Preocupação com a água na área rural persiste após desastre químico na China
2005-11-28
A camponesa Liu Shiying largou a cisterna de argila coberta por uma tampa de metal em um canto da sua cozinha pequena e com uma concha retirou uma amostra do que ainda permanecia de água. Fez um gesto retorcido com a boca. –Você acha que tem cheiro?–perguntou. –Ainda estamos bebendo isto, é a nossa única escolha–, acrescentou.
Liu mora em uma aldeia suja dos arredores de Harbin, capital provincial chinesa cujos mananciais de água ficaram por quatro dias interditados, na semana passada, para prevenir a contaminação de um vazamento químico que atingiu as águas do principal manancial da cidade, o Rio Songhua.
Mas no sábado (26/11), quanto os 4 milhões de residentes de Harbin ficaram sabendo que o abastecimento de água irira ser restaurado à noite, moradores de áreas rurais como Liu e em vilas ao lado de Songhua, não tiveram boas notícias. Isolados e acessíveis apenas por estradas tortuosas e sujas, esses moradores dependem de poços subterrâneos ou do rio para abastecerem-se com água. E enquanto a poluição estava passando por ali, muitos deles não tiveram o apoio de carros pipas com água potável do governo, destinado a cidades maiores, como Harbin.
Agentes da área ambiental anunciaram que a mancha de poluição de 50 milhas passou por Harbin no sábado (26/11), abrindo caminho para eles prepararem a restauração do sistema de abastecimento de água. O primeiro-ministro Wen Jiabao chegou a Harbin ao meio-dia para encontrar-se com funcionários e reassegurar aos residentes locais que a situação estaria se normalizando, após eles estarem quase uma semana sem poder se abastecer normalmente.
No final do dia, Wen pediu desculpas à Rússia porque a poluição se espalhará para o rio Songhua, que atinge aquele país. A mancha química deve chegar lá em cerca de duas semanas.
Segundo o secretário do Partido Comunista chinês Du Yuxin, a cidade não recebeu qualquer relatório a respeito de envenenamento ou de problemas de saúde derivados do vazamento. Mr. Du afirmou que os funcionários locais do governo consultaramo Ministério da Construção da China para assegurar que o sistema subterrâneo de água, para abastecer pipas, poderia ser aberto de modo seguro, sem risco de contaminação. Ele previu que o sistema de abastecimento de água poderia ser restabelecido às 23h (horário local) de sábado (26/11). –É uma tarefa urgente assegurar o abastecimento de água–disse Du, acrescentando que –executamos um plano detalhado com relação ás represas de abastecimento de água–.
O problema de poluição teve início no dia 13 de novembro depois que uma explosão em uma planta petroquímica causou o vazamento de 100 toneladas de benzeno e nitrobenzeno no Rio Songhua. A fábrica localiza-se em Jilin City, a mais de 200 milhas acima de Harbin, e a mancha tóxica começou a mover-se firmemente rio abaixo. Mas executivos da fábrica e agentes da cidade de Jilin inicialmente negaram problemas de poluição e esperaram por cerca de uma semana para informar as vizinhanças da Província de Heilongjiang, onde está localizada Harbin.
Agentes do governo em Harbin também inicialmente falharam em informar residentes sobre a ameaça da poluição, anunciando, em vez disto, que o sistema de água poderia ser paralisado para reparos. Contudo, a notícia levantou pânico e rumores, incluindo crescentes especulações sobre a possibilidade de o governo local ter detectado sinais de um terremoto. Agentes de Harbin então responderam com um novo anúncio, desta vez confirmando o vazamento químico.
Postos de monitoramento ambiental colocados ao redor de Harbin detectaram que os níveis de poluição em Songhua caíram quase ao normal no sábado (26/11), enquanto a mancha se movia para fora da cidade. Mas não é certo se o governo tem planos de testes extensivos e esforços de despoluição dos poços que abastecem as aldeias ao lado do rio. Liu informou que o principal poço está em Sifantai, locaalizado a cerca de cem jardas Songhua. Várias aldeias e vilas estão preocupadas com a contaminação.
–Estamos preocupados por estarmos muito perto do rio–, disse Tao Yunzhi, morador da aldeia. –A água poluída atinge os poços–, explicou. Liu afirmou que a água local tornou-se turva nas últimas semanas e ela não sabia dizer o que havia mudado, ou se havia contaminação. Na sexta-feira (25/11), agentes governamentais locais finalmente abriram as tampas dos poços, mas as pessoas continuaram consumindo água que tinham armazenado nas cisternas e em potes. –Ninguém nos enviou água–, esclareceu Tao said. –Vimos na televisão todo o pessoal da cidade recebendo água em suas casas. Quem se importa com a nossa vila?–, questionou. (Fonte: The New York Times, 27/11)