Política interna canadense ameaça encontro sobre mudança climática
2005-11-28
A segunda-feira (28/11) que começa deveria ser uma oportunidade para o Canadá tomar as rédeas de sua liderança internacional ao hospedar a o encontro das Nações Unidas sobre a mudança climática em Montreal, começando uma rodada crítica de negociações para decidir-se como o mundo vai confrontar a questão do aquecimento global nas próximas décadas.
No entanto, o dia de hoje (28/11) é também quando o primeiro-ministro Paul Martin, do Partido Liberal, deverá dar um voto de não-confiança na Câmara dos Comuns. Muitos dos ministros de gabinete e outros membros do Parlamento que deveriam comparecer à conferência irão, ao invés disto, correr para suas campanhas eleitorais.
–É um cenário de pesadelo que os ativistas ambientais ao redor do mundo esperariam evitar–, disse Elizabeth May, diretora-executiva do Sierra Club do Canadá. Referindo-se à ministra do Meio Ambiente do Canadá, Stephane Dion, secretária da conferência e também principal figura política na política do Quebec – May disse que –ela parece ser uma criança distraída–.
Dion viajou por todo o mundo, no ano passado, tentando construir um consenso para políticas de longo prazo visando à redução de emissões de gases de efeito estufa, que os cientistas vinculam ao aquecimento global. A nova rodada de negociações em Montreal deverá forjar um novo acordo internacional visando ao corte de emissões após 2012, quando expira o Protocolo de Kyoto.
O acordo, o primeiro tratado requerendo a participação de países industrializados para reduzir as emissões, começou a ser discutido em fevereiro e é um adendo ao pacto de 1992, que estabelece metas voluntárias.
Mas sem metas vinculadas, segundo os ambientalistas, as emissões de gases estufa da China, da Índia e de outras economias crescentes deverão subir. As chances de acordo com relação aos alvos de emissão após 2012 são vistas como tímidas, mesmo com a baderna política interna do Canadá.
–Não é uma situação ideal, mas mostra que devemos continuar–, afirma Dion. A conferência deverá reunir 10 mil agentes e defensores ambientais de mais de 180 países. Formalmente conhecida como 11ª Conferência das Partes (COP-11), trata-se do encontro anual da Convenção Quadro das nações Unidas sobre Mudança Climática, instituída na Rio 92.
Dion deveria ser líder da continuação das negociações até a próxima conferência anual. Mas caso os liberais percam a votação de janeiro próximo, poderá subir ao poder um ministro do Partido Conservador – que é crítico do Protocolo de Kyoto e favorável à abertura de exploração de petróleo na região de Alberta.
Quando assinou o Protocolo de Kyoto, o Canadá concordou em reduzir suas emissões de dióxido de carbono e de outros gases de efeito estufa em 6% com relação aos níveis de 1990, entre 2008 e 2012. Pelo compromisso original, teria que cortar emissões em 240 milhões de toneladas métricas por ano, mas agora precisa cortá-las em 270 milhões de toneladas métricas anualmente. A produção de petróleo deverá triplicar com respeito aos atuais 1 milhão de barris por dia até 2015 e elevar-se a seis vezes mais até 2030. (NY Times, 27/11)