Arcelor desiste de siderúrgica no Maranhão
2005-11-30
O Brasil não é mais um país atrativo para novos investimentos, ao menos na visão da gigante mundial de siderurgia Arcelor. O grupo desistiu, por ora, de construir uma usina no Maranhão por causa do câmbio desfavorável e da elevada carga de tributos, informou ontem o presidente mundial da Arcelor, Guy Dolé. Orçado de US$ 1 bilhão a US$ 1,5 bilhão, o projeto está na gaveta por não ser viável economicamente em razão dos altos custos de investir no Brasil, segundo Dolé.
— Hoje, é quase tão caro investir no Brasil quanto na Europa. Isso não pode continuar porque, caso contrário, as empresas não vão investir no país - afirmou Dolé.
Só se o preço do aço subir ou se o dólar se valorizar é que o projeto pode se tornar viável, de acordo com o executivo. — Com essas duas premissas como estão hoje, é inviável - afirmou.
A usina, que seria instalada próxima a São Luís, na área do porto de Itaqui, produziria 3,8 milhões de toneladas de placas de aço. Seria uma planta destinada à exportação e daria início ao ambicioso projeto do governo, capitaneado pelo BNDES, de lançar um pólo siderúrgico no Maranhão. A Vale seria sócia da Arcelor, segunda maior siderúrgica do mundo, que constituiu holding no Brasil (Arcelor Brasil) com papéis na Bovespa para gerir suas usinas (CST, Belgo Mineira e Vega do Sul).
Para José Armando de Figueiredo Campos, presidente da Arcelor Brasil, nem a desoneração tributária da MP do Bem foi capaz de tornar o projeto do Maranhão viável. Na China, afirma, uma usina com a mesma capacidade custa um terço do valor - em torno de US$ 1 bilhão.
Campos também criticou a demora na concessão de licenças ambientais, que travam os investimentos. Para ele, há uma sobreposição de poderes para legislar sobre a questão entre União, Estados e municípios que leva à ineficiência e à possibilidade de uma licença já dada ser contestada na Justiça com o projeto já em curso. Tudo isso, diz, afasta o investidor.
Alegando os mesmos motivos, a chinesa Baosteel desistiu do projeto da usina no Maranhão. A sul-coreana Posco, que havia cogitado se instalar no que seria um pólo regional de produção de aço, também já abandonou a idéia e anunciou a construção de uma unidade na Índia.
Apesar da suspender o projeto no Maranhão, Dolé reafirmou que decisões de investimentos já feitas estão mantidas, como o terceiro alto-forno da CST, que custará US$ 1 bilhão. Estão previstos investimentos de US$ 4 bilhões no país entre 2004 e 2007. (Folha de S.Paulo, 29/11)