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eucalipto no pampa aracruz/vcp/fibria borregaard
2005-12-05
Em pouco mais de 300 anos, os colonizadores do território rio-grandense implantaram aqui diversos vegetais originários de outros ecossistemas. Entre os mais notórios imigrantes vegetais, sabe-se que os açorianos trouxeram o trigo, os portugueses a oliveira e os espanhóis os cítricos. Também se reconhece que os italianos plantaram a parreira, o plátano e o vime; já os alemães, poloneses e japoneses teriam contrabandeado a soja para o noroeste gaúcho e... quem foi mesmo que trouxe a acácia, o bambu, o cinamomo, a macieira, o pinus e tantos outros vegetais considerados exóticos?

Muitas dessas importações surgiram sem patrono ou padrinho. O eucalipto, por exemplo, teria chegado via Uruguai, em meados do século XIX, depois que alguns criadores de gado se deram conta de que a árvore australiana crescia bem em qualquer terreno, protegendo o gado do frio do inverno e do calor do verão – e, de quebra, dava uma lenha de boa qualidade para os fogos acesos nas noites geladas do pampa pouco arborizado.

Ainda está por se fazer a pesquisa definitiva sobre a história da introdução de diversos vegetais na campanha sul-riograndense, mas não resta dúvida de que o eucalipto é uma das espécies mais bem adaptadas aos ecossistemas nativos. Os famosos capões que se avistam em toda a zona rural gaúcha transformaram essa árvore num ingrediente tradicional da paisagem sulina. O eucalipto está longe de ser um estranho para os habitantes do Rio Grande do Sul.

Levando em conta que há cinco ou seis gerações os agricultores gaúchos manejam o eucalipto sem problemas – salvo engano, o saldo final parece ser positivo, caso contrário não se insistiria no seu plantio -, por que a espécie é tão discriminada pelos ambientalistas, a ponto de suscitar uma campanha contra a implantação dos megaprojetos dos grandes grupos internacionais de produção de celulose?

O senso comum reconhece que as plantações de eucalipto não apresentam bom aspecto, pois o cultivo adensado tolhe o desenvolvimento de outras espécies vegetais, inibindo também parte da fauna, que não encontra alimento na baixa biodiversidade dos eucaliptais. Mas esses problemas acontecem em todas as monoculturas temporárias ou perenes, sejam arrozais, cafezais, canaviais ou pinheirais. Na realidade, faltam provas de que o eucalipto seja nefasto para o meio ambiente.

Até agora a ciência agronômica não confirmou sequer a versão popular de que o eucalipto seca o solo. Respondendo a uma pergunta sobre a veracidade desse mito, o engenheiro Doadi Brena, professor da Universidade Federal de Santa Maria, disse literalmente no seminário de 30 de novembro de 2005 em Porto Alegre: — o que seca os solos são os projetos de drenagem feitos nas áreas onde se planta eucalipto -, mas os ambientalistas continuam a descarregar na árvore a oposição ao seu cultivo em larga escala. Estabeleceu-se assim uma confusão que não ajuda a esclarecer os fatos.

Convencidos de que há um sério risco potencial no desenvolvimento de mais uma monocultura no estado — ainda mais na Metade Sul, dominada pelo pampa, um ecossistema delicado —, os ambientalistas gaúchos vêm repetindo conceitos, slogans e temores criados em outros contextos, especialmente no Espírito Santo, onde o eucalipto ocupa 4% do território estadual, após quarenta anos de plantio sistemático por conta da Aracruz Celulose.

Apesar de disseminado por todo o Rio Grande do Sul, o eucalipto cobre menos de 1% do território gaúcho. E até agora não constituiu grandes maciços, salvo no município de Guaíba, de acordo com a Secretaria de Meio Ambiernte do Estado.

