Produzir alimentos sem destruir a natureza já é realidade
2005-12-01
No futuro, a questão da preservação ambiental na agricultura irá ficar ainda mais em evidência, ditando regras à produção. Segundo o chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, Paulo Kitamura, o Brasil, seguindo a tendência mundial, deve investir em uma agricultura cada vez mais sustentável.
— A busca pela qualidade ambiental é geral - diz, acrescentando que, assim como ocorreu com a questão da segurança alimentar, a produção sustentável tem como alvo maior o consumidor. Kitamura conta que, até os anos 80, a preocupação do consumidor era com a padronização dos produtos; depois, quando surgiu o conceito de rastreabilidade, o questionamento era em relação à origem do produto; hoje, além de tudo isso, há a preocupação com o ambiente.
— Isso é novidade, mas faz parte das relações de comércio. Se o mercado está nesse caminho significa que o tema é importante - diz. O Brasil, acredita, deverá seguir o exemplo da Europa, onde 80% da produção de frutas, hortaliças e flores obedecem a critérios ambientais.
Tendências
O professor de Economia da Esalq/USP Carlos José Caetano Bacha destaca a importância das reservas legais no futuro.
— A reserva legal, área que pode ser explorada de forma sustentável, mas não pode ser destruída, ainda está regulamentada como medida provisória e, em algumas regiões, ela não tem o poder de lei. Liminares livraram certas propriedades - diz. Bacha explica que a reserva rural é vital porque levanta a questão da responsabilidade ambiental.
— O produtor rural que não cumprir as determinações pode ser denunciado por crime ambiental. Segundo Bacha, a expectativa é a de que a medida seja regulamentada como lei, para, aí sim, surtir efeito.
Como tendências, Kitamura cita a produção integrada, a certificação e a produção orgânica. A produção integrada, por envolver um código de conduta elaborado, encaixa-se no sistema de boas práticas agrícolas. Além disso, o sistema reduz o uso de agrotóxicos em até 75%. A previsão é a de que outros produtos entrem na produção integrada.
— Como o sistema é constantemente monitorado, o ambiente fica protegido - afirma o chefe da Embrapa. A certificação de produtos, que traz o conceito de rastreabilidade, também deve contribuir para a preservação ambiental.
— Com a certificação é possível saber a origem do produto e em que condições ele foi feito: isso também inclui a questão ambiental.
Em relação ao mercado orgânico, Kitamura diz se tratar de uma aposta certa para o futuro.
— O setor de produtos orgânicos está em expansão e a demanda crescente mostra que, cada vez mais, as pessoas buscam qualidade em todos os aspectos.
Segundo o chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, cada hectare cultivado no País perde, em média, 10 toneladas de solo por ano. Em São Paulo, onde a agricultura tem alto índice de mecanização, a perda de solo pela erosão chega a 25 toneladas por hectare a cada ano.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Solos Aluísio Granato de Andrade, a preservação ambiental deve começar pelo solo e pela água.
— A conservação do solo é indissociável da conservação da água - afirma. Segundo Andrade, o futuro do ambiente irá depender de como o produtor usará a terra. Nesse processo, o pesquisador destaca a importância das microbacias.
— Na atividade agrícola, é cada vez mais importante conhecer os recursos que o solo disponibiliza e suas propriedades, para ver se ele tem a aptidão necessária. A situação atual é a de que muitos solos estão vulneráveis, exigindo preservação e recuperação. O futuro vai depender disso, e o solo deverá apoiar-se nos projetos de microbacias - prevê.
Outra aposta do pesquisador é a busca por novos insumos tecnológicos, que deve contribuir muito com o ambiente no futuro. Esses insumos, mais eficientes, além de garantirem mais qualidade aos produtos, vão evitar riscos de contaminação do lençol freático.
— A utilização de resíduos orgânicos como substrato para o solo é uma grande tendência e vai refletir de forma positiva no ambiente - acredita.
O pesquisador também destaca o plantio direto, que deverá se expandir e se adaptar a outras culturas. Por se tratar de um sistema conservacionista, o plantio direto reduz as perdas do solo e facilita o seqüestro de carbono.
— O sistema de plantio direto precisa ser muito mais difundido. Hoje, ele está ajustado apenas à produção de milho, soja e trigo, mas, no futuro, espero que o sistema consiga abranger outras culturas e ocupar todas as áreas de grãos e pastagens. (O Estado de S. Paulo, 30/11)