(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2005-11-29
Em Porto Alegre, os incineradores encontraram uma tradição de trinta anos de combate ao autoritarismo político, luta contra a empresa de celulose e conscientização contra os agrotóxicos, consolidados em um autêntico movimento ambientalista.

Nos países industriais a aceitação de uma nova tecnologia seguia duas vertentes: - Aquela que a incorporava de forma imediata por suas vantagens e avanços.

- Outra, onde os países exigiam uma garantia prévia de que não haveria risco para a saúde, meio ambiente e sociedade com a sua aceitação.

Nos países pobres, a situação era híbrida, os governos caricatos e submissos aceitavam incondicionalmente o novo, enquanto a cidadania questionava seriamente sobre os impactos negativos, de acordo com sua liberdade e grau de cidadania.

Muitas são as interpretações do porque destas dicotomias e suas variantes. Quem melhor as definiu foi Mao Tse Tung, ao colocar em seu livrinho vermelho: – A tecnologia não é boa ou má. Ela causa impactos e, em uma sociedade desigual, os impactos da tecnologia aumentam a desigualdade-.

Sou ambientalista e, como todos, gosto das coisas claras. No início da década de 80, durante treinamento de resíduos tóxicos em alimentos e ambiente, na Alemanha, aprendi que as bandejas de isopor (styropor) foram proibidas nos supermercados como embalagens de alimentos frescos (carnes, verduras, hortaliças), pois esse polímero contaminava os mesmos, causando danos à saúde (câncer). Recordo-me que, em sala de aula, fazíamos o teste espremendo as cascas de laranja, limão e outros citros para demonstrar como os ácidos contidos nessas frutas dissolvem a parede do styropor. O mesmo se passava com o Tetrapak, considerado altamente poluente ambiental, e com os riscos de Dioxinas, que levaram ao fechamento da Boeringer-Ingelheimer, em Hamburg.

Antes, um país rico ou pobre, impunha sua norma para a permissão de um novo produto, criava barreira para as empresas.

Agora, após a nova Ordem da Rodada Uruguai e criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), os Estados Nacionais não têm esse tipo de poder e as empresas podem comercializar livremente seus produtos, sem as intromissões do mercado e da livre iniciativa. É por isso que todas as sopas, cafés, chás, pratos e bandejas de comidas são servidos em isopor (styropor); as embalagens mais comercializadas são as de Tetrapak e ninguém questiona os agrotóxicos fabricados na China com alto conteúdo de Dioxinas.

A ciência e a imprensa, que alertavam para os danos agora estão mudas. A repercussão dos danos, a exemplo do cigarro sobre a saúde, fica em segundo plano. Não interessa a presença de substâncias que dissolvem o styropor, nem a longa vida do Tetrapak ou os riscos das Dioxinas.

O mundo mudou, mudamos nós e mudou o objetivo primeiro do Estado Nacional. Entretanto, o exemplo da Talidomida não pode ser esquecido, pois, por economia, as empresas pouparam os ensaios nas macacas grávidas. Nos países pobres, hoje, seu uso em mulheres vítimas de hanseníase continua trazendo ao mundo crianças mutiladas.

Nós, ambientalistas, sempre tivemos discernimento das situações, antes e depois da criação da OMC. Mas, agora, temos visto situações inusitadas, amparadas mais na ousadia corrupta que nos impactos das mudanças mencionadas.

Em 1990, chamaram-me para assumir o cargo de Supervisor de Meio Ambiente na Prefeitura Municipal de Porto Alegre (PMPA). Aceitei o desafio, mas não o pagamento, para evitar a promiscuidade e manter a independência e liberdade de ambientalista, em meio a muitos políticos e jovens disfarçados de ambientalistas, para esconder seu desenvolvimentismo periférico enrustido.

Em pouco tempo vimos um sujeito que, por possuir uma carteirinha partidária e dizendo-se inventor, vender para a PMPA um incinerador de lixo urbano, cujo projeto não existia. Era um antigo destilador de cavacos de madeira, que fora transformado e mantinha o efeito bomba . Tentaram calar nossos alertas com arrogância, prepotência e ignorância. Vimos todo um arcabouço de politicagem e corrupção se organizando, para proteção do interesse do inventor. O negócio foi feito e pago antecipadamente, mas não pode ser instalado.

Provocamos uma CPI na Câmara Municipal e, embora o dinheiro não tenha sido devolvido, terminamos a patifaria, pois conhecíamos as passeatas na Alemanha contra a incineração e os relatórios sobre as Dioxinas Cloradas. Caímos fora daquele ambiente.

Agora recebo o convite para assistir o seminário de comerciantes de incineradores, que vai atender a política nacional de resíduos sólidos , organizado por uma entidade ambiental que se transmuta ou ressurge através da venda e serviços de projetos. O mundo, onde se alardeia que pessoas vivem com menos de dois dólares/dia é extremamente pródigo. Que tem dois dólares a ver com viver bem? Nada.

No Fórum Social Mundial assistimos a uma Oficina sobre a Sustentabilidade da Soja na Amazônia, neste mesmo estilo de baixezas e rasteiras. O promotor era um membro da comissão de economia do Conselho de Meio Ambiente e se fazia de ingênuo. Como todo empresário, se preocupava com o seu.

