resíduos. Sem a ajuda dos
freqüentadores, porém, o esforço será desperdiçado. (ZH, 04/12)