Bispo de Barra promete levar a Lula alternativas à transposição
2005-11-30
— A greve de fome foi um grande grito de desespero. Agora eu vejo que o problema é da nação brasileira e nós temos que partir para a ação - disse dom Luiz Cappio, o bispo do município de Barra que permaneceu em jejum por 11 dias como tentativa de impedir o projeto do governo federal de transposição do Rio São Francisco. A afirmação foi feita ontem durante a II Conferência Estadual do Meio Ambiente, que acontece até hoje no Museu de Ciência e Tecnologia, no Imbuí.
Dom Cappio foi muito aplaudido durante a sua exposição e afirmou que o presidente Lula sinalizou a intenção de se encontrar com ele. Cappio está aguardando a finalização do Projeto Alternativo de Convivência com o Semi-árido, que está sendo elaborado por um grupo de 50 pessoas, para marcar o encontro que deve acontecer em Brasília.
— Eu quero levar ao presidente os motivos que fazem com que nós sejamos contra a transposição do São Francisco e vamos também apresentar alternativas inteligentes e pensadas para o projeto - falou dom Cappio.
De acordo com o bispo, o projeto de transposição além de danificar o meio ambiente não possui uma justificativa plausível para que seja executado.
— O endereço da água é equivocado. Ela não será destinada para o povo e sim para grandes empresas - disse Cappio, que mantém a esperança de que o projeto não seja executado enquanto não for amplamente discutido conforme foi acordado com o governo federal, em setembro.
Dom Cappio afirmou que as margens do rio estão sendo devastadas por carvoarias.
— Não acredito que seja possível fazer a revitalização do rio sem que seja regularizada a questão do carvão. Enquanto se investe na recuperação das matas ciliares está havendo o desmatamento por parte de grandes empresas da vegetação à beira dos afluentes do rio, principalmente nos municípios de Ibotirama, Mucugê e Barra - afirmou dom Cappio.
Redenção da seca no Nordeste
O Projeto de Integração de Bacias Hidrográficas do São Francisco é defendido pelo governo federal como a redenção da seca no Nordeste. O governo federal pretende captar água do Velho Chico e da Barragem do Sobradinho para levá-la aos sertões setentrionais do Nordeste.
Um representante do Ministério do Meio Ambiente também participou do ciclo de debates realizado ontem. Pedro Ivo Batista, que acumula ainda a função de coordenador da Conferência Nacional do Meio Ambiente, que acontecerá entre os dia 10 e 13 de dezembro, em Brasília, afirmou que a preocupação do ministério é com a revitalização do rio.
— Temos R$32 milhões disponíveis para realizar ações de revitalização no rio. A obra de transposição cabe ao Ministério da Integração, mas como não há consenso acerca da integração das bacias esse será um tema ainda muito debatido, principalmente durante a conferência nacional - disse Pedro Ivo.
Dom Cappio disse que a parte essencial para a revitalização do rio é a execução de serviços de saneamento básico. Ele alerta que cerca de 500 municípios no entorno do rio despejam o esgoto no rio sem tratamento prévio.
— É muito importante também que esses recursos que serão empregados na revitalização do rio sejam fiscalizados. Ações como essa demandam altos investimentos e devem ser acompanhados de perto. A sociedade deve estar atenta e atuar como fiscalizadora - disse o bispo.
Hoje, a programação da conferência será voltada para a votação de propostas e moções. Acontece também a eleição dos delegados nacionais. Os temas debatidos nos três dias de conferência servirão de base para as discussões das problemáticas do estado na Conferência Nacional. (Correio da Bahia, 30/11)