Os governantes precisam complementar suas carências: usam ONGs ambientalistas de aluguel. Logo, as empresas de tecnologia são sabedoras disso e, com habilidade, usam mecanismos de polarização para fazer com que os governos nos países industriais ricos e as elites autoritárias nos países pobres se posicionem favoravelmente aos seus interesses.

O interessante é como enfrentam os governos e seus aparelhos nos países industriais ricos e a sociedade civil organizada nos países pobres.

Na questão dos incineradores, a situação seguiu os mesmos passos dos alemães, escandinavos e europeus.

Em Porto Alegre, os incineradores encontraram uma tradição de trinta anos de combate ao autoritarismo político, luta contra a empresa de celulose e conscientização contra os agrotóxicos, consolidados em um autêntico movimento ambientalista sem par em qualquer outro país, tanto industrial rico ou país pobre.

Em meio à crise internacional de poluição e devastação, e transição na mudança da ordem internacional da guerra fria, essa sociedade civil organizada gaúcha transmutava-se em Estado, governo, meios de informações e escola, quase que instantânea e simultaneamente.

As grandes empresas de tecnologia não esperavam este tipo de estrutura mutante e contavam com a fascinação, estupefação, falta de informações e indução hedonista do consumidor.

Por outro lado, ela contava encontrar obscurantistas, avessos ao progresso, ciência e tecnologia: opositores fáceis de combater. Não encontrou isso no sul do país. Ao contrário, havia uma grande massa crítica acumulada pelo episódio da Borregaard, construção de uma proposta de agricultura alternativa à agricultura industrial e seus insumos poluentes e venenosos.

Nossa estratégia foi observar as mudanças internacionais, desde ascensão de J. PauloII/Tatcher/Reagan, e estudar par e passo a instalação da nova ordem internacional, dando fim à Rodada Tóquio e iniciando a Rodada Uruguai. Vimos às conseqüências: queda do Muro de Berlim e fim da URSS, fim das ditaduras lacaias, fim das inflações de três dígitos, diminuição do Estado nacional e mídia massiva sobre as vantagens do Livre Comércio internacional.

Nossa lógica era não permitir que o tema fosse tratado de forma elitista, por entidades ambientalistas ou congêneres, como planejaram e desejaram as poderosas transnacionais de incineração. Derrotamo-os no governo Collor, impedindo a instalação com dinheiro público de inúmeros incineradores.

A resposta programada seria dada pela sociedade civil organizada, células fortes da sociedade na composição do Estado.

Vencemos as primeiras batalhas com informação de ótima qualidade e atualidade, além de politizada e ciência contextualizada. Mas não imaginávamos que fosse tão fácil, nem que a grande maioria dos opositores, nas universidades e institutos de pesquisas, agisse como segmento de interesse, sem qualidade e atuando como mídia.

É bem verdade que não esperávamos o oportunismo de partidos políticos, interessados em aparelhar a luta como bandeira de sua grei ou corrupção administrativa. Inclusive advertimos o nefasto desta ação.

No início, recebemos como aliados táticos militantes soberbos, desinformados e pouco éticos, que tinham como função apenas aparelhar a luta ambiental pelo partido. Agora é fácil desmascará-los, como foi feito em São Leopoldo na XXIII Reunião das Entidades Ambientalistas, citando Joseph Konrad.

Paga-se a entidade deslocada pelo abandono de seu líder, para que ressurja e promova com dinheiro de parceria público-privada a discussão faz-de-conta para consolidar os interesses segmentários e transformá-los em política pública de incineradores (geradores de TCDD, Dioxinas Halogenadas, benzofuranos halogenados e similares). Isto não é nada honesto, nem inteligente.

Recebi o convite para o evento, que tive que ir retirar no correio. Talvez, um ardil, para evitar minha reação ao evento.

Não irei convalidar, com minha presença, os interesses comerciais deste tipo de gente, mas lembro que o Incinerador de Plasma Alemão, idêntico aos que agora são propostos aqui, como política de governo, estavam autorizados para instalação em Acapulco no México, mas foram eliminados e as alternativas passaram a ser: - educação ambiental; - reciclagem de lixo doméstico e industrial; - apoio à organização dos catadores de lixo (pepenadores), graças a ação dos Guerreiros Verdes da Dra. Elena Kahn, engenheiro agronomo Jairo Restrepo e nossa pessoa.

No livro Ética Ecológica , coordenado por Jorge Riechmann, há um artigo do filósofo H. Acselrad, que diz: – Ante los indicadores de lo que um pensamiento dominante considera el núcleo del problema ambiental – el desperdício de matéria y energia -, empresas y gobiernos tienden a impulsar acciones de la llamada modernización ecológica , destinadas esencialmente a promover uma mayor eficiência y la activación de nuevos mercados. Tratan así de actuar basicamente em el âmbito de la lógica econômica, atribuyendo al mercado la capacidad institucional de resolver la degradación ambiental, economizando el médio ambiente y abriendo mercados a nuevas tecnologias proclamadas limpias. Se celebra el mercado, se consagra el consenso político y se promeve el progreso técnico2 -.

Gostaríamos que houvesse uma discussão decente, diferente sobre as molecagens que estão sendo feitas sobre eucalipto – e os amigos da floresta – ou o Agrinho nas escolas do Rio Grande do Sul.

A questão não é política, nem ordem internacional, é apenas de caráter, competência e honestidade. (Sebastião Pinheiro, Ecoagência, 27/11)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -