Cúpula de Montreal: acordos globais sobre corte de gases não funcionam mais
2005-12-05
Em dezembro de 1997, representantes da maioria das nações do mundo encontraram-se em Kyoto, no Japão, para negociar um acordo visando ao corte de emissões de gases de efeito estufa. Tiveram sucesso. O Protocolo de Kyoto foi, por fim, ratificado por 156 países. Foi o primeiro acordo deste tipo. Mas poderá ser o último.
Na última sexta-feira (3/12), em meio às conversações sobre aquecimento global em Montreal, no Canadá, havia um consenso de que a idéia de acordos globais para corte de gases de efeito estufa não iriam mais funcionar.
A principal razão para o otimismo com relação a Kyoto erodiu tão rapidamente que o seu maior requerimento – que 38 países industrializados participantes cortem até 2012 seus gases estufa abaixo dos níveis de emissão de 1990 – foi visto como apenas um primeiro passo em direção a cortes cada vez mais agressivos.
Mas anos após o anúncio do Protocolo de Kyoto, países em desenvolvimento, incluindo os gigantes China e Índia, têm fechado questão em não aceitar cortes de emissões, mesmo sendo eles prováveis fontes dominantes de emissão de gases estufas em anos próximos. Sua recusa deu combustível para uma forte oposição ao tratado por parte do Senado dos Estados Unidos e sua rejeição por parte do presidente Bush.
Mas o atual impasse não se deve apenas às inadequações do protocolo. É também uma resposta ao apetite por energia que se espalha por todo o mundo, que, amplamente, por causa do crescimento econômico da China, excedeu todas as expectativas. E ainda não há alternativas viáveis aos combustíveis fósseis, a principal fonte dos gases de efeito estufa.
Há agora, também, um crescente reconhecimento dos custos econômicos decorridos da assinatura do Protocolo de Kyoto. Como afirmou o primeiro-ministro britânico Tony Blair, um proponente dos alvos de emissões, em 1º de novembro último: – A verdade crua sobre as políticas de mudança climática é que nenhum país vai querer sacrificar sua economia a fim de atingir esse desafio.
Esta é uma verdade, compreendida de formas diferentes, nas nações desenvolvidas com altas taxas de desemprego, como a Alemanha e a França, bem como na Rússia, que, na semana passada, informou que enfrentará escassez de energia já neste inverno.
Alguns veteranos da diplomacia climática e da ciência agora dizem que talvez toda a arquitetura do processo do tratado deve ter falhas. O modelo básico do acordo partiu do primeiro pacto internacional destinado a proteger a atmosfera, o Protocolo de Montreal de 1987, que visava a eliminar substâncias químicas perigosas que prejudicavam a camada de ozônio, afirma Richard A. Benedick, representante chefe da administração Reagan que participou das negociações que levaram àquele acordo.
Tal acordo foi um sucesso, mas mal conduzido no contexto da mudança climática. Segundo Benedick, ele levou a perda de anos nessas festas anuais destinadas a gerar querelas em vez de contemplaçoes sóbrias das questões difíceis.
— Enquanto era relativamente fácil de eliminar as substâncias químicas prejudiciais à camada de ozônio, chamadas clorofluorocarbonos, que eram produzidas por companhias em poucos países, a redução do dióxido de carbono, principal ameaça ao clima, é uma questão completamente diferente -, afirma Benedick.
O dióxido de carbono é gerado por atividades tão variadas quanto dirigir um carro, queimar madeira ou voar até Montreal. Sua produção é entrelaçada entre fábricas e a sociedade industrial e, por ora, o crescimento econômico é inconcebível sem ele.
Países em desenvolvimento - China e Índia são os exemplos mais drásticos – querem queimar tanta energia quanto necessário, da forma que estiver disponível, para fazer suas economias crescerem e darem um melhor padrão econômico para sua população.
E os Estados Unidos - de longe, o maior produtor de gases de efeito estufa – continua a afirmar que os alvos de emissão ou requerimentos deveriam ser seguidos tanto por nações economicamente desenvolvidas quanto por nações pobres. Tudo isto foi discutido no encontro de Montreal, e muitos participantes do evento concordam que, no máximo, ele tem sido uma reunião preliminar sobre como começar a encaminhar as ameaças sobre o aquecimento global.
Em vez disto, de agora em diante, o progresso sobre a mudança climática é menos provável de resultar de megaconferências como as de Montreal e mais provável de vir de iniciativas focadas por grupos de países com interesses comuns, afirma Benedick, hoje consultor e presidente do Conselho Nacional de Ciência e Meio Ambiente, grupo privado que promove políticas ambientais baseadas em critérios científicos.
A única resposta real neste momento ainda está distante do horizonte: fontes de energia não poluentes. Mas a quantidade de dinheiro necessária destinada à pesquisa e ao desenvolvimento de tais tecnologias está longe da escala do problema, dizem muitos especialistas em energia.
— Investimentos enormes em pesquisa básica devem ser mapeados rapidamente, mesmo sabendo-se que a maior parte da pesquisa provavelmente irá fracassar, se houver qualquer chance de criarem-se opções para o aumento da vasta sede por energia -, aponta Richard G. Richels, economista do Instituto de Pesquisa em Energia Elétrica, um centro com fins não lucrativos para a pesquisa em energia e meio ambiente. – O trem não está saindo da estação e ele precisa partir –, diz Richels. – Se não tivermos as tecnologias disponíveis em tempo, será uma confusão –, conclui. (Fonte: The New York Times, 4/12)