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2005-11-28
Nos últimos anos, a Vila Carmelita, da Guatemala, começou a distribuir bolsas de estudo para suas crianças fazerem o secundário numa cidade a cerca de 70 quilômetros, onde elas vivem durante o ano letivo. A vila também pagou para melhorar a estrada de terra que é sua única ligação com o resto do país, e agora está pensando em comprar um ônibus.

Um programa incomum, que junta proteção ambiental e desenvolvimento econômico, é responsável por esses ganhos. Basicamente, o governo guatemalteco dá a 20 comunidades florestais o direito de explorar largas faixas de floresta tropical, desde que o corte seja limitado a um nível em que a floresta possa se regenerar sozinha. Os trabalhadores ganham um reforço na renda desmatando de maneira sustentável.

Numa época de preocupação crescente sobre o desmatamento e seus efeitos na mudança climática do mundo, o exemplo da Guatemala é saudado como modelo para o manejo de florestas tropicais. Mas seu sucesso dependeu muito de subsídios dos Estados Unidos, e orientação e treinamento de grupos ambientalistas internacionais, que estão diminuindo.

Agora, as comunidades da floresta estão sendo levadas a se tornar mais comerciais e a cortar mais tipos de árvores e plantas, mesmo que isso possa prejudicar os esforços de preservação da floresta. Se o programa não puder sobreviver sem grandes subsídios, ele não vai pegar em nenhuma outra parte do mundo em desenvolvimento, onde há falta de dinheiro e experiência.

–Mas há uma sinuca–, diz Roan Balas McNab, da Sociedade para a Conservação da Vida Selvagem, com sede no Zoológico do Bronx, em Nova York. Ele assessora outra cidade, Uaxactún, sobre direitos de corte de madeira. Embora o aumento do corte possa melhorar o padrão de vida dos trabalhadores locais, facilitar o acesso a essas áreas atrai gente interessada em abrir clareiras à base de fogo. –É preciso decidir: desmatar por objetivos ecológicos ou pela madeira–, assinala.

O programa de corte de madeira data do fim da guerra civil na Guatemala, em 1996. A perspectiva de preservação da floresta tropical na região de Petén, no norte do país, era ruim. Tanto pecuaristas como traficantes de drogas tinham interesse em queimar a floresta para transformá-la em pasto, onde o gado se alimentasse e aviões carregados de cocaína pudessem aterrissar. Como alternativa, a Guatemala dividiu cerca de 500 mil hectares de floresta em 13 concessões de exploração cujos administradores têm direito de cortar madeira desde que o façam de maneira sustentável.

Duas concessões foram dadas para madeireiras. As outras, para comunidades locais, que totalizam cerca de 11 mil pessoas, poucas delas escolarizadas ou com experiência em tocar negócios — muito menos sob rígidos padrões ecológicos.

Muitos moradores dessas áreas sangram árvores para extrair o látex de onde sai a goma usada pelos poucos fabricantes de chiclete que ainda não usam alternativas sintéticas, ou colhem plantas para vender a floristas. Um grupo conservacionista sem fins lucrativos foi designado para assessorar cada comunidade; a Agência Norte- Americana para Desenvolvimento Internacional (USAID)financiou o projeto. Essa foi uma experiência inovadora em termos de dar incentivo econômico a comunidades locais para torná-las guardiãs da floresta.

O México já tem terra compartilhada por cooperativas há algum tempo, mas suas comunidades controlam parcelas muito menores que as da Guatemala e poucas se comprometem com o manejo sustentável. NoBrasil, grupos comunitários ganharam concessões no Amazonas, normalmente para coletar látex ou colher castanhas, mas não para cortar madeira.

As concessões na Guatemala começaram em 1997 e algumas logo deram errado. Numa delas, as pessoas redividiram a terra entre si, embora isso fosse proibido por lei. Em outras, ricos pecuaristas ocuparam a terra e o governo não os forçou a devolvê-la. Mas de maneira geral as concessões apontam para o sucesso. Desde 1997, as matas que elas controlam perderam cerca de 1% da cobertura florestal, cerca de um quinto da média de desmatamento no vizinho Parque Nacional Laguna del Tigre, segundo análise da Sociedade de Conservação da Vida Selvagem. Também há menos incêndios florestais nas áreas concedidas do que em qualquer outra de Petén.

Os membros das comunidades continuam pobres, mas a renda deles tem aumentado um pouco, assim como o sentimento do que podem conseguir. Nas concessões, um trabalhador recebe o equivalente a cerca de US$ 10 por dia, quase o dobro da média do que ganham os lavradores em Petén, e algumas vezes têm seguro-saúde e empréstimos. Em Carmelita, a concessão também comprou uma serraria, a fim de vender tábuas cortadas e não só a madeira crua, e instalou uma fábrica experimental de móveis.
–O próximo passo é agregar valor–, diz Carlos Alberto Cersborn, de 23 anos, presidente da concessão com mandato de dois anos. –A cooperativa tem de fazer um trabalho integrado, não apenas cortar madeira. Mas, para se obter ganho, têm sido necessários gordos subsídios–, destaca. Desde 1997, a Usaid já gastou cerca de US$ 8 milhões nas concessões, treinando os trabalhadores e os ajudando a cumprir os padrões ambientais. Em alguns anos, os subsídios dos EUA foram igualados pelo faturamento das comunidades com a atividade madeireira. Atualmente, elas produzem cerca de US$ 4 milhões em madeira.

Agora, os EUA estão tentando peneirar seu suporte e forçar as concessões a sobreviver como empresas. Uma empreiteira da Usaid, a consultoria americana de desenvolvimento Chemonics International Inc., tem pesquisado na região 17 espécies diferentes de madeira, para que as concessões não dependam só de mogno e cedro. A Chemonics está pressionando as concessões a descobrir meios de usar restos de madeira e aprender a fazer produtos acabados mais lucrativos.

Mas não é fácil. –As comunidades não acreditam no trabalho em conjunto–, diz Ángel Rodriguez, engenheiro florestal que já foi líder da concessão florestal de San Andrés. –Há todo tipo de disputa. A Conservação Internacional, um grande grupo ambientalista americano que ajudou a estabelecer as concessões, agora rejeita a idéia. A exploração sustentada nunca funciona–, diz o economista-chefe do grupo, Richard Rice, porque a exploração mais intensiva dá mais lucro. (The Wall Street Journal, 26/11)

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