Transposição: Governo não explica presença de militares
2005-12-05
O governo ainda não sabe explicar o que um destacamento do 3º Batalhão de Engenharia e Construção (BEC) do Piauí faz na região de captação das águas do canal leste da transposição do Rio São Franscisco, entre as cidades de Petrolândia e Floresta (PE).
A denúncia de que o Exército estaria fazendo o levantamento topográfico para o início da obra e, portanto, descumprindo decisão judicial e acordo firmado em outubro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o frei Luiz Flávio Cappio, bispo da diocese da Barra (BA), foi divulgada, com exclusividade, na edição 143 do Brasil de Fato.
Na ocasião, a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) informou que os militares, apesar de terem sido deslocados para lá com aquela finalidade, tinham suspendido os trabalhos logo que foi selado o acordo com o religioso. A SRI disse que as atividades dos militares, agora, seriam destinadas a alguma outra coisa, mas sem precisar o quê. Essa versão foi mantida pela assessoria de imprensa da SRI no dia 28 de novembro.
Procurado pela reportagem no dia 29 de novembro, Egídio Serpa, assessor especial do ministro Ciro Gomes (Integração Nacional, o empreendedor da obra) e um dos principais defensores do projeto, afirmou que o Exército não se encontra na região de captação das águas do Eixo Leste da transposição.
— (Pelas determinações judiciais que existem) O Exército só estaria fazendo isso se fosse louco - garantiu Serpa.
Luciana Khoury, promotora de Justiça da Bahia e coordenadora do Projeto de Defesa do São Francisco da Bahia, informa que vai enviar ao Supremo Tribunal Federal (STF) as fotos do 3º BEC trabalhando em Petrolândia. Mandará também o depoimento de Alzení Tomáz, do Conselho Pastoral dos Pescadores, confirmando que ouviu dos militares a admissão de que estavam trabalhando pela transposição. A intenção é cobrar do ministro Sepúlveda Pertence, responsável pelas ações que paralisam a obra, uma atuação para fazer cumprir as determinações legais.
Para Luciana, o governo não ouve as críticas.
— Mesmo com relação às ações judiciais, a única preocupação é vencê-las no julgamento de mérito. O governo não faz qualquer esforço para se adequar ao que elas pedem. Precisa um juiz vir e obrigá-los a adotar as medidas - protesta. (Brasil de Fato, 02/12)