Agricultores votam proposta de apoio à proibição dos transgênicos no Paraná
2005-11-30
Representantes da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) e do setor
industrial votaram contra a proposta de liberação dos transgênicos, e a favor da
proibição adotada pelo Governo do Paraná, durante a Conferência Estadual do Meio
Ambiente, encerrada na madrugada dessa segunda-feira (28/11), em Curitiba. Os
delegados com direito a voto foram indicados pelas próprias instituições a
participarem dos eventos realizados em todo o Estado.
Ao ser informado sobre a mudança de posicionamento da entidade, durante a
reunião da Operação Mãos Limpas , o governador Roberto Requião disse que
a Faep votou pela opção mais sensata . – É muito bom quando as posições
são reformuladas positivamente. Votar contra os transgênicos significa despertar
para os seus malefícios-, disse o governador.
As propostas aprovadas foram sugeridas em nove Conferências regionais realizadas
no Estado e incluem também promover indenização, por parte da empresa detentora
da patente, aos produtores lesados econômica ou ambientalmente pelo uso ou
cultivo de transgênicos; fiscalizar as fronteiras nacionais, por meio dos órgãos
governamentais (estadual e federal) contra produtos não-liberados, como milho e
outros; apoiar a política de proibição dos transgênicos no Estado do Paraná;
garantir a identificação de produtos geneticamente modificados, convencionais e
orgânicos, bem como de seus derivados, por meio de rotulagem.
As propostas que foram rejeitadas pelos delegados com direito a voto foram a
liberação parcial do plantio mediante autorização dos órgãos competentes
(CTNBio), liberação do plantio, transporte, comercialização e exportação e a
liberação da comercialização de produtos transgênicos somente com a ampla e
clara divulgação no rótulo em todo território nacional.
As propostas aprovadas serão defendidas em Brasília durante a Conferência
Nacional do Meio Ambiente, que acontecerá entre os dias 10 e 13 de dezembro.
A entidade representava 30% da plenária da Conferência, juntamente com a
Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), empresários autônomos do setor e
comerciantes. O restante da plenária foi dividida em 50% do direito a voto para
Organizações Não-Governamentais (ONGs) e movimentos sociais e outros 20% para o
setor governamental.
O secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos Luiz Eduardo Cheida disse que
a participação dos agricultores paranaenses representou 80% do público presente
durante os encontros. – Garantimos a incorporação da variável social à questão
ambiental. A participação maciça dos agricultores durante as Conferências
demonstra inversão de conceitos e o valor que vem sendo dado à resolução dos
problemas ambientais visando o aumento de produtividade-, destacou Cheida.
Ele disse que as pessoas estão compreendendo que a questão técnica não é
suficiente para se resolver a questão ambiental. – Por esse motivo os temas de
maior debate durante as Conferências têm sido a reserva legal, ocupação em áreas
de várzea, mata ciliar e o uso intensivo de agrotóxicos. Há pouco tempo, temas
de difícil consenso, mas hoje debatidos amplamente e interligados a legislação
ambiental-, afirmou.
Repercussão – A mudança de posição da Federação da Agricultura do Paraná
repercutiu positivamente entre os ambientalistas.
O engenheiro agrônomo do Greenpeace no Brasil, Ventura Eduardo de Souza Barbeiro,
disse que a adesão da Faep reforça o ponto que vem sendo defendido pela
organização mundialmente, que é a oportunidade de mercado. – Os agricultores
sempre foram motivados pela questão econômica ao defender os transgênicos, e
hoje estão vendo que essa economia não existe, pelo contrário, traz prejuízos-,
disse Ventura.
Segundo ele, estudos já comprovam que depois de três anos de plantio o uso de
agrotóxicos aumenta consideravelmente e que o mercado para a soja convencional
está crescendo cada vez mais. O engenheiro citou como exemplo o referendo na
Suíça onde a maioria da população decidiu por uma moratória de cinco anos para
as plantações geneticamente modificadas no país.
– A Suíça mostrou seriedade na implantação do Princípio de Precaução nos
protocolos de biossegurança, ao contrário do Brasil, que não consegue sequer
implementar a rotulagem, que é direito essencial do consumidor. Esperamos que
esta posição dos agricultores paranaense possa motivar produtores dos demais
estados-, ressaltou Ventura.
A ambientalista Tereza Urban disse que essa mudança de posicionamento dos
agricultores não deve acontecer apenas com base em interesses no aumento de
mercado mundial. Ela defendeu que os produtos geneticamente modificados devem
ser tratados com uma visão de conjunto. – O desmatamento desenfreado no Paraná
ocasionou a redução da capacidade de resistência dos ambientes naturais sobre os
transgênicos. O combate aos produtos geneticamente modificados deve estar aliado
a uma política de recomposição da cobertura florestal e de recuperação dos
ambientes degradados-, destacou Tereza.
Funcionamento – Foram aprovadas cerca de 600 propostas. Os temas
sugeridos foram controle social e popular, uso sustentável dos recursos naturais,
biodiversidade e biossegurança e política integrada, sendo que cada grupo elegeu
112 propostas prioritárias.
Durante as Conferências regionais saíram 460 delegados eleitos nos municípios de
Cascavel, Ponta Grossa, Curitiba, Londrina, Cornélio Procópio, Guarapuava,
Francisco Beltrão, Maringá e Umuarama. Deste grupo, apenas 60 defenderão as
propostas do Paraná na Conferência Nacional. (Agência de Notícias do Paraná, 29/11)