Evento defende importância ambiental e econômica do carvão mineral
2005-11-30
Durante os dois dias do Fórum Internacional do Carvão Mineral: Energia Segura com Responsabilidade Ambiental, realizado em Porto Alegre a partir da segunda-feira (28/11), técnicos brasileiros e estrangeiros defenderam que o carvão - aliado com a tecnologia adequada - pode gerar uma energia não poluente e ao mesmo tempo rentável.
O evento apresentou as usinas consideradas de tecnologia limpa que estão sendo implantadas no Brasil. Os palestrantes fizeram questão de explicitar dados sobre a eficiência dos novos projetos. O assessor de desenvolvimento da Copelmi, Ignácio Resende, trouxe informações sobre a Usina Termelétrica de Seival, em Candiota (RS), que será capaz de gerar até 500 MW de energia. O carvão usado é nacional, retirado do município sede da usina. – É barato e está próximo da superfície-, afirma o técnico.
Na mão dos empreendedores já está a autorização da Aneel, além de redução da alíquota do ICMS. Entre os benefícios, os industriais estimam que possam economizar de 100 a 110 milhões de reais em impostos. A Copelmi também prevê a criação de cerca de 5000 empregos diretos e indiretos. – Há vantagens no lado de infra-estrutura também, pois desenvolvemos regiões carentes como a Metade do Sul do estado e evitamos uma migração para os grandes centros populacionais-, acrescentou. A empresa pretende por a usina em funcionamento no dia 1º de janeiro de 2010.
Já a Usitesc (Usina Termelétrica Sul-catarinense), localizada em Treviso, sul de Santa Catarina, produzirá um pouco menos de eletricidade do que o projeto de Seival, ficando nos 440MW. Mas suas premissas, da mesma forma, estão calcadas na competitividade do mercado energético e na necessidade de um melhor desempenho ambiental do setor. – Evitar a produção de quantidades adicionais de rejeitos de carvão e, se possível, consumir esses resíduos estocados faz parte da filosofia do empreendimento-, afirma o gerente de desenvolvimento do projeto, José Carlos Carvalho Cunha.
O combustível usado é uma mistura de carvão bruto (ROM) com rejeitos de carvão, e a tecnologia empregada é o leito fluidizado circulante (CFB em inglês), reconhecido mundialmente, segundo o técnico, como tecnologia limpa. O método permite a retenção de aproximadamente 90% dos gases de enxofre graças à adição de calcário à combustão. A viabilidade ambiental do projeto foi apresentada na forma de slides , que mostraram usinas na Europa funcionando em meio a cidades como Berlim, na Alemanha.
Experiências demonstram potencial
Em outro painel, especialistas estrangeiros apresentaram um panorama do que está acontecendo em outros países. – Sabemos que o Brasil tem suas peculiaridades, mas apresentar a experiência alemã pode ser interessante-, salientou Marc Gurenewald, da Steag. De acordo com ele, a Alemanha vive um processo de substituição de suas usinas nucleares. Os novos empreendimentos, no entanto, precisam ser também rentáveis, e o método seguro é a aplicação de tecnologias já testadas. – Não podemos perder dinheiro com isso hoje -, conta. O governo alemão incentiva pesquisas em fontes renováveis mas, para Gurenewald, as usinas convencionais ainda são a melhor opção atualmente se usarem as tecnologias adequadas para emitir pouco CO2.
O representante do U.S. Departament of Energy, Joseph Giove, destacou a presença do carvão mineral na indústria dos Estados Unidos (o combustível gera 54% da eletricidade do país), bem como o incentivo governamental às práticas de energia limpa. – Há programas para o carvão, e se as novas usinas são caras no estágio atual, terão seu custo diminuído ao entrarem definitivamente no mercado-, reiterou. Segundo estimativas apresentadas pelo especialista, em 2020 o planeta terá a população aumentada de 6 para 7,5 bilhões de habitantes, com uma maior demanda em todas as fontes de energia. Seria necessário, por exemplo, 45% mais carvão, enquanto que o petróleo e o gás natural teriam demanda 55% e 105% maior, respectivamente.
Na visão do norte-americano, entre os desafios enfrentados, porém, o carvão mineral sai na frente. – Os poluentes podem chegar a quase zero, depende apenas da tecnologia, além da possibilidade de manter os preços estáveis e da abundância -, registra Giove.
O uso do carvão nos Estados Unidos e, principalmente, na Europa, foram apontados como uma prova de segurança pelo diretor do Siesesc (Sindicato da Indústria da Extração de Carvão do Estado de Santa Catarina), Fernando Luiz Zancan. Segundo ele, as tendências hoje convergem para modos mais corretos de produção energética, pois o seqüestro de carbono mostra-se como uma saída para os problemas da emissão de gases.
– O carvão tem muito a contribuir se soubermos usar os meios certos. Santa Teresinha, no litoral gaúcho, possui boas reservas para a metalurgia, mas ainda é pouco explorado. Está na hora de caminharmos para frente, percebendo as possibilidades de emprego e renda. -, conclui Zancan.
Durante o Fórum, foi anunciado pelo secretário de Planejamento Energético do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, que o governo federal está empenhado, agora, em descobrir novas fontes de carvão mineral no Brasil. — O Rio Grande do Sul torce para que sejam encontradas reservas em outros lugares do país. Certamente teremos mais força para melhor aproveitar este combustível genuinamente brasileiro na matriz energética nacional-, destacou o secretário estadual de Energia, Minas e Comunicações, Valdir Andres.
O outro lado da questão
Ambientalistas e ONGs, entretanto, são contrárias ao uso do carvão. O Núcleo Amigos da Terra (NAT) vê o combustível como um sinônimo para doenças respiratórias, contaminação dos mananciais hídricos, alteração da paisagem, contaminação do solo e energia cara. A coordenadora-executiva do NAT, Káthia Vasconcellos, chegou a alertar, no início do mês, para a coincidência de datas entre o Fórum Internacional do Carvão e a da audiência pública para instalação da Usina Termelétrica do Sul – CTSul.
Os movimentos reiteram sua posição contra o carvão mineral impedindo a conclusão das Usinas Térmicas de Jacuí e Candiota. Em maio de 2004, depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter anunciado que o governo firmaria acordos para a compra de uma termelétrica a carvão da China a ser instalada no Rio Grande do Sul, ambientalistas lançaram o movimento Coalizão carvão não! . Entre as reivindicações, exigiam o cancelamento novas usinas que usassem a matéria-prima e a desativação das atuais.
Por Patrícia Benvenuti