Consultor cobra lingaguem acessível em relatórios ambientais
2005-12-05
Macrófita é a mãe, título do livro esgotado, é propositadamente uma provocação, explicou o autor e consultor do Ibama, Ivan Dutra, durante palestra no último Quintas Ambientais, evento que o instituto realiza semanalmente para discutir temas da área ambiental.
No livro, Dutra aborda a falta de clareza da linguagem usada em estudos e relatórios de impactos ambientais, exigidos no licenciamento de obras de potencial dano à natureza. Esses documentos são abertos a consulta antes e durante a realização de audiências públicas para que a população conheça a obra e seus impactos e possa apresentar críticas, sugestões e opiniões.
As manifestações são consideradas no processo de licenciamento no Ibama. — Se, na gestão ambiental, a sociedade deve decidir; então a sociedade tem que saber sobre o que vai decidir-, comenta Dutra, que defende relatórios com informações consistentes, claras e transmitidas em linguagem compreensível para a população.
Na prática, não é assim que acontece. Dutra questionou durante a palestra quem seria capaz de entender uma expressão freqüente em relatórios de barragens brasileiras, a exemplo de as espécies reofílicas serão afetadas pela transformação do regime lótico em regime lêntico. Tradução: peixe de água corrente na transformação do rio em lago (do reservatório da barragem). A propósito, você que não é da área de limnologia (estudo de águas interiores) e botânica sabe o que é macrófita? Planta aquática como a vitória-régia.
A democratização da linguagem é, segundo Dutra, essencial para evitar atritos e facilitar a mediação de conflitos socioambientais. — Em audiências púbicas ocorrem ataques ou defesas de posições que não correspondem ao mesmo fato.
Ele cita o caso da compensação. Medidas compensatórias referem-se a ações para recuperar o dano ambiental (desmatou uma área para construir uma hidrelétrica, então fará o reflorestamento). Já compensação ambiental é um valor cobrado do empreendedor e aplicado em unidade de conservação atingida direta ou indiretamente pela obra. Os dois conceitos geram muita confusão.
O problema não é exclusivo da área ambiental. O consultor apresentou resultado de pesquisa feita pela empresa Computer People, neste ano, com mil pessoas que trabalham em escritórios na Inglaterra: 67% dos entrevistados se sentem despreparados para lidar com os jargões da informática e 56% acham que os profissionais desta área falam outro idioma. (Ibama, 2/12)