Gripe aviária já causa paranóia em Hong Kong, dizem especialistas
2005-12-01
Dois anos depois após a eclosão da epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Severa (Sars), a ameaça de uma pandemia de gripe aviária fez recair sobre Hong Kong a paranóia, afirmam especialistas. Sinais desse medo já podem ser vistos na distribuição de sabão nos escritórios e grandes armazéns, assim como em tapetes desinfetantes nos hotéis, usados para as pessoas passar e limpar a sola dos sapatos na entrada.
A chegada do inverno --tradicionalmente a temporada de gripes-- multiplicou as advertências para se respeitar estritamente a higiene a fim de evitar a explosão de um epidemia que poderia provocar milhões de mortes, conforme peritos. Mas segundo cientistas, o medo excessivo da gripe aviária pode ser contraproducente para a população, que voltou a sair às ruas com máscaras cirúrgicas, como já havia acontecido há dois anos por causa da Sars.
–Se a população é aterrorizada e não se pára de repetir que existe um risco e nada acontece por um tempo, as pessoas baixarão a guarda quando uma pandemia vier efetivamente–, explicou Frederick Leung, professor da faculdade de ciências da Universidade de Hong Kong.
Já habituada a todo o tipo de doenças, Hong Kong sofreu a morte de 229 pessoas em 2003 por causa da epidemia de Sars, que no mundo todo deixou um total de 774 óbitos.
A epidemia arrasou a economia local e tirou da cidade milhões de turistas. As ruas ficaram desertas e as escolas, restaurantes e todos os lugares públicos foram fechados.
O governo local dedicou milhões de dólares para a criação de um –exército de saúde pública– encarregado de desinfetar elevadores, calçadas, ruas e inclusive barreiras nas estradas.
Na época, foram adotadas multas de alto valor para tentar acabar com a antiga tradição chinesa de cuspir em escarradeiras ou mesmo nas ruas.
–As medidas contra a Sars foram bem-sucedidas. O número de mortes foi baixo e conseguimos impedir uma propagação mundial–, destacou o professor, cuja universidade descobriu o código genético da mortífera doença.
Leung frisou que todo o trabalho que Hong Kong está colocando em marcha atualmente pela gripe aviária se baseia na experiência com a Sars.
A cidade também tem experiência na gripe aviária, pois em 1997 o vírus H5N1, até aquele momento só presente em animais, passou pela primeira vez a humanos e provocou a morte de seis pessoas.
As sete milhões de pessoas que vivem em Hong Kong se deixam levar muitas vezes pela impressão de se encontrar em uma –espécie de front de epidemias mundiais–, diz o professor.
–Contudo, o pânico não é bom para ninguém. Na verdade, é contraproducente–, disse Desmond O Toole, responsável pela Faculdade de Biologia da Universidade Municipal de Hong Kong.
–Quando a população se deixa levar pelo pânico não escuta as recomendações científicas. É então que todos ficam mais vulneráveis–, advertiu OToole.
No entanto, o perito não acredita que o governo esteja exagerando no perigo, pois não tem qualquer idéia da forma que tomará a gripe aviária se ela passar a ser transmitida de homem para homem. (AFP, 30/11)