Consumo de água por florestas rende polêmica entre pesquisadores
2005-12-01
Entre as inúmeras polêmicas geradas no evento, a quantidade da água consumida pelo eucalipto foi a maior. Baseado em estudos da universidade, na qual também leciona, o engenheiro florestal Doadi Brena, da Universidade Federal de Santa Maria e da ONG Amigos da Floresta, apresentou seus números.
Segundo ele, as árvores da Floresta Amazônica consumiriam por ano, cerca de 1500 milímetros de água, enquanto as pertencentes à Mata Atlântica, aproximadamente 1200 milímetros. Já as florestas de eucalipto, conforme o professor, utilizariam apenas 900 milímetros de água por ano.
Ele explicou, no entanto, que esses dados podem variar dependendo do ciclo hidrogeológico. — Uma floresta tropical tende a consumir muito mais água do que uma floresta no Rio Grande do Sul-, exemplifica.
Brena teve seus números contestados por um peso-pesado do meio acadêmico gaúcho, o Prof. Dr. em Biologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ludwig Buckup. De acordo com ele, a evaporação da água com as florestas eucaliptianas fincadas no pampa seria 20% maior do que o total de precipitação. — Dizem que vão plantar 150 mil hectares, sendo a metade de eucalipto. Isso daria em torno de 35 milhões de árvores, o equivalente a 1.43 quatriliões de litros da água retirados do solo-, calculou.
Buckup disse ainda que andou por todo região sul nos últimos meses e o que viu foi uma verdadeira barbárie provocada pelo plantio indiscriminado não só de eucalipto, mas principalmente de pinus, espécie, que além de exótica, é invasora, próximas a Araucárias e matas ciliares. — Vi e tirei fotos-, afirmou, mostrando algumas (retiradas de Ponta Grossa no Paraná) aos presentes.
O biólogo da UFRGS também contestou a informação de Brena sobre a formação de húmus nas florestas plantadas. — Não existe nada disso (húmus) em pinus. Depois que se retira a árvore o solo se torna estéril, pobre. Quanto tempo teremos de esperar para aproveitá-lo novamente? -, questionou.
Buckup também bateu no argumento econômico. Segundo ele, a silvicultura não seria uma atividade tão rentável assim. — Lucro pra quem? Quanto o produtor recebe por cada tora transportada no porto de Rio Grande para o exterior. Isso aqui só pode ser matéria paga-, protestou mostrando uma reportagem do jornal Zero Hora. — Quem paga o dano ambiental provocado pela silvicultura, quem repara o solo? -, questionou novamente sob aplausos de boa parte da platéia.
Apesar de opositor ferrenho aos projetos florestais, Buckup reconheceu a necessidade de madeira no Brasil. — Precisamos, é óbvio. Mas não no Pampa. Aquilo lá não é um vazio, é um ecossistema rico, especialmente nas encostas com diversas espécies endêmicas-, finalizou.
Por Carlos Matsubara