O eucalipto entrou no pampa inicialmente como planta ornamental, no final do século XIX, mas logo assumiu um papel econômico pois, pelo seu rápido crescimento, serviu como fonte emergencial de lenha, escoras de construção rural, postes telegráficos e dormentes ferroviários - renda, enfim. À medida que se desenvolvia a agroindústria, os eucaliptais se tornam fornecedores de lenha para diversas atividades rurais e urbanas, inclusive padarias e pizzarias

— os produtores de fumo do RS consomem anualmente 40 mil metros cúbicos de lenha em suas estufas-, informa o professor Mauro Valdir Schumacher, da UFSM. Disseminaram-se assim os capões de eucaliptos que, de acordo com diferentes apreciações, enfei(t)am a paisagem uniforme do pampa.

O líder rural Joaquim Francisco de Assis Brasil (1857-1938) foi um dos incentivadores do plantio do eucalipto na região de Pedras Altas, mas ele não estava sozinho nessa empreitada inovadora. No início da lavoura de arroz irrigado, na primeira década do século XX, o pioneiro Pedro Osório (1854-1931) fez grandes plantações de eucalipto em Pelotas para ter lenha suficiente para abastecer as fornalhas das locomóveis que levantavam água para os canais de irrigação.

Essas experiências pioneiras foram realizadas na mesma época em que o agrônomo paulista Edmundo Navarro de Andrade (1880-1941) importou uma centena de espécies de eucalipto para iniciar os hortos florestais da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, a mais moderna ferrovia brasileira do início do século XIX.

O encarecimento da lenha extraída das matas nativas recomendava o início da silvicultura. Foi assim que começou a extraordinária expansão da eucaliptocultura no Brasil. Hoje o eucalipto é a árvore mais cultivada no país, superando outras espécies arbóreas exóticas, como o cafeeiro e a laranjeira. No total, há no Brasil cerca de 4 milhões de hectares ocupados pela árvore oriunda da Austrália.

Altos e baixos marcam a trajetória do eucalipto no Brasil. Nos anos 1920, por exemplo, quando algumas ferrovias empenhavam um terço dos seus vagões no transporte de lenha para as respectivas locomotivas, acreditou-se que o eucalipto tivesse chegado ao fim da linha como insumo energético ferroviário. Algumas empresas ferroviárias iniciaram planos de eletrificação, descartando a lenha de eucalipto, mas a árvore demonstrou versatilidade.

Além de servir como fonte de postes e dormentes, algumas espécies de eucalipto mostraram aptidão como fornecedoras de madeira para móveis. Em Rio Claro (SP), a Cia Paulista fundou o Museu do Eucalipto, rico em informações sobre as qualidades da árvore autraliana.

Nos anos 50, o eucalipto foi testado como matéria-prima da indústria de celulose. Os bons resultados alcançados pela Companhia Suzano, em São Paulo, abriram o caminho para a expansão definitiva do eucalipto no Brasil e em outros países. Nem uma campanha internacional inibiu seu crescimento, intensificado com os incentivos fiscais ao reflorestamento da segunda metade dos anos 1960.

Nessa época, ao lado do eucalipto, o Rio Grande do Sul plantou outras espécies vegetais reconhecidas como boas produtoras de insumos industriais - acácia e pinus, principalmente, e também o pinheiro nativo, mais conhecido como pinheiro-do-Paraná, fonte do pinho, madeira que sustentou um ciclo de crescimento econômico no Sul do Brasil.

Nessa onda foi implantada em Guaíba a polêmica Borregaard (depois Riocell, hoje Aracruz), que começou a operar no início dos anos 1970, mas nem isso serviu para que o eucalipto constituísse grandes blocos florestais no território rio-grandense. Tanto que até o recente anúncio dos megaprojetos de celulose da Aracruz, Votorantim e StoraEnso os ambientalistas gaúchos manifestavam maior preocupação com o pinus norte-americano, adotado de forma mais ou menos generalizada no litoral e na serra, onde é pintado atualmente como espécie invasora.

Nesse contexto, em que aparece também como matéria-prima da indústria sulina de móveis, o eucalipto vive uma situação paradoxal: começa a ser apresentado como vilão ambiental no exato momento em que alguns grandes grupos econômicos dispõem-se a usá-lo como vetor florestal de investimentos de inédita magnitude no território gaúcho.
Por Geraldo Hasse

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