Projeto da UnB cria portal para as plantas amazônicas
2005-11-28
O Brasil tem muitas pesquisas sobre plantas amazônicas. Faltava juntá-las em um só lugar. É o que pretende o novo portal Flora Amazônica – 500 espécies para exploração não-madeireira. Com mais de duas mil páginas de informações sobre o manejo, cultivo, coleta e uso de 250 plantas (que serão ampliadas para 500 até o fim de 2006), o banco de dados inédito é parte do projeto Non-Wood II (não-madeireiro), uma iniciativa do Laboratório de Tecnologia Química (Lateq) da Universidade de Brasília (UnB).
— É um dos maiores portais informativos do gênero sobre o assunto. É um marco para a pesquisa e para a UnB - afirma Floriano Pastore, coordenador do projeto Non-Wood e professor do Instituto de Química da UnB.
No portal, serão encontradas informações sobre categorias de uso, distribuição, aspectos ecológicos, cultivo e manejo, coleta, processamento e utilização da primeira parte do levantamento. Uma das pesquisadoras da equipe, Graciema Rangel Pinagé, sabe da importância dessas informações para quem trabalha com o manejo sustentável da floresta.
— Para qualquer atividade, madeireira ou não, o conhecimento de informações ecológicas é vital - garante. Esse conhecimento estava inacessível, escondido em teses, publicações e pesquisas de difícil acesso. O portal concentra esses dados.
O projeto Non-Wood II busca incentivar a produção florestal que não dependa da derrubada de árvores. Além do portal, a iniciativa apresentará outros 11 produtos até sua conclusão, em 2006. Entre eles, documentários sobre os produtos não-madeireiros mais relevantes na Amazônia e um livro com 60 espécies de plantas apropriadas para a confecção de cosméticos. A primeira versão do projeto, o Non-Wood I, apresentou um guia de plantas medicinais e um banco de dados de produtos que não derrubavam árvores para sua extração.
Ambos projetos foram financiados pela Organização Internacional para as Madeiras Tropicais (ITTO), ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), que busca a exploração de maneira sustentável dos produtos florestais. A entidade, com sede na cidade de Yokohama, Japão, tem como diretor-executivo um brasileiro, Manoel Sobral Filho, químico formado na UnB.
— Entre os 700 projetos patrocinados pela ITTO ao redor do mundo, este certamente é um dos 10 melhores - atestou Sobral Filho. A organização forneceu mais de US$300 mil para o projeto Non-Wood II.
PRESERVAÇÃO - O extrativismo sustentável busca equilibrar a necessidade de preservação ecológica com os interesses da população que vive dos recursos naturais. Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), o Brasil perde mais de dois milhões de árvores por ano. Ainda segundo o IBAMA, o extrativismo sustentável é um acordo vantajoso para as famílias que vivem disso – cuja renda anual pode chegar a até R$ 5 mil, mais do que a maioria da população da região Norte.
Sobral Filho destacou também que os produtos das plantas amazônicas podem atingir preços ainda maiores que as madeiras.
— Este site será de extrema importância para a divulgação desses produtos e a conseqüente valorização da floresta - afirma. O portal terá também versão em inglês e haverá uma tabela cruzando os nomes das espécies em português, inglês e espanhol, o que facilitará o acesso para usuários de outros países da Bacia Amazônica.
O projeto atraiu atenção internacional. Cinco vereadores de Yokohama vieram ao Brasil acompanhar as atividades da organização sediada em sua cidade. Eles destacaram que 700 projetos ainda são um número pequeno para um programa de tamanha relevância.
O vice-reitor da UnB, Edgar Nobuo Mamiya, disse que a universidade se considera uma das universidades da região amazônica e procura refletir e contribuir, com diversas pesquisas, para solucionar problemas da região. Mamiya espera que os resultados motivem o ITTO e a cidade de Yokohama a manter o apoio às pesquisas da universidade, que segundo ele busca uma internacionalização de suas atividades.
Por enquanto, o acesso ao site Flora Amazônica – 500 espécies para exploração não-madeireira está restrito a pesquisadores, mas até o fim de dezembro deve ser aberto a todos os interessados. O endereço provisório do Flora Amazônica é www.fepad.org.br/floraamazonica/index.htm.
FRENTES DE ATUAÇÃO DO PROJETO NON WOOD
Outra linha de ação do projeto é o levantamento de dados para diagnóstico socioeconômico da região, ainda em fase inicial. Já foi possível constatar, porém, que, apesar do quadro econômico irregular, se o extrativismo for incentivado ajudará tanto na subsistência do morador quanto na proteção da floresta. O professor do Instituto de Química da UnB Floriano Pastore calcula que uma família que vive do extrativismo guarda 400 hectares de floresta, o equivalente a 25 quadras daqui de Brasília. Por outro lado, se o trabalhador não tem do que viver, torna-se um predador e facilmente passa a matar animais e a queimar a mata.
Para difundir o desenvolvimento e a tecnologia dos produtos extraídos da floresta, o projeto Non Wood II também realiza estudos com três produtos típicos locais: o óleo de andiroba, o extrato da semente de cumaru e o óleo de sucuúba. O primeiro atua como repelente e antiinflamatório, o cumaru é usado para aromatizar caixas de charuto e chocolate e o óleo de sucuúba é indicado para o tratamento de úlceras. Como parte desse trabalho, também será produzido um manual para manipuladores de cosméticos, com 60 espécies da flora amazônica. (UnB - Universidade de Brasília, 24/